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Conversamos com Natália Falavigna

Natália em vivência no Sesc Santo Amaro para o Sesc Verão 2017<br>Foto: Willian Yamamoto
Natália em vivência no Sesc Santo Amaro para o Sesc Verão 2017
Foto: Willian Yamamoto

A medalhista olímpica e campeã mundial de taekwondo Natália Falavigna esteve no Sesc Santo Amaro para uma vivência durante o Sesc Verão. Com participações nas Olímpiadas de Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres 2012 e no Pan-Americano no Brasil em 2007, a atleta conversou com a gente sobre sua carreira e o futuro da modalidade: “é uma geração talentosíssima”, afirma.

EOnline - Fale sobre o início de sua carreira e os motivos que levaram você à prática do taekwondo.
Natália Falavigna - Eu sempre quis ser atleta. Desde os quatro anos de idade eu falava para minha mãe que eu queria disputar uma Olimpíada e esporte sempre fez parte da minha vida. Com 14 anos eu conheci o taekwondo. Uma amiga minha fazia e me chamou para ver um treino. Na terceira aula, meu primeiro professor falou para que eu continuasse treinando que dali dois anos eu ia ser campeã mundial. Então isso era quase que um incentivo. Ele foi muito paizão e fico feliz em falar isso porque eu sempre procurava alguém que pudesse me dar um incentivo de fazer chegar. Aquelas palavras me marcaram muito. Eu comecei a treinar e dois anos depois eu fui para o mundial, ganhei e aí estava predestinado o que ele tinha falado e deu certa a profecia

EO - Antes de você optar pelo taekwondo, você chegou a praticar outras modalidades?
N. F. - Sim. Pratiquei vôlei, basquete, futebol, handebol, natação e o que você imaginar de esporte, de vivência esportiva, eu tive.  Então correr, subir em árvore, pular em muro, aprender a dar cambalhota, cair, levantar, tudo isso eu fiz. Eu fui uma criança bem arteira, mas isso me deu bastante vivência motora

EO - Nas Olímpiadas de Atenas-2004 você participou após uma fratura no seu pé. Fale um pouco dessa superação e da disposição de você estar participando após essa fratura.
N. F. - Eu acho que na minha vida quanto atleta - e não só eu - acho que todos os atletas olímpicos, quando a gente se propõe a chegar numa olímpiada e a fazer algo grande, é preciso abrir mão de certas coisas e se doar muito para que aquilo aconteça. Então, se tem uma meta, você enxerga uma fotografia e você vai traçando um caminho até aquela foto estar pronta. Acho que foi isso que fiz. Eu enxergava uma foto maior, um sonho maior, o poder da conquista que eu podia ter. Viriam dificuldades pelo caminho, mas eu nunca deixei me abater e isso fez parte. Mais que a história que fica, para mim foi um crescimento pessoal muito grande

EO - Nas olímpiadas de 2012 teve o lance com o árbitro que foi bem polêmico. Como é que foi sua visão naquele momento no calor da luta e após ver novamente? Mudou sua opinião ou foi um erro de interpretação do árbitro?
N. F. - O resultado não muda independente de eu falar que foi certo ou errado, justo ou injusto. O resultado não vai mudar. Então na minha visão sempre tem erros de arbitragem e naquele momento o erro aconteceu comigo. Mas assim é o esporte. Você está lá, está apto, quando você entra pra fazer aquilo, pode ser que aconteça ou não. E na minha carreira sempre coloquei ideia de que seria a responsável pelos meus resultados. Então se eu não conseguir virar a luta, se eu não conseguir virar um resultado, eu sempre me coloquei como a protagonista da história. Então por mais que o árbitro tenha errado ou um ponto tenha acontecido ou não, durante a luta existem vários momentos e várias sequências que vão se alternando. Sempre penso que se eu tivesse sido capaz de fazer o dobro de pontos, esse erro talvez não tivesse um peso tão grande. Então isso faz com que eu encare as vitórias e as derrotas com mais protagonismo, mas também entendendo que é preciso levantar a cabeça e caminhar para frente. Então faz parte do passado. Aconteceu, mas faz parte da minha história e olho para frente

EO - E qual o motivo de você não ter participado da Olimpíada do Rio-2016?
N. F. -
Eu vinha de algumas lesões e no meio do processo olímpico eu teria que ir atrás do ranking e talvez não teria condições de alcançar esse ranking pelos critérios. No meio do caminho a confederação me chamou para trabalhar dentro do processo. Eu era a única atleta que tinha experiência olímpica com três Olimpíadas e até então a única medalhista olímpica. A confederação me chamou porque ela entendia que precisava de alguém para os novos atletas estarem preparados. Foi um desafio diferente, do qual eu pensei bastante, mas ponderei que poderia ser benéfico e acho que depois de um certo tempo você acumula tanto conhecimento que seria muito egoísmo ficar só pra si. Então hoje cheguei num ponto de entender o taekwondo,  a luta, o treinamento e tudo aquilo que eu fiz que ao passar e tentar mostrar para o outro encurtando o caminho dele, eu faça com que ele cometa novos e não os mesmos erros . Eu passo um pouco da minha história para uma nova pessoa e as coisas continuam se perpetuando

EO - Qual que era sua expectativa para a Olímpiadas no Rio de Janeiro e qual o legado que ficou para o esporte?
N. F. -
Como todo brasileiro, eu achava que o Brasil ia fazer uma grande festa. Acho que a Olimpíada levanta um sentimento de patriotismo muito grande. Eu fiquei muito feliz com o posicionamento da torcida brasileira porque alguns atletas tinham mais condições de medalhas, outros não, mas o país como um todo deu um suporte muito grande pelo orgulho de ver atletas competindo pelo Brasil. E como legado fica aí um monte de infraestrutura e de obras feitas e que agora eu espero que tenham recursos humanos e que a gente capacite cada vez mais esses recursos humanos para que dê continuidade e assim a gente consiga estipular e ter uma escola brasileira de treinamento, da educação física e de formar pessoas com mais qualidade de vida ou atletas que vão chegar ao nível olímpico.

EO - Como você vê essa nova geração do taekwondo?
N. F. - Eu acho que é uma geração talentosíssima. Nesse momento a confederação passa por um momento que ela tem que olhar pra si, arrumar a casa, voltar do zero e se organizar do ponto de vista financeiro, do ponto de vista administrativo, do ponto de vista de se imaginar quanto uma empresa e o que ela pretende para o futuro. Talentos têm e a gente precisa explorá-los melhor, dar mais estruturas e cobrar desses talentos. Mas parte do pressuposto de que você faz o dever de casa. Então a confederação precisa fazer o dever de casa para ela realmente ditar e ser um exemplo para que as pessoas façam parte desse projeto, porque as palavras podem ate motivar, mas o que arrasta é o exemplo.

EO - O projeto Sesc Verão tem como proposta sensibilizar as pessoas para a prática de atividades físico-esportivas. Deixe uma mensagem para o público que participa dessa campanha na prática das modalidades.
N. F. -
Eu acho que é uma iniciativa do Sesc que tem de ser realmente dado muito valor. Principalmente o Sesc São Paulo que é pioneiro nisso em trazer o esporte, atletas e as pessoas que são exemplos, que estão em um patamar distante, para uma realidade das crianças e dos jovens e tentar trazer essa mensagem positiva. O legado do esporte fica muito mais do que só uma melhoria de aspectos físicos. As pessoas que passaram pelos esportes, passaram por vivências motoras, entendem toda a disciplina do contexto esportivo, todo o respeito, todas as regras e as leis, que fazem com que a gente procure alguns dos caminhos para que se tenha uma sociedade melhor. É uma iniciativa louvável e sempre que o Sesc me chama eu venho com prazer, porque poder tocar pessoas e plantar uma semente em crianças ou fazer com que essas pessoas entendam que praticar exercícios físicos ela vai ganhar muito mais que esse benefício motor, me faz realizar. Então isso é uma coisa que por mais que eu me doo ao outro, mas quem ganha sou eu.