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Comer é cultura

Foto: Alisson Sbrana
Foto: Alisson Sbrana

A dimensão cultural da alimentação é um dos sete eixos do Experimenta! – Comida, saúde e cultura, projeto que discute o universo da alimentação em todas as unidades do Sesc, durante o mês de outubro. Saiba mais sobre o tema:

O que o ofício das baianas do acarajé e o modo artesanal de fazer queijos em Minas Gerais têm em comum? Ambos são considerados patrimônios imateriais brasileiros, registrados pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e representantes da nossa rica tradição alimentar.

Quando provamos um queijo da Canastra ou experimentamos um acarajé frito na hora, estamos levando à boca muito mais do que ingredientes: estamos saboreando cultura, história, valores do nosso povo, memórias afetivas, saberes ancestrais. Como afirma o historiador italiano Massimo Montanari, “exatamente como a linguagem, a cozinha contém e expressa a cultura de quem a pratica, é depositária das tradições e das identidades de grupo”.

As trocas de hábitos, saberes e sabores entre diversas culturas também enriquecem nossa mesa. A macarronada e o sushi, por exemplo, são preparações feitas com alimentos frescos e introduzidas no Brasil pelos imigrantes que aqui chegaram. No entanto, hoje vivemos um momento em que as culturas alimentares tradicionais, como a brasileira, vêm cedendo espaço para o consumo de alimentos provenientes do fast food e pelos produtos industrializados, principalmente pela conveniência, marketing e pelo sabor atraente. Desta forma, para a manutenção das tradições culinárias locais é importante ficarmos atentos para a substituição da comida de verdade por alimentos como salgadinhos de pacotes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo e ultraprocessados de uma forma geral.

Para o sociólogo Carlos Alberto Dória, especialista em alimentação, comer faz parte da cultura material de um povo e, como todo produto humano, tem sua dimensão simbólica. Dória acredita que, na sociedade globalizada, “as cozinhas nacionais são mais uma reminiscência do que uma realidade palpável. Representam uma unidade que se perdeu e, por isso, tantos tentam restaurá-la”. No Brasil, observamos que, mesmo com a presença crescente de produtos ultraprocessados, ainda conseguimos manter muitas de nossas tradições alimentares, como o clássico arroz e feijão ou a mandioca em suas diversas possibilidades culinárias como o uso no preparo de farinhas, tapioca, pão de queijo, tucupi, escondidinhos, bolos, sopas, etc.

A comida tem um sentido cultural que revela formas sociais de entender o mundo. Até que ponto a permeabilidade da cultura alimentar brasileira vai deixar de lado seus costumes e ingredientes e substituí-los por novas práticas e gostos globalizados?