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Adeus ao Cabra Coutinho

O mito grego das moiras - as três irmãs: Cloto, Táquesis e tropos, que tecem o fio da vida, a trajetória do cineasta Eduardo Coutinho e sua trágica morte nos fazem refletir sobre o papel e a humanidade do homem que reinventou o cinema nacional com o documentário Cabra Marcado para Morrer e alicerçou sua arte dando voz e feições às histórias de pessoas anônimas.

Para homenagear o mais importante documentarista do país, o SescTV exibirá ao longo dessa semana uma programação especial que reúne entrevista, trechos dos filmes e análises sobre a obra do cineasta que fez mais de 20 filmes, deu nova dimensão ao documentário, e reconhecia que, na vida e, consequentemente em seus filmes, a base de tudo é o improviso e estar aberto ao acaso. “O mundo é uma imperfeição absoluta. É um improviso”, disse em entrevista ao Sala de Cinema, talvez a única explicação para o fatídico desfecho de sua vida.

Na segunda-feira (3), às 20h, o SescTV reprisará a entrevista que Coutinho concedeu ao apresentador Miguel de Almeida em que conta o início da carreira no CPC (Centro Popular de Cultura), no Rio de Janeiro em meados de 1960, quando fez produção no filme Cinco Vezes Favela, de Cacá Diegues;  o início das filmagens para Cabra Marcado para Morrer, interrompidas pelo Golpe de 1964 e a retomada após vinte anos; e a forma de conceber seus documentários.

“A minha primeira coisa é a seguinte: quando acaba, a pessoa está melhor do que estava antes porque falou. Daí essa pessoa passa a ser personagem. Segundo a etmologia, personagem é a pessoa que se torna pública. Daí, eu vivo com ela meses, cuidando dela, pensando nela, em que lugar vai entrar, se vai entrar, como eu trataria os seres mais queridos que eu podia ter. Porque aquele personagem eu trato para ver se eu sou fiel, se ele é forte mesmo, se vale à pena. Só penso na pessoa na medida que eu não quero que o filme traga prejuízo material ou simbólico pra pessoa”, pontifica.

Durante o episódio, o cineasta revê os processos de criação dos documentários Santo Forte, Edifício Master, Peões, O Fim e o Princípio, Jogo de Cena e Moscou, do período que trabalhou no Globo Repórter, das escolhas estéticas e do profundo respeito aos entrevistados. “O segredo é parecer que você não está lá para julgar ninguém. O segredo é o cara não saber qual é a resposta correta”, explica.

Na terça (4), às 19h, o canal reprisa Operário de Ontem e Hoje, episódio do programa Contraplano, que reúne o cineasta Ugo Giorgetti e o psicanalista Tales Ab’ Saber às voltas do documentário Peões. Em A Era do Híbrido, que será exibido à 0h da quarta (5), o filósofo Celso Favaretto e o poeta Geraldo Carneiro comentam o documentário Jogo de Cena. Para Carneiro, “o filme nos coloca no lugar em que é inventada a ideia da verdade, ele desmonta o mecanismo da criação. O título é muito feliz nesse sentido – jogo de cena da ficção e da realidade”.

Em dezembro passado, o Cinesesc lançou o documentário Eduardo Coutinho – 7 de Outubro, dirigido por Carlos Nader, em que o cineasta, diante de sua própria equipe, é o entrevistado. O filme fez parte das comemorações dos 50 anos do trabalho do Sesc com os idosos. Também em 2013, ele foi homenageado na Festa Literária de Paraty e sua obra ganhou retrospectiva na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Além da vasta obra, do inédito Sobreviventes da Galileia, fica o grande ensinamento de Coutinho: "O mistério para mim era isso: em todas essas falas documentárias - portanto próximas de uma versão da verdade - nisso há um efeito ficcional extraordinário. E toda verdade narrada é uma ficção que você inventa."

Tributo ao Cineasta

Sala de Cinema: Eduardo Coutinho
Dia: 03/02, às 20h
Classificação Indicativa: 12 anos
Reapresentações: Dias 05/02, às 3h; Dia 07/02, às 16h; Dia 08/02, às 20h; e 09/02; às 16h

Contraplano: O Operário de Ontem e Hoje
Dia: 04/02, às 19h
Classificação Indicativa: 12 anos
Reapresentação: 05/02, às 23h; 09/02, às 19h.

Contraplano: A Era do Híbrido
Dia: 05/02, a 0h
Classificação Indicativa: 14 anos
Reapresentações: 05/02, às 20h e 10/02, à 1h


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Homenagem aos 80 anos do cineasta, o livro reúne dois ensaios e dez entrevistas, além de 39 textos de crítica escritos por Eduardo Coutinho para o Jornal do Brasil entre 1973-74. Na segunda parte do livro, depoimentos de colaboradores de Eduardo Coutinho contam como é filmar com o diretor. A terceira parte forma um conjunto de resenhas de época e mais de uma dezena de textos inéditos sobre a filmografia do diretor de Cabra marcado para morrer, escritos por cineastas e críticos de várias gerações.