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Os Saraus e a Poesia



O poeta Casulo no Sarau da Cooperifa no BiblioSesc (foto: Raul Lorenzeti)

 

Domingo foi dia de poesia na Bienal Internacional do Livro de São Paulo: a Cooperifa e uma homenagem aos 70 anos de Paulo Leminski

O sarau da Cooperifa que tomou conta do BiblioSesc Praça da Palavra, já começa do avesso. Sérgio Vaz incita todo mundo a bater palmas e bradar "povo lindo!", "povo inteligente!" e, quando não é atendido, não perdoa "gente, isso aqui não é festa de rico. Vocês podem até fingir que são ricos, mas são que nem a gente, vamo de novo?" - aí a galera vai na onda bonito, com berros e palmas, acalentando os poetas que mandam brasa nos versos.

Vaz está a frente da Cooperifa desde 2002, quando resolveu colocar a vocação de agitador cultural em paralelo à poesia. Talvez, "paralelo" não seja a melhor palavra: faz da poesia tudo o que se movimenta ao redor da sua atuação. Tem gente de todo jeito, tem gente de toda cor, não tem guitarra de rock n' roll ou batuque de toda fé: o lance é se portar com a palavra, enfrentando o microfone, o público que está ali querendo ouvir as ideias de alguém que está próximo. Vaz já disse que o melhor antídoto ao preconceito é não reproduzi-lo. Colocar a poesia num tom tão vivo, pulsando ali na cara de todo mundo, seguramente faz qualquer estereótipo que diminua ou elitize o poema ir por terra.


Carlos Careqa e Ana Cecília Costa durante o Sarau 70 anos de Paulo Leminski

Carlos Careqa e Ana Cecília Costa durante o Sarau 70 anos de Paulo Leminski


Paulo Leminski (1944-1989), que completaria 70 anos hoje, 24/8, teve uma atuação plural quando o assunto era a palavra. Fosse em romances, traduções, biografias ou canções, Leminski estava se mexendo, chacoalhando o mundo a sua volta. Branco e de curitiba, Leminski se distancia geograficamente e fenotipicamente de Vaz (além da cor da pele, Paulo era um tanto mais alto que Sérgio). Todavia, a manipulação que faz da palavra, sequestrando o ritmo enquanto conta uma narrativa que se cria na página, aproxima ambos naquilo que a Cooperifa põe a prova, o lance é se portar com a palavra, "a liberdade da minha linguagem", como o grandalhão do Paraná dizia.

Leminski estourou no Brasil (de novo, mas agora em termos comerciais) com a edição de "Toda Poesia" (Companhia das Letras), reunindo todas as suas obras em verso. Elias Andreatto, Ana Cecília Costa, Leonardo Miggiorin e Carlos Careqa se municiaram no volume e fizeram um sarau a sua moda, no Anfiteatro, na Bienal do Livro, homenageando o aniversário do poeta.

Cada um pode nominar o seu poema predileto de Vaz ou Leminski. A gente deixa aqui algumas sugestões de leitura para quem entende ou quer aprender que a poesia é "a fala do infalável", como Goethe diria.

"No caminho do crer e não crer
Vivo na dúvida do milagre
Entre as brumas da uva e do vinho
Sou eu quem destila o vinagre.

Caminho no chão em busca do céu
Num fogo e água que não tem fim

Porque
Não me esforço para acreditar em Deus
Esforço-me para que Deus acredite em mim."

Sérgio Vaz


"O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz."

Paulo Leminski

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