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Linguagem: entre o céu e o inferno

Da esquerda para direita: João Anzanello Carrascoza, Ricadro Lísias e Evandro Affonso Ferreira
Da esquerda para direita: João Anzanello Carrascoza, Ricadro Lísias e Evandro Affonso Ferreira

A reinvenção da linguagem na literatura é um tema presente nos movimentos literários e sempre foi um assunto muito discutido entre os escritores. Mas ainda é possível reinventar a linguagem? Isso ainda é uma meta entre os criadores contemporâneos? Esse foi o assunto da mesa "A Reinvenção da Linguagem", com os escritores João Anzanello Carrascoza, Ricardo Lísias e Evandro Affonso Ferreira, com mediação do crítico de literatura Manuel da Costa Pinto.

Ferreira começou o bate-papo dizendo que tudo que é relativo ao uso da linguagem já foi criado: “Eu fico copiando autores nacionais e estrangeiros, uso o que já foi criado. A minha preocupação é com a palavra. Eu acredito na reinvenção da palavra, de resto acho que tudo já foi feito”. Ricardo Lísias concordou com ele: “Acho que o Evandro tem razão, eu sempre estou em uma luta constante com a linguagem, ou até mesmo contra a linguagem. Sempre lutamos contra as ambiguidades da linguagem e com o que acaba por não ser dito. Em reinvenção eu não acredito, mas na luta constante com a linguagem sim”. Para Carrascoza, a melhor linguagem seria o silêncio: “O silêncio seria a linguagem perfeita. Temos uma luta constante com as palavras, para tentar dizer o que a gente pensa, o que já é muito limitante. A minha preocupação é tentar trabalhar com as palavras, nós trabalhamos dentro dos nossos limites, mas a reinvenção da linguagem é algo muito poderoso, muito difícil”.

Evandro e Carrascoza vieram da publicidade e ressaltaram as diferenças entre aquele mundo e a literatura. “A linguagem para a publicidade precisa ser mais fácil, precisa causar uma certa surpresa no público, seguir um padrão. Já na literatura é uma demanda mais íntima do escritor”, conta Carrascoza.

Outro assunto discutido foi a relação entre realidade e ficção nas obras literárias. Os escritores citaram situações em que foram questionados sobre acontecimentos em suas obras literárias que foram entendidos como situações de suas vidas. Concordaram que fatos reais podem ser utilizados em uma obra de ficção, mas que nem por isso a obra se torna uma autobiografia.

Para fechar a discussão, Ferreira deu uma dica que considera fundamental: “Quando for escrever lembre-se sempre da ‘Divina Comédia’. Escreva e coloque na gaveta do purgatório. Daqui um mês você decide se o texto vai para o paraíso ou para o inferno”.

 

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