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Você sabe quem foi Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento?

Poéticas da Resistência, no Sesc Belenzinho, traz uma programação especial em torno das comemorações do centenário das importantes figuras para o movimento negro no Brasil: Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento

Ela, uma mulher negra, da favela, catadora de papel e ferro velho, que estudou apenas dois anos. Nasceu em Minas, mas viveu a maior parte de sua vida na favela do Canindé, em São Paulo. Embora tivesse pouca escolaridade, sempre se interessou pela leitura e pela escrita, tanto que registrou em diversos diários o cotidiano difícil de pobreza que regia seus dias, bem como a humilhação social e moral.

Graças ao curioso jornalista Audálio Dantas, Carolina foi descoberta. E quando leu seus textos não ficou indiferente. “Ninguém podia melhor do que a negra Carolina escrever histórias tão negras. Nem escritor transfigurador poderia arrancar tanta beleza triste daquela miséria toda. Nem repórter de exatidão poderia retratar tudo aquilo no seco escrever. Foi por isso que eu disse assim para Carolina Maria de Jesus, lá mesmo, na horinha que lia trechos de seu diário: 'Eu prometo que tudo isto que você escreveu sairá num livro'", disse Audálio.  E o livro saiu mesmo. Quarto de Despejo. Diário de uma favelada foi publicado em 1960 e foi também o início de uma carreira breve e intensa.

Ele, Abdias Nascimento, um dramaturgo, escritor, ator, e ativista. Diferente de Carolina, conseguiu diplomar em contabilidade e economia e em 1930 já estava envolvido na luta contra a segregação racial engajando-se na Frente Negra Brasileira. Fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro, escrevendo e produzindo peças que abordavam a temática racial. Em 1983 foi eleito deputado federal, o primeiro afro-brasileiro a fazer parte do Congresso.

Qual a coincidência entre os dois? Além de terem nascido no mesmo dia 14 de março de 1914, foram figuras importantes para o movimento negro no Brasil. Pensando nas coincidências e também naquilo que os distingue, o Sesc Belenzinho realiza o projeto Poéticas da Resistência: Centenário Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento e a partir do 18 de novembro você poderá conhecer melhor essas grandes figuras através dos encontros com bate-papos, oficinas e exibição de filmes na programação que faz tributo ao centenário.

A programação tem início com a exibição do curta-metragem Carolina, do diretor Jeferson De, seguida de um bate-papo sobre os homenageados, com a presença do pesquisador e professor da USP José Carlos Sebe Bom Meihy, da atriz do coletivo de teatro Os Crespos, Lucélia Sérgio, e do escritor e pesquisador em literatura, Oswaldo de Camargo. A mediação será de Douglas Belchior.

No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, será exibido o documentário em longa-metragem Abdias Nascimento – Memória Negra, do diretor Antonio Olavo, que trata da trajetória militante de Abdias. Fora da programação especial, mas dentro da temática negra, neste mesmo dia será projetado o longa Libertem Angela Davis!, sobre a militante comunista e dos Panteras Negras. 

O historiador e escritor Allan da Rosa é o responsável pela condução de duas oficinas de escrita que tomam como base textos dos dois autores: Cartas para Carolina: Chão, Teto e Página e Cartas para Abdias, nos dias 22 e 29 de novembro, respectivamente. Já no dia 11 de dezembro, o coletivo Mesquiteiros conduzirá um sarau com microfone aberto aos frequentadores focado em textos inspirados nas produções de Carolina e Abdias.

José Carlos Sebe, atualmente coordenador do NEHO (Núcleo de História Oral da USP), publicou livro e artigos sobre a obra de Carolina Maria de Jesus e tem se empenhado na divulgação de sua obra. Sebe é um dos convidados para o bate-papo que rola no Belenzinho dia 18, e em conversa com a Eonline falou sobre o contexto histórico do surgimento de Carolina. Dê o play e veja uma prévia do que te espera: