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O Papel Social da TV

“O papel da televisão brasileira deveria ser o de proporcionar um espaço de reflexão”. As palavras da socióloga e cineasta brasileira Isa Grinspum Ferraz fazem ecoar questões latentes sobre a televisão no Brasil. Para ela, o audiovisual pode ser um grande aliado da educação e da cultura, ao fazer pensar temas complexos de maneira simples e acessível. A filósofa e artista plástica Marcia Tiburi também defende esse pensamento e acrescenta que há muita gente boa que tem muito a dizer, mas não aparece na TV aberta, principalmente, por não serem mainstream, ou seja, por não serem conhecidas do público.

Esta discussão permeou o encontro Processos Criativos em Televisão, no último dia 24 de setembro, no CineSesc. O evento marcou o lançamento de seis novas séries que passam a integrar a grade de programação do SescTV. O canal cultural é mantido pelo Sesc em São Paulo e “se integra às ações do Sesc no processo de construção permanente pautado pela multiplicidade e pelo encontro com as diferenças e com as novas possibilidades de interferência com a realidade”, segundo Danilo Santos de Miranda, diretor regional da instituição. O bate-papo contou com a participação dos diretores de todas as séries e teve mediação de Marcia Tiburi.


 

Sobre as séries

Isa Grinspum Ferraz é diretora da série Galáxias – Olhares sobre o Brasil, que discute, através de depoimentos de personalidades, o contemporâneo do país e suas perspectivas de futuro. Entre os entrevistados de Galáxias estão os antropólogos Eduardo Viveiros de Castro e Antônio Risério, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, o músico e ensaísta José Miguel Wisik, e o rapper Emicida.

Outra série inédita é Super Libris, que traz diferentes abordagens sobre o universo do livro e da leitura. Para o diretor José Roberto Torero, o processo de produção foi longo, extremamente trabalhoso, mas muito divertido, por se tratar de um tema com o qual sempre quis trabalhar: a literatura. “O processo foi fantástico e espero que seja assim também para os espectadores. A possibilidade de trabalhar em uma produção do SescTV nos deu mais liberdade e a chance de arriscar em um programa com um formato mais dinâmico, mais do que na TV aberta”, comentou.

Com igual liberdade, o diretor Kiko Goifman foi às ruas no desafio de discutir os variados laços e posturas éticas estabelecidos em diversos grupos sociais. Ele conta que a pesquisa foi parte essencial do seu trabalho na realização da série Estilhaços, na qual apresenta uma reflexão criativa sobre a ideia de ética, inteligência e comunicação no mundo contemporâneo, a partir de depoimentos de pessoas de diferentes perfis e profissões. “É muito difícil pesquisar nas ruas. Às vezes, o sentido está em um detalhe”, revelou o diretor.

Os documentaristas Paulo Markun e Sergio Roizenbllit apresentaram os novos episódios de Arquiteturas, que aborda o pensamento arquitetônico e urbanístico e as relações entre o homem e os espaços públicos em diversas cidades brasileiras. Segundo Markun, o objetivo da série é “descobrir como as pessoas constroem seus espaços” e ainda, “sair às ruas e ver o que está acontecendo”. Roizenblit observa que “as pessoas estão voltando para as ruas” e que há uma inversão do processo. “A população propõe o uso dos espaços e agora o Estado tem de se adaptar”, conclui. O diretor ainda apontou uma mudança do fazer televisão que, para ele, pode ser muito positiva. “O fazer TV está mudando tanto e tão rápido que o que importa agora é o conteúdo e não o formato ou a plataforma. Principalmente no caso do vídeo on demand, onde os conteúdos ultrapassam as barreiras de uma plataforma tradicional e encontram alternativas para ganhar o mundo”.

A opinião de Roizenblit é compartilhada pelos outros diretores, como Marco Altberg, presidente da ABPITV – Associação Brasileira de Produtores Independentes de Televisão, e responsável pela série Índios em Movimento. Com oito episódios, o especial aborda questões históricas, sociais, culturais, políticas e ambientais dos povos indígenas, além de discutir sobre a produção cinematográfica dessa temática, através de filmes emblemáticos. Para Altberg, “a série não é apenas sobre índios para índios, mas para todos. Ela tem a missão de levar as questões indígenas a um público maior. Por isso, foi muito importante o SescTV ter abraçado essa ideia e dado espaço à produção”.

Outro diretor presente no evento foi Esmir Filho, que concebeu juntamente com a apresentadora Marcia Tiburi a série Filosofia Pop. O programa faz uma reflexão crítica, por meio de um bate-papo sobre temáticas que estabelecem diálogos entre a filosofia e a vida cotidiana. Para Esmir, “o mais interessante do processo foi que, através de todas as discussões propostas pelo programa, todos puderam aprender um pouco. Da apresentadora e seus convidados, ao público que acompanhou as gravações e à equipe técnica. Todos ficaram muito envolvidos pelas conversas”. O diretor ainda comentou sobre a escolha e a importância dos espaços escolhidos para a gravação. “Desde o início, pensamos em um formato diferente para um programa de filosofia. Então, fomos para fora do estúdio, porque as pessoas estão lá fora. Fizemos uma ocupação de espaços, explorando as potencialidades de cada local, de acordo com o tema dos episódios, como Deus - que foi gravado nos escombros de uma cozinha do Sesc Interlagos -, e Família - gravado em uma oficina de cerâmica no Sesc Pompeia, entre outros”.
 

As seis novas séries apresentadas pelo SescTV abarcam áreas do conhecimento humano como a arquitetura, a literatura, a filosofia, a ética, a etnologia e a sociologia, e propõem aos telespectadores apreciar, pensar, discutir e dialogar. São temáticas atemporais que, segundo seus diretores, dificilmente encontram espaço na TV aberta. Temas que precisam ser explorados principalmente em tempos atuais, quando a maneira de se fazer televisão está sendo rediscutida, diante das novas tecnologias e do acesso aos novos conteúdos pelo público. Nesse sentido, Marcia Tiburi foi enfática na mediação da conversa entre os diretores: “o negócio subversivo é fazer televisão, é ocupar a televisão e trazê-la para nós”.

 

Confira as datas de estreia e horários das séries.
 

GALÁXIAS – OLHARES SOBRE O BRASIL
Direção: Isa Grinspum Ferraz
Episódios: 12 de 26 min.
Data de estreia: 26 de agosto
Horários: Quartas, 21h.

SUPER LIBRIS
Direção: José Roberto Torero
Episódios: 52 de 26 min.
Data de estreia: 28 de setembro
Horários: Segundas, 21h.

ARQUITETURAS – SEGUNDA TEMPORADA
Direção: Paulo Markun e Sérgio Roizenblit
Episódios: 26 de 26 min.
Data de estreia: 31 de outubro
Horários: Sábados, 21h.

FILOSOFIA POP
Direção: Esmir Filho
Episódios: 13 de 52 min.
Data de estreia: 22 de novembro
Horários: Domingos, 20h.

ESTILHAÇOS
Direção: Kiko Goifman
Episódios: 52 de 26 min.
Data de estreia: 3 de dezembro
Horários: Quintas, 22h.

ÍNDIOS EM MOVIMENTO
Direção: Marco Altberg
Episódios: 8 de 20 min.
Exibição: 13 a 20 de dezembro
Horário: 21h.

 

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