Sesc SP

Matérias do mês

Postado em

Empodere-se, mulher!

Ilustrações feitas por Evelyn Negahamburguer durante o encontro.
Ilustrações feitas por Evelyn Negahamburguer durante o encontro.

Por Carol Vidal*

No dia 29 de outubro, durante o programa "Diálogos da Cidadania" do Sesc Itaquera, houve um rico debate sobre corpos femininos, empoderamento e padrões de beleza. A E-Online aproveitou a ocasião para levantar a questão do feminismo.

O que é o programa Diálogos da Cidadania?

A técnica de programação do Sesc Itaquera, Ane Rocha, explica:
O “Diálogos da Cidadania: Direitos Humanos em Debate” é um projeto elaborado pela Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania em parceria com o Sesc Itaquera e apoio do Centro de Profissionalização de Adolescentes - CPA Pe. Bello, de São Mateus, e CRAS Cidade Líder. Existe no Sesc Itaquera desde 2009.  

Trata-se de uma série de discussões mensais com convidados(as) que aborda conceitos e apresenta casos concretos para debate e reflexão sobre os direitos humanos e a luta pela cidadania no Estado de São Paulo. O público é formado por jovens entre 14 e 20 anos e recebemos mensalmente uma média de 70 pessoas.

O programa tem como objetivo estimular a participação e a organização social de modo a contribuir para a construção de uma cultura política pautada no respeito aos direitos humanos, no incentivo à participação popular, no enfrentamento das desigualdades sociais e no combate aos preconceitos.

Em 2015, foram abordados os seguintes temas: religiosidade e cultura de paz; diversidade sexual e movimentos políticos; ocupação dos espaços públicos; papel da mídia na discussão sobre a redução da maioridade penal; drogas: muito além da (des)criminalização; criminalização dos/as jovens da periferia e corpos femininos, empoderamento e padrões de beleza, 
tema abordado em outubro, que contou com a participação das seguintes convidadas:

Elânia Francisca
Integrante do coletivo “Mulheres da Luta” que organizou o grafitaço feminista, como resposta ao “Top 10” (ação depreciativa onde garotos expuseram imagens e intimidades de meninas nas redes sociais - causou dois suicídios de jovens no bairro do Grajau, São Paulo, SP). Atua junto à área da educação e saúde.

Fernanda Kalianny Martins Sousa
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, na Universidade de São Paulo. É pesquisadora do Núcleo dos Marcadores Sociais da diferença (NUMAS-FFLCH-USP), desenvolvendo pesquisa na área dos marcadores sociais da diferença, tais como raça, gênero e sexualidade. Feminista e colunista da revista Capitolina (revista online independente para garotas adolescentes).

Lívia Lima
Jornalista do coletivo “Nós, Mulheres da Periferia” e moradora de Arthur Alvim, zona leste de São Paulo.

Evelyn Negahamburguer
Realiza um trabalho de denúncia das situações de opressão e preconceito sofrido por mulheres, principalmente, fora dos padrões estéticos de corpo. Padrões frequentemente reproduzidos pela grande mídia e normatizados pela sociedade, mas que provocam situações de conflito psicológico, desconforto e até mesmo segregação. Durante o encontro, realizou uma intervenção de arte urbana por meio de aquarelas e lambe-lambes sobre os temas abordados.

Instituições recebidas: CPA Padre Bello e CRAS Cidade Líder.

Neste encontro a participação dos(as) jovens foi intensa, e assuntos como assédio às mulheres nos ambientes públicos; duplo padrão de moralidade (um para os meninos e outro para as meninas); desigualdade na divisão das tarefas domésticas entre mulheres e homens; aprendizados sociais sobre ser homem e ser mulher (como desde o nosso nascimento somos “ensinados(as)” com relação ao comportamento esperado para uma menina ou um menino), foram amplamente discutidos pelos(as) participantes. As(os) jovens puderam se colocar, contar situações que vivem ou viveram e debater com jovens mulheres que estão na luta por um mundo menos sexista, segregador e violento.

Enquanto o debate acontecia, Evelyn Queiróz produziu aquarelas sobre os temas abordados. Ao final do evento, cada instituição participante levou uma das obras para expor em seus serviços, como uma lembrança da tarde de debates e para lembrar a todos(as) sobre as desigualdades que ainda vivenciamos.

Veja um trecho do debate no vídeo abaixo:

Mas afinal o que é feminismo?

A imagem abaixo, criada por Mariana Tramontina (texto) e Mariana Romani (desgin) para o site UOL, viralizou nas redes e facilita o entendimento de alguns conceitos.

Na 1ª edição da revista "Fala Guerreira" do Coletivo Rosas, Daniela Regina escreve em seu artigo "Para as Guerreiras de Todas as Quebradas":

Queria falar sobre feminismo com vocês. Eu sei que essa palavra é um pouco estranha e parece uma guerra contra os homens. Mas não é! Também não existe um só tipo de feminismo. Às vezes você é feminista e nem tá sabendo! Vou fazer algumas perguntas para pensarmos juntas nesse feminismo:

• Você gostaria de ter uma vida mais tranquila, onde você possa dividir as tarefas domésticas com todos da família, inclusive com seu companheiro que não toca na pia da cozinha?

• Você gostaria que sua filha não fosse abusada sexualmente por algum homem?

• Você gostaria de poder se separar do seu marido quando ele te bate e não ter medo disso?

• Você gostaria de andar tranquilamente na rua sem ouvir um “ei, gostosa” de homens que têm idade para ser seu pai ou de qualquer desconhecido?

• Você gostaria que o pai dos seus filhos pudesse trocar o mesmo tanto de fraldas que você?

• Você gostaria de não ser chamada de “puta” ou “vagabunda” só porque sua roupa é curta ou porque você é livre sexualmente?

• Você gostaria de poder ter amigos homens e nem por isso significar que você “tá querendo” ou que você quer ficar com ele?

• Você gostaria de pensar mais em você e escolher o que realmente quer sem ter um homem dizendo o que você pode ou não?

• Você gostaria de ser mais cuidada pelo seu companheiro?

• Você gostaria de não ter que seguir tantas dietas e ser feliz com sua própria beleza?


Terminamos o texto com essas perguntas, não precisa responder todas, mas pense sobre elas e reflita. Você pode perceber que o feminismo não está tão distante de nós e de nossa realidade.

 

____________________________________________________________________________

Carol Vidal é editora web do Sesc Itaquera - feminista, musicista, e atuante na área de comunicação há 8 anos, estudou Letras (UFSC), Cinema (Wayne State University - Detroit, EUA), Marketing (FGV) e Design Gráfico (Senac). Em 2007, escreveu a monografia "Sensualidade Feminina no Cinema Noir: aspectos narrativos e visuais na representação ambivalente da 'femme fatale' nos filmes Double Indemnity e The Postman Always Rings Twice" que aborda cinema noir, literatura, representação feminina e estudos de gênero.