Sesc SP

postado em 29/06/2014

O inexplicável de Vera

 vera

      


Por Cris Lisboa e Marília Pozzobom*

 

“O diretor de arte é o responsável pela criação e realização do universo visual e espacial de um filme”. É assim que Vera Hamburger define sua profissão. Com calma, em uma frase que já parece gasta pelo uso. O que ela quer dizer é que o seu trabalho é criar cenários, escolher cores, móveis e objetos a serem usados em cena. Ou inventar mundos – como você quiser. 

O desafio de fazer-se compreender parece servir como combustível para o seu trabalho. Ela, que trabalhou em grandes filmes como Salve geral, Carandiru e Deus é brasileiro, usou a dúvida como fomento para escrever o seu projeto de pesquisa, hoje transformado no livro Arte em cena: a direção de arte no cinema brasileiro, lançado pelas Edições Sesc São Paulo. A obra, de 420 páginas, possui mais de setecentas imagens, entre desenhos e fotos, sobre a estruturação da profissão no país.

Além de ser pioneira na escolha do ofício, que elegeu em meados dos anos 1980 – curiosamente, mesma década em que a profissão foi reconhecida no Brasil –, Vera também foi a primeira a materializar um documento compacto e definitivo sobre o assunto no país. Mas sem rótulos, por favor: “Eu queria buscar os parâmetros para sermos mais respeitados. Para termos um espaço mais definido”, diz, explicando a sua arte quase incompreendida. “O problema de espaços, quando eles não são definidos, é que havia muitas brigas. Mas o meio artístico não tem que ser fechado por regras”, completa. E ainda defende que limites existem para permear tarefas, não para etiquetar uma arte tão delicada.

A mesma crença vale para a sua linguagem. Dentro de cena, a diretora de arte pensa em objetos capazes de provocar, e não de significar. Assim o espectador faz a sua interpretação, baseada em suas referências, do que o objeto em cena expressa. Ou seja: o que é para um, pode não ser para outro. “Alguns manuais americanos pensam diferente. Para eles, pra falar de amor você usa rosa e bordô”, conta.

Assim como a sua felicidade, que é solta em risadas longas, o seu conhecimento não fica fechado dentro de si. Hoje, além de trabalhar no cinema, teatro e eventos, Vera pesquisa para colocar em prática a sua dissertação de mestrado. O tema não poderia ser mais de acordo: a construção de uma metodologia de ensino de direção de arte. Porque agora, Vera também quer ser professora. Quem sabe pra ensinar que tem coisa que não se explica.

 


* Cris Lisboa e Marília Pozzobom são jornalistas e parceiras em projetos de conteúdo (ambas com matérias publicadas em revistas como a Rolling Stone, Trip e Noize).

>

Produtos relacionados