Sesc SP

postado em 27/03/2015

Baré: povo do rio

Foto: Pisco Del Gaiso
Foto: Pisco Del Gaiso

      


Baré: povo do rio apresenta depoimentos de dois líderes baré que construíram seus conhecimentos nas assembleias indígenas e na luta por terra, educação, saúde e cultura

 

Buscando discutir a questão da identidade do povo baré, um dos primeiros grupos indígenas brasileiros afetados pelo contato com os colonizadores europeus, as Edições Sesc São Paulo lançam o livro Baré: povo do rio, organizado por Marina Herrero e Ulysses Fernandes. O lançamento acontece no dia 31 de março (terça-feira), às 19h, na Choperia do Sesc Pompeia, em evento especial que inclui exibição de documentário homônimo produzido pelo Sesc TV, além de bate-papo entre os líderes baré Braz França e Marivelton Barroso e o antropólogo e etnólogo Eduardo Viveiros de Castro. Ao final do evento acontecerá uma sessão de autógrafos com os principais autores do livro.

A história do povo baré, que originalmente ocupava um território de mais de 165 mil km2, foi marcada pela violência e pela exploração do trabalho extrativista. Gradativamente, o grupo viu sua língua vernacular (ariak) ser substituída pelo nheengatu, utilizado, na época da colonização do Brasil, pelos jesuítas para uniformizar a comunicação entre eles e as tribos da região do Rio Negro, e também pela língua portuguesa. Aos poucos as crenças, costumes e tradições dos baré foram igualmente adaptados ao modelo português. O povo que até 1990 era considerado extinto no Brasil, tornou-se hoje a décima população indígena do país e vive próximo aos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, região com uma forte desestruturação social e que sofre com a recente invasão de garimpeiros.

Com o objetivo de registrar e divulgar a cultura do povo baré, o projeto das Edições Sesc São Paulo se propõe a discutir sua identidade, suas memórias, histórias, costumes e experiências, bem como apresentar análises com viés acadêmico, pesquisas arqueológicas e depoimentos sobre suas lutas e conquistas.

O prefácio assinado pelo antropólogo e etnólogo americanista Eduardo Viveiros de Castro aborda a principal problemática identitária vivida pelos baré até muito recentemente, envolvendo o seu não reconhecimento como índios e tampouco como brancos: “eles não são mais índios sem serem por isso não índios, isto é, brancos. Não são nada. São o que mais convém ao outro dizer o que eles são. (...) Como sobreviver a tal metódico etnocídio, melhor, como ressurgir a partir dele, como refazer um povo? Como recuperar a memória e reinventar um lugar no interior do estranho, do estreito e instável intervalo entre “índios” e “não índios” que ora se abre, ora se fecha para os povos nativos do continente? Os baré são uma das respostas em ato, hoje, a essas perguntas”.

 

“Eu não sou baré, eu sou baré? É disso que trata o livro, cujos autores devolvem o uso do carimbo identitário aos próprios baré.”

José R. Bessa Freire

 

De fato, a tradição e a história da etnia baré foram preservadas graças à transmissão oral das narrativas míticas, ensinamentos e rituais sagrados “que não possuem comprovação registrada em livros ou cartórios”, conforme escreve o líder histórico Braz França Baré, ex-presidente da FOIRN (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro). Seu texto é corroborado pela descrição do jovem Marivelton Barroso Baré, atual diretor da FOIRN, que elenca “Encantados” como o Curupira, além de danças e rituais, histórias e a culinária que aprendeu com “os baré mais velhos” como exemplos da cultura oral desta etnia.


O livro avança com o texto de Eduardo Góes Neves, especialista em arqueologia da Amazônia da Universidade de São Paulo, que expõe a história antiga ou pré-história dos grupos indígenas da região. Em seguida, Paulo Maia Figueiredo, antropólogo e professor na Universidade Federal de Minas Gerais que viveu alguns anos entre os baré para estudar sua cultura e rituais, analisa a história recente e o xamanismo entre esses índios. O escritor e ensaísta argentino Guillermo David, por sua vez, apresenta uma crônica sobre os modos de existência baré, na qual observa o cotidiano dos baré com quem conviveu, e reflete sobre os paradoxos da indianidade no mundo atual e os modos especificamente baré de se relacionar com outras sociedades.

O posfácio fica a cargo de Beto Ricardo, antropólogo e coordenador do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental – ISA, que aborda as lutas e conquistas do movimento indígena do rio Negro. Todos os textos são ilustrados com imagens registradas pelo renomado fotógrafo Pisco del Gaiso, que tem em seu currículo um vasto trabalho dedicado às populações indígenas e ribeirinhas.
 

“A iniciativa do Sesc junto aos baré busca sedimentar a capacidade de resistência desse povo, no intuito de reinventar-se social e culturalmente em contraposição aos preconceitos gerados ao seu redor, um caminho de reconstrução identitária em que a compreensão de si mesmo se faz urgente, mas a percepção do outro não pode ser ignorada.”

Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.

 

SERVIÇOS:

o que:

Lançamento - Baré: povo do rio

onde:

Choperia do Sesc Pompeia

quando:

24/03. Terça-feira, às 19h

quanto:

Grátis. Retirada de ingressos a partir das 18h, na bilheteria do Sesc Pompeia

 

Veja também:

:: Resenha | Identidade resgatada - Por Maurício Fonseca

:: Trechos do livro | Clique na imagem para ampliá-la. Após a leitura, pressione a tecla ESC para retornar ao site.

 

 

 

:: Documentário Baré: o povo do rio




Baré, povo do rio foi selecionado pela TAL - Televisión América Latina concorrendo às categorias de Melhor Documentário Unitário e Relevância Social, em premiação criada para favorecer a difusão de conteúdo cultural e educativo na América Latina.

Você também pode votar direto no link abaixo para colaborar na votação popular. Participe e venha refletir sobre as contribuições da cultura indígena na formação brasileira, bem como a preservação de seu patrimônio imaterial.


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