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postado em 06/05/2015

Sobre a arte brasileira: da pré-história ao anos 1960

Oscar Rodolfo Bernardelli. Faceira, 1880 (E) Estatueta antropomorfa de cerâmica da cultura tapa (D)
Oscar Rodolfo Bernardelli. Faceira, 1880 (E) Estatueta antropomorfa de cerâmica da cultura tapa (D)

      


Livro apresenta um dos mais completos panoramas da arte produzida no Brasil reunidos em uma única publicação

 

Organizado por Fabiana Werneck Barcinski e publicado pelas Edições Sesc São Paulo e pela Editora WMF Martins Fontes, o livro Sobre a arte brasileira: da Pré-história aos anos 1960 apresenta um dos mais completos panoramas da arte produzida no Brasil reunidos em uma única publicação. Ao longo de 368 páginas, 11 especialistas entre historiadores, sociólogos e arqueólogos desenvolvem uma minuciosa análise histórica dos principais movimentos, tendências e produções realizadas no Brasil desde a Pré-história até o final da década de 1960, convidando o leitor a uma reflexão sobre a importância do patrimônio cultural brasileiro e sua difusão. O livro será lançado dia 13 de maio, quarta-feira, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.

Buscando aproximar o público da formação da expressão artística no Brasil até o seu amadurecimento, a coletânea de dez artigos está organizada em ordem cronológica e tem início com uma reflexão do professor e pesquisador Francisco Alambert sobre a complexidade da tarefa de se estabelecer uma história da arte no Brasil. Ao considerar que a “arte” brasileira é um mistério para nós tanto quanto o é para o mundo, o autor defende que essa história deve ser também uma história social da arte e da cultura nacional.

O capítulo seguinte, assinado por Anne-Marie Pessis e Gabriela Martin, analisa a evolução das manifestações que podem ser consideradas artísticas da Pré-história no Brasil, passando pela arte rupestre (pinturas, grafismos e gravuras), pela arte indígena, pela arte de olaria (da argila ao vaso), entre outras. As autoras explicam que o conceito de “arte” não existia para os povos de tradição oral, que sempre criavam um objeto com finalidade prática e imediata, e que a arte pré-histórica é “uma manufatura cuja evolução segue os passos do cognitivo ao lúdico e, por fim, ao social”.

A influência estrangeira na arte brasileira
O terceiro artigo, de autoria da pesquisadora Valeria Picolli, dedica-se à análise da representação do Brasil por artistas estrangeiros à época do descobrimento. Picolli destaca os trabalhos de holandeses como Frans Post e Albert Eckhout, que acompanharam Maurício de Nassau no breve período do governo holandês em parte do Nordeste brasileiro, e revela que devido à postura dos portugueses de tratar suas colônias como “segredos de estado”, não há registro de representações executadas por um português em data anterior ao século XVIII (à exceção do manuscrito Historia dos animas e arvores do Maranhão, cuja autoria se admite ser do franciscano Frei Cristóvão de Lisboa). Essa realidade viria a mudar drasticamente a partir da transferência da família real para o Rio de Janeiro (1808), quando ocorre a abertura dos portos brasileiros ao comércio e a consequente revogação da proibição da entrada de estrangeiros no país.

A descrição da arte produzida no Brasil durante os séculos XVI, XVII e XVIII fica a cargo da historiadora Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, que se concentra especialmente em três estilos europeus que foram sucessivamente implantados no Brasil pelos colonizadores portugueses: o maneirismo e o barroco (de fonte italiana), e o rococó (de fonte francesa e germânica). A autora aponta que o termo ‘maneirismo’ costuma ser aplicado à arquitetura e às artes visuais do século XVII, anteriores às primeiras manifestações do barroco, enquanto os termos barroco e rococó são empregados para designar expressões artísticas do século XVIII, mas que as três designações são quase sempre utilizadas no âmbito da arte religiosa.

O período compreendido entre 1816 e 1857 é examinado por Elaine Dias, que confere especial destaque à Missão Artística Francesa, considerada o ponto de partida para a compreensão do século XIX, uma vez que os artistas que integravam essa “Missão” impulsionaram a organização de um sistema artístico acadêmico que resultaria, anos depois, na Academia Imperial de Belas-Artes. De acordo com a autora, os principais articuladores desse sistema até a década de 1850 foram o pintor de história Jean-Baptiste Debret, o arquiteto Grandjean de Montigny, o pintor de paisagem Félix-Émile Taunay e o brasileiro Manuel de Araújo Porto-Alegre (discípulo de Debret).

No artigo seguinte, o professor e historiador Luciano Migliaccio assume a tarefa de discutir a arte brasileira produzida a partir de 1840, quando D. Pedro II atinge a maioridade, até a Belle Époque. Seu texto inclui análises de obras de artistas como Victor Meirelles, Pedro Américo, Almeida Jr., Rodolfo Amoedo, entre outros, estendendo-se até a o final da década de 1910, quando começa a se desenhar o movimento que conquistaria amplo reconhecimento cultural no Brasil e que constitui o tema do capítulo subsequente: o Modernismo.

Modernismo, anos 1960 e arte popular
“Modernismo no Brasil: campo de disputas” é o título do artigo da socióloga Ana Paula Cavalcanti Simioni, que apresenta de forma contextualizada os principais eventos, artistas e acontecimentos que contribuíram para a consagração do Modernismo no Brasil. O movimento que abarca experiências ocorridas entre 1910 e 1940 tem entre seus principais expoentes nomes como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Sergio Milliet, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Di Cavalcanti e Candido Portinari.

Diferente do projeto modernista que tinha como propósito a “construção da nação”, com foco em tudo o que diz respeito à brasilidade, Glaucia Kruse Villas Bôas esclarece que a partir de 1950 o movimento concretista “renuncia à busca por um espírito nacional a caminho de si mesmo e, nos seus próprios contornos, tenta romper com o círculo de ferro imposto pela herança do programa das gerações anteriores para legitimar, no seu próprio tempo, concepções igualitárias, universalistas e progressistas”.

A década de 1960, por sua vez, é desvendada pela filósofa e historiadora Paula Braga, que passeia pelo Neoconcretismo, pelo Expressionismo e a Nova Figuração, pela Nova Objetividade Brasileira e pelo Pós-Modernismo. Braga reitera que a arte brasileira alcançou, nos anos 1960, uma “inédita síntese de radicalidade de linguagem, experimentação e reflexão sobre a cultura brasileira”, ultrapassando em poucos anos o abismo que separava a produção nacional da arte experimental produzida desde os anos 1950 na Europa, Estados Unidos e Japão.

Finalmente, o capítulo assinado pelo antropólogo Ricardo Gomes Lima oferece uma reflexão acerca daqueles “objetos definidos como arte popular, categoria imprecisa, ambígua, cujo emprego não deixa de causar certo desconforto mesmo para aqueles que a utilizam e defendem”. O artigo discute obras oriundas de camadas menos favorecidas da sociedade, que apresentam uma estética particular e “que não expressam necessariamente os valores em circulação no interior do sistema hegemônico de arte, mundo que os produtores dessas obras muitas vezes ignoram e do qual não participam”.

 

SERVIÇOS:

o que:

Lançamento - Sobre a arte brasileira: da Pré-história ao anos 1960

onde:

Livraria Cultura do Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2073

quando:

13/5. Quarta-feira, às 19h

quanto:

Grátis

 

Veja também:

:: Resenha | Exercício fundamental. Por Giancarlo Hannud

:: Vídeo | Autores do livro falam sobre a obra

 

:: Trechos do livro | Clique na imagem para ampliá-la. Após a leitura, pressione a tecla ESC para retornar ao site.

 

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