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postado em 21/07/2015

O que é cenografia?

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Por meio de uma linguagem leve e acessível, a renomada cenógrafa e diretora teatral inglesa Pamela Howard desvenda os aspectos centrais que norteiam o trabalho cenográfico

 

Em O que é cenografia?, publicação que chega ao mercado brasileiro pelas Edições Sesc São Paulo, a cenógrafa e diretora inglesa Pamela Howard fornece um guia detalhado do desenvolvimento de um projeto cenográfico, desde a busca por inspirações até os desdobramentos do olhar do espectador, passando pelo relacionamento do cenógrafo com o espaço, o texto, a pesquisa, a cor e a composição, a direção e os atores. Professora emérita da University of the Arts London, Howard utiliza uma linguagem simples e fluida para transmitir uma análise integral da cenografia em um livro fartamente ilustrado com desenhos e croquis, estudos de casos de sua carreira e explanações sobre como a cenografia é vista pelo mundo, o que inclui definições de importantes cenógrafos da atualidade.

Cor, composição, espaço e texto
De maneira didática, a autora organiza o livro em sete seções, mostrando como o teatro é composto por uma diversidade de linguagens. A primeira parte problematiza o espaço, que “é o primeiro e o mais importante desafio de um cenógrafo”. Entre outras considerações, Howard ressalta a importância da busca por locais menos óbvios para as encenações, como espaços abandonados ou pitorescos, que permitem soluções inusitadas para a montagem e despertam a curiosidade do público.

A segunda parte do livro aborda a importância da relação do cenógrafo com o texto, que deve ser bem trabalhado através de leitura profunda e repetitiva até que os personagens se tornem seus conhecidos íntimos. Nesta seção, a autora generosamente apresenta diversas práticas particulares desenvolvidas ao longo de sua carreira, dicas preciosas que podem servir de base para que cenógrafos iniciantes pratiquem e mais tarde desenvolvam seu próprio processo de criação.

O capítulo seguinte diz respeito à pesquisa, que deve envolver diferentes linguagens, esferas e experiências, incluindo músicas, viagens, tecidos, imagens etc. O cenógrafo não pode se limitar a buscas na internet, e seu ininterrupto processo de pesquisa independe de trabalhos específicos que esteja desenvolvendo, ou seja, registros de inspirações e ideias precisam ser realizados constantemente, ainda que não se saiba quando, como ou em que elas serão aplicadas. Para ilustrar a importância da pesquisa e os resultados que ela pode proporcionar, Pamela relata detalhes de algumas de suas próprias experiências.

Cor e composição são os temas abordados em seguida, quando mais uma vez exemplos práticos da vida da autora nos permitem compreender de forma clara conceitos aparentemente abstratos. Aqui, Howard evidencia a necessidade da seleção e limitação de cores em uma montagem para não correr o risco de se perder em muitas cores aleatórias. As cores e a forma de compô-las em cena transmitem informações e influenciam diretamente o modo como as cenas e a produção são percebidas pelo espectador.

A importância do diretor, dos atores e dos espectadores
Logo depois, Pamela Howard trata da delicada relação do cenógrafo com o diretor do espetáculo. Sob o título de Direção, a seção traz orientações sobre a forma como as ideias devem ser apresentadas ao diretor de maneira a estabelecer uma relação de parceria desde o início, evitando conflitos, buscando conciliar ao máximo suas ideias e demonstrando a importância do olhar do cenógrafo por meio de um trabalho rico e de qualidade. Uma dica valiosa é a de nunca trabalhar intensamente em uma única ideia, mas ter várias saídas em mente para o caso de uma ou mais sugestões serem recusadas.

Os atores e sua relação com o cenógrafo são o objeto de análise do sexto capítulo do livro. Howard enfatiza a importância de se estar presente nos ensaios para absorver a linguagem e as particularidades do corpo do ator, assim como a importância de se ter conhecimento da anatomia humana para fazer observações mais bem-sucedidas. Tal qual na seção anterior, Pamela reforça que o cenógrafo deve estabelecer com o ator uma relação de parceria, solidariedade e cuidado, e deve compreender seu corpo e sua estrutura física a fim de apresentá-lo em sua melhor forma.

O último capítulo se refere aos espectadores. Inicialmente, a autora discorre sobre o grande mistério que ronda o público e sua reação a um espetáculo. Em seguida, aponta como é imprescindível que o cenógrafo se posicione em meio ao público durante a apresentação para estudar eventuais pontos cegos e verificar se a percepção de cores e a acústica estão de acordo com o planejado. Se problemas forem detectados, pode-se estudar a não venda de determinados lugares ou o rearranjo dos assentos para que os espectadores tenham a melhor e mais intensa experiência teatral possível.

Após a leitura de O que é cenografia?, torna-se claro por que Pamela Howard é uma referência na cenografia mundial e uma das mais importantes teóricas e formadoras da área. Ela generosamente mapeia todas as etapas e meandros que precisam ser percorridos para dar corpo a um trabalho artístico a ser encenado no palco. Para estudantes e profissionais iniciantes ou experientes, trata-se de um guia precioso que lhes permite desenvolver seu próprio processo criativo com clareza e propriedade. Para os amantes das artes em geral, trata-se de uma aula sobre os bastidores da mente e do processo criativo do artista. Seja como profissional ou como espectador, a experiência de assistir a uma peça de teatro nunca mais será a mesma.
 

Veja também:

:: Resenha | Brincando de fazer cenografia com Pamela Howard. Por Fausto Viana

:: Trechos do livro

 

 

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