Sentir e pensar a arte contemporânea
A partir de exposição homônima, o livro Terra comunal faz uma retrospectiva da carreira de Marina Abramovic, apresenta reflexões de críticos e traz textos da própria artista
Por Danilo Santos de Miranda*
A obra de Marina Abramovic tem sido uma presença constante e incisiva no panorama da arte contemporânea e ponto de referência para artistas e público, após décadas de atuação pela valorização da performance, quando esta ainda era uma expressão incipiente nas artes plásticas.
Corroborando a inexistência de uma dicotomia entre pensamento e sentimento, Susan Sontag afirmava ter “a impressão de que o pensar é uma forma de sentir, e o que o sentir é uma forma de pensar”. Artistas como Marina Abramovic são perfeitas demonstrações deste axioma. Em suas performances materializam-se a autodisciplina fora do comum; o desafio aos limites da própria resistência física e mental; a crítica irreverente; as questões pessoais que reverberam temas existenciais, sociais ou políticos; expressões literais ou metafóricas do sofrimento, da melancolia e do inconformismo; todos entremeados a uma busca intermitente de paz e transcendência. São, em suma, camadas de sentidos que se articulam em torno da condição una de pensar e sentir que nos constitui.
O livro Terra comunal [organizado por Jochen Volz e Júlia Rebouças] parte do universo abordado pela exposição homônima, uma grande retrospectiva das mais de quatro décadas de atividade de Marina Abramovic, realização pioneira do Sesc São Paulo em 2015. Essa exposição [que esteve em cartaz no Sesc Pompeia] reuniu vídeos de performances consagradas, a gênese de suas pesquisas sobre arte imaterial, o método ensinado aos alunos do MAI – Marina Abramovic Institute, bem como engendrou diálogos com o público brasileiro e com a obra inédita de performers a quem sua experiência serve de fonte de inspiração. Além guardar esses pontos em comum com a exposição, perpassado pelos conceitos presença, ausência e transcendência na obra da artista, o livro também apresenta a reflexão de críticos sobre ela e a própria voz de Abramovic, por meio de entrevistas e da transcrição de seus diários.
Ao focar na obra de Marina Abramovic, o presente livro vem complementar a biografia Quando Marina Abramovic morrer, primeira edição no Brasil lançada pelas Edições Sesc junto com a exposição retrospectiva, ambas tendo alcançado grande sucesso de crítica e público. Apresentar, por variados meios, a obra desta artista que se mantém como um ícone para a produção contemporânea reafirma uma das múltiplas frentes de ação sociocultural do Sesc São Paulo. Dessa ação faz parte abrir caminhos para a experimentação, o fomento e a divulgação da arte contemporânea como meio de contribuir para a formação do indivíduo e do cidadão, assim como despertar sensibilidades e apresentar o novo. É intenção do Sesc fazer sentir e pensar.
*Danilo Santos de Miranda é sociólogo e diretor do Sesc São Paulo. Organizou, entre outros, Ética e cultura (Edições Sesc São Paulo: Editora Perspectiva, 2011). Este texto foi originalmente publicado no livro Terra Comunal: Marina Abramovic + MAI.
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:: Terra Comunal | Hotsite da exposição
