Sesc SP

postado em 08/07/2016

Travessia

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Viajo porque preciso, volto porque te amo, filme que retrata o universo solitário de um geólogo a trabalho no sertão nordestino, ganha livro homônimo

 

Lançado em 2009, o filme Viajo porque preciso, volto porque te amo se situa no limite entre a ficção e o documentário. Dirigido por Karim Aïnouz e Marcelo Gomes, o longa acompanha a trajetória de José Renato, geólogo responsável pela análise do solo que será coberto por um grande canal de irrigação no sertão do Ceará. Entretanto, é no plano afetivo que a travessia mostra-se bem mais complexa. Após o fim de seu casamento, a personagem parte para cumprir seu dever, enfrentando menos a aridez da terra do que a aridez de sua solidão.

O livro homônimo lançado pelas Edições Sesc São Paulo, além de trazer o DVD do filme encartado, reúne textos e imagens que revelam a situação emocional e o universo solitário do geólogo, refletidos na diversidade do cenário nordestino que o circunda. Estruturado como um road movie, o filme traz à tona a geografia e a paisagem sentimental do sertão, construída pela voz em off da personagem interpretada pelo ator Irandhir Santos.

 

“São doze horas da manhã. Aproveito o trabalho de mapeamento pra fazer contatos com os poucos habitantes que vai ser necessário para a desapropriação das terras, que vão servir para a travessia do canal. Seu Nino e dona Perpétua vão ser os primeiros a serem desapropriados. Eles estão casados há mais de 50 anos. Nunca tiveram outra casa, nunca tiveram uma briga, nunca dormiram uma noite longe um do outro. Seu Nino saiu para desligar o rádio e eu pedi para ele voltar. Não quis filmá-los separados.”

 

Captadas antes que se estabelecesse a trama, as imagens do filme revelam a solidão experimentada por aqueles que vivem isolados no sertão: o casal de idosos que terá sua casa submersa pelas águas; a jovem que lê e relê Dom Casmurro, de Machado de Assis, como única forma de escape da realidade que se impõe; a prostituta cujo maior desejo é ter um amor correspondido.

A dimensão psicológica do protagonista está refletida na paisagem nordestina e suas desigualdades, tão fortemente representadas no cinema brasileiro, em especial no Cinema Novo. Privado de certezas quanto às reais possibilidades de progresso advindas da construção do canal, o geólogo vislumbra na morte anunciada dos pequenos vilarejos o impasse entre a aridez da terra e a força das águas. Viajo porque preciso, volto porque te amo perfaz a travessia entre a dor do abandono, o sentimento de paralisia múltipla, a incompreensão e a imobilidade enfrentados face à possibilidade de um recomeço.

 

Veja também:

:: Trailer do filme

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