Livro percorre o caminho trilhado por Marina Abramovic na arte da performance, destacando a fusão entre aspectos de sua vida pessoal e artística
O livro Quando Marina Abramovic morrer: uma biografia, do jornalista inglês James Westcott, conta a história da artista sérvia desde a infância, em Belgrado, ao iniciar seus estudos, até o reconhecimento internacional como uma das maiores artistas da performance no mundo, tendo se apresentado nos principais e mais importantes espaços de arte contemporânea.
Com um minucioso trabalho de entrevistas, feitas entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2009, pesquisa em arquivos pessoais (ela nunca joga nada fora) e de instituições e galerias de arte, James Westcott teve acesso a informações privilegiadas para desenvolver o texto. Com total liberdade para apresentar a sua visão sobre a vida e o trabalho da artista, ele entrevistou mais de sessenta pessoas que conviveram com Marina para remontar os anos de iniciação na ex-Iugoslávia, a relação turbulenta com os pais (especialmente com a mãe), o início da carreira na universidade, onde começou suas primeiras experimentações que levavam seu corpo e sua arte ao limite, muitas vezes arriscando a própria vida, até os dias atuais
A capa traz o desconcertante testamento redigido pela artista com uma descrição detalhada de como deverá ser a cerimônia fúnebre em sua homenagem. O documento revela que Marina fará de sua despedida uma performance celebrando a vida e a morte.
Nascida em 1946, no dia da República da ex-Iuguslávia, 29 de novembro, Marina teve uma educação rígida e disciplinadora, que a influenciou também em seu método de performance, ao levar seu próprio corpo a extremos e limites durante suas apresentações. Aprovada na Academia de Belas-Artes de Belgrado, a artista inicialmente dedicou-se à pintura, e ficou por um período interessada em acidentes de carro. Usou contatos policiais do pai para descobrir detalhes sobre as colisões graves, e ia até os acidentes para tentar captar sua violência. Frustrada com a sua incapacidade de traduzir a complexidade do tema para a pintura, Marina se dedicou a descobrir novas formas de se expor artisticamente.
Uma de suas primeiras propostas de performance, em 1969, foi recusada. Come wash with me (Venha lavar comigo) pretendia que a galeria se tornasse uma grande lavanderia, com o público entregando suas roupas para Marina lavar, secar e passar a ferro. Quando as roupas estivessem secas, o público poderia ir embora. Em 1970, outra proposta também foi recusada. Esta poderia ser sua primeira - e última - aparição pública. A ideia seria Marina trocar suas roupas pelas peças que sua mãe comprava: uma saia deselegante que descia até as panturrilhas, pesadas meias sintéticas, sapatos ortopédicos e uma blusa branca de algodão com pontos vermelhos. Seria, para ela, como vestir uma camisa de força. E então, apontaria uma pistola contra a própria cabeça e apertaria o gatilho. “Esta performance teria dois fins possíveis”, conta a artista.
Marina Abramovic, autoproclamada avó da performance, passou estes anos todos produzindo traumáticas e elevadas obras de arte, como deitar em uma estrela de cinco pontas em chamas até perder a consciência; permanecer obstinadamente passiva durante seis horas enquanto membros do público faziam o que quisessem com ela; e cortar um pentagrama em seu abdômen antes de chicotear-se e deitar-se nua em uma cruz feita de gelo.
No livro, também é retratado o intenso e longo relacionamento entre Marina e o artista alemão Ulay. Eles passaram anos juntos, inclusive morando numa van, e se despediram com uma última performance, após 12 anos de colaboração na vida e na arte, ao percorrer a Grande Muralha da China a partir de extremidades opostas, até que, noventa dias depois, encontraram-se no meio e se despediram um do outro.
Com toques de bom humor, James examina a obra desafiadora de uma das artistas pioneiras de sua geração, e que continua sendo considerada de vanguarda. Em 2010, a artista apresentou a exposição A artista está presente, no MoMA, Museu de Arte Moderna, em Nova York, em que ficou sentada durante três meses com uma cadeira vazia à sua frente aguardando o público que iria fitá-la, levando a um recorde de 850 mil visitantes e 1.750 pessoas a sentarem-se na frente da artista, incluindo o ator holywoodiano James Franco.
Questionada sobre o livro pelo autor James Westcott, Marina, ironicamente, respondeu: “Eu nunca mais deixarei ninguém escrever minha biografia novamente”. “Nós rimos”, conta o autor. “Embora ela estivesse falando sério”, finaliza.
O livro Quando Marina Abramovic morrer: uma biografia estará à venda na loja do Sesc Pompeia a partir de 10 de março, dia da abertura da exposição Terra Comunal – Marina Abramovic + MAI. Quem não conseguir ir até a exposição já pode adquirí-lo na Livraria Sesc.
Exposição Terra comunal – Marina Abramovic + MAI
O Sesc São Paulo apresenta entre os dias 10 de março e 10 de maio de 2015, na unidade Pompeia, a exposição Terra comunal – Marina Abramovic + MAI, a maior retrospectiva já realizada na América do Sul da principal expoente da arte de performance no mundo. Marina Abramovic (Belgrado, Sérvia, 1946 – vive em Nova York) estará presente no Brasil durante o período da mostra e participará de oito encontros com o público no Teatro do Sesc Pompeia.
Veja também:
:: Resenha | Três vidas e mortes de Marina Abramovic - Por Paula Alzugaray
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