Livro explora as práticas dos narradores por meio de perspectivas étnicas, regionais e populares, além de estabelecer relações com outras linguagens artísticas e diversas áreas do conhecimento
Contar histórias é uma prática milenar por meio da qual o homem pode entender sua relação com o outro e com o universo em que vive. Para o pesquisador doutor em artes cênicas Fábio Henrique Nunes Medeiros e para a professora doutora em teoria da literatura Taíza Mara Rauen Moraes - organizadores do livro Contação de histórias: tradição, poéticas e interfaces -, “é muito difícil cercear o ato de contar histórias, e isso não se deve exclusivamente à sua vastidão temporal e espacial, mas à característica intrínseca a todas as artes efêmeras, como é o caso do teatro e da dança. A nosso ver, isso se deve ao fato de o germe da alma dessas expressões artísticas estar alicerçado na relação com o outro, em uma espécie de efeito espelho. Conforme diz Walter Benjamin, na faculdade de intercambiar experiências, ‘a experiência que passa de pessoa para pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores’”.
O livro discute com seriedade e abrangência aspectos teóricos e práticos da contação de histórias. Seu ineditismo se dá pela linguagem acessível e pluralidade de discursos e vivências de pesquisadores, artistas e não artistas de várias regiões do país. Ainda que exista referência teórica que busque o entendimento dessa prática, a reunião dos textos nesta obra foge do propósito de estabelecer um consenso sobre a definição do ato de contar histórias ou sobre o perfil ideal de um contador. A ideia é propor reflexões sobre o tema e permitir que o leitor possa produzir novas possibilidades e interpretações, assim como se dá na própria contação de histórias.
Um dos principais objetivos do livro é reivindicar a recuperação da figura do contador nos ambientes lúdicos e de educação formal, pois é ele quem resgata as tradições, expõe seu ponto de vista e perpetua a existência das histórias ao longo das décadas. Seu desempenho performático não só estimula o interesse pela leitura em crianças, jovens e adultos, como também desperta o desejo de estender tais experiências em rodas de conversa com amigos e familiares. Os organizadores veem com esperança as iniciativas desse tipo, que são promovidas atualmente nas esferas pública e privada, como ocorre no Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), nos projetos de formação de leitores impulsionados pelo Sesc ao redor do Brasil, além do renomado Boca do Céu – Encontro Internacional dos Contadores de Histórias, que acontece a cada dois anos em São Paulo.
O livro conta com a introdução dos organizadores e textos de 89 autores, divididos entre três grandes eixos temáticos: “Tradição”, “Poéticas” e “Interfaces”, além de uma seção de verbetes comuns ao universo da arte de contar. “Tradição” explora as práticas culturais estabelecidas em perspectivas étnicas – portugueses, africanos, indígenas... –, regionais e manifestações populares específicas, como cordéis, trovadores, mamulengos, dentre outros. Há uma análise sobre os estudos de literatura popular e etnologia de Luís da Câmara Cascudo, descrito nos textos como colecionador, publicador e comentador de contos e da tradição. Destaca-se também o texto de Ariano Suassuna “A Compadecida e o romanceiro nordestino”, em que o autor comenta a influência dos contadores na composição de sua obra.
O eixo “Poéticas” discute a arte da contação de histórias e suas relações com outras linguagens artísticas, como cinema, dança e teatro. Os textos reiteram questões técnicas, como a importância da interpretação e treinamento vocal. “Interfaces”, por fim, estabelece um diálogo entre a contação e outras áreas de conhecimento, como educação, psicologia e tecnologia da informação.
Serviços:
o que: |
Lançamento do livro Contação de histórias: tradição, poéticas e interfaces Bate-papo com os organizadores, Daniel Munduruku e Valdeck de Oliveira. Participação especial de Bia Bedran. |
onde: |
Sesc Pinheiros | Sala de Oficinas (2º andar) - Rua Paes Leme, 195 |
quando: |
27 de maio de 2016. Sexta-feira, às 20h |
quanto: |
Grátis |
Veja também:
:: Sedução da palavra | Por Affonso Romano de Sant’anna
:: Trechos do livro