Sesc SP

postado em 04/11/2013

Resenha: Ligeti e o CD Ligeti+, Flô Menezes e o DVD de spectris sonorum

728 Guia de audição

Um dos maiores obstáculos da música de concerto do século XX e da música contemporânea do século XXI é que ela soa dissonante e caótica, beirando o aleatório. Mas este tipo de repertório exige do ouvinte grande esforço intelectual para ser entendido? A resposta, obviamente, é não. O único requisito é uma pequena mudança de ponto de vista.

Aquele conceito de que música é melodia, ritmo e harmonia, começou a ruir já na segunda metade do século XIX, quando a exploração sistematica de outros parâmetros musicais, abriu caminhos para as novas propostas de compositores como Claude Debussy, Alexander Scriabin, Arnold Schoenberg, Béla Bartók, Igor Stravinsky e outros.

Mas melodia, ritmo e harmonia ainda norteiam nossa percepção, em uma grande parte da música cotidiana. Por exemplo, em um samba, um cantor ou instrumento faz a melodia, alguns instrumentos realizam a harmonia, e outros o ritmo que caracteriza o gênero como tal. Estes mesmos três pontos também norteiam nossa percepção em um rock, assim como grande parte da música de Haydn, Mozart, Beethoven, Chopin, entre outros, e por esta razão, o repertório destes soa mais familiar, agradável, mesmo que não o entendamos em sua plenitude.

Ligeti, O CD Ligeti +, Textura e Massa Sonora

Nascido na Hungria, György Ligeti é um dos grandes nomes do cenário musical erudito. O Selo Sesc, em seu compromisso com a música de concerto atual, lançou, recentemente, o CD Ligeti +, um projeto do Percorso Ensemble, em que uma obra de Marcus Siqueira e outra de Claudio de Freitas foram compostas em diálogo com o “Concerto de Câmara para 13 Instrumentistas” do compositor húngaro.

Como a música do século XX e contemporânea não compartilha uma linguagem única, cada compositor explora, a sua maneira, diversas possibilidades diferentes da combinação melodia harmonia e ritmo. Nas obras de Ligeti posteriores a sua produção eletrônica, o parâmetro musical ressaltado é a textura, ou seja, a inter-relação dos diversos eventos sonoros que constituem a música.

Em Ligeti, a textura é trabalhada para a criação da massa sonora. Para exemplificar, ovos, farinha, fermento e leite, precisam ser misturados até se fundirem em uma massa de pão. Da mesma maneira, Ligeti comprime tão fortemente os eventos musicais, que alturas e timbres individuais deixam de ser perceptíveis, e se tornam uma unidade, ou seja, uma massa sonora. O que confere movimento é a atividade rítmica e a dinâmica.

Uma vez entendido o conceito de massa sonora, percebemos que o legado musical de Ligeti não seria possível sem dissonância, já que a compressão dos eventos musicais implica em choque entre alturas e muitos choques produzem a dissonância.

DVD de spectris sonorum – Flô Menezes

A massa sonora ganhou ainda mais possibilidades com a utilização de timbres eletrônicos associados a timbres acústicos, no que chamamos música eletroacústica.

O DVD de spectris sonorum, reúne obras de um período criativo de mais de dez anos, de um dos grandes expoentes nacionais da música eletroacústica, Flô Menezes, que entre os anos de 1986 a 1989 foi estudar música eletrônica em Colônia, mesma cidade onde, algumas décadas antes, Ligeti havia estudado e trabalhado com dois expoentes da música eletrônica e eletroacústica: Karlheinz Stockhausen, de quem Flô foi aluno em 1998, e Gottfried Michael Koenig.

Conheça mais sobre outros projetos do Selo Sesc.

DVD De spectris sonorum

CD Ligeti+

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