Sesc SP

postado em 01/03/2016

Portrait - Maury Buchala

buchala capa

Maury Buchala é o novo lançamento do Selo Sesc com o disco Portrait: uma incursão à obra do regente e compositor reconhecido internacionalmente por seu trabalho na música erudita contemporânea. Fique ligado na programação do Centro de Pesquisa e Formação: 31/3, 19h30, vai rolar uma conversa com o compositor - para saber mais, clique!
 

 

Música de concerto contemporânea é uma constante no catálogo do Selo. Achamos importante prover espaço e acesso para conhecer outras formas de se abordar música. Todavia, como se relacionar com algo que é novo, diferente e, não raro, distante? Neste espaço, já tentamos outros vieses, como dizer que há beleza para se fruir do ruído - no texto sobre os discos da série Ao Vivo Jazz na Fábrica - ou ainda um guia para mudar perspectivas da escuta, a partir do disco Ligeti+ e do DVD De Spectris Sonorun.

Uma maneira interessante também pode ser encarar a música como um campo onde se relacionam várias forças e atores. Neste campo, existe uma disputa constante pela hegemonia de uma prática em relação às demais. A música de concerto, ainda que usualmente associada à uma fatia mais abastada da sociedade, que parece unânime e hegemônica por definição, não escapa desses conflitos que ajudam a tensionar e dar forma ao campo desta música.

Maury Buchala está distante. Compositor brasileiro, radicado há muito na França, pouco tem a ver com o que se passa na música feita no Brasil. Porém, esteve próximo de brasileiros que sempre pensaram novas maneiras de se fazer música. Gilberto Mendes, que assina o texto de introdução ao disco no encarte, é uma dessas figuras. Sigamos nesta trilha.

 

 

 

Gilberto Mendes foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, 1963, juntamente com figuras como Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Willy Correia de Oliveira - caso ainda não sejam nomes familiares, acalme-se. O manifesto aponta para um "compromisso total com o contemporâneo" e para o desenvolvimento interno da linguagem musical. O interessante é ver que tanto Pierre Boulez e seu serialismo total, quanto John Cage e sua busca pela música que vem de todos os lugares e objetos, são mencionados como referências para a música nova - vale a pena ver o curta Sound?? com John Cage e Roland Kirk indagando sobre as diferenças entre o som e a música (existe essa diferença?).

 

 

Do que foi pontuado, depreende-se um alargamento do campo desta música no Brasil. Buchala teve contato com isso em sua formação. Se continuarmos nesta toada, veremos que o Manifesto Música Nova parte do ponto onde o Manifesto Música Viva, 1943, havia parado, focando na evolução do espírito, da música liberta frente ao real. Por sua vez, este manifesto introduzia novos dados à discussão entre o Nacionalismo previsto na concepção modernista de Mário de Andrade em seu Ensaio sobre a Música Brasileira, e a estética vanguardista que se espalhava sobre a arte do período - mais precisamente, no Brasil, através da figura do compositor alemão Hans-Joachim Koellreutter, que chegou ao país em 1936.

Buchala pode dever mais à Pierre Boulez do que a todo esse arranjo, mas este não é ponto deste texto. Nossa intenção é chamar atenção para o quanto é possível extrair da música uma vez que abrimos os ouvidos e a cabeça para entender a trajetória do som, da música enquanto expressão humana. Existem mais motivos palpáveis na construção de uma obra musical do que apenas a intenção/inspiração do compositor - a música responde ao mundo do compositor. Como John Cage diz no curta, quando a música toca, porque não "abrir os ouvidos e fechar a boca"? No fim do post há amostras do disco Portrait de Maury Buchala, dê uma chance. A gente sempre se surpreende quando nos deixamos disponíveis.

1. Eindrücke

2. Tre espressioni

3. Partita

4. Concerto

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