Sesc SP

postado em 19/04/2016

O sonho, a vida, a roda-viva!

MPB4 capa

Comemorando 50 anos de estrada, o MPB4 lança "O sonho, a vida, a roda-viva!" pelo Selo Sesc, enaltecendo, com um disco de inéditas, a canção popular brasileira e o catálogo do Selo. Passeie pela importância dos conjuntos vocais, da postura combativa do grupo e por um pedaço da história da música brasileira. 

 

"Não admira que, habitando esse universo sonoro, todo mundo na Murray sonhasse com uma única coisa: fazer parte de um conjunto vocal. Alguns já faziam, como Jonas Silva e Acyr Bastos Mello, os balconistas da loja. Juntamente com o arranjador Milton Silva, o violonista Alvinho Senna e o pandeirista Toninho Botelho, eles eram Os Garotos da Lua"

Estamos falando da esquina entre os anos 1940 e 50. A citação vem do livro Chega de Saudade, de Ruy Castro e ilustra como fervilhava o Brasil que começava a ficar urbano pra valer - apagando algumas tradições, dizem os mais tinhorões - bebendo do jazz americano, daquilo que era moderno. Os Garotos da Lua não foram o conjunto mais famoso, tampouco o mais afinado: trata-se do conjunto que abrigou um cantor vindo da Bahia, que "cantava feito a peste" e tocava um "violão direitinho". Seu nome: João Gilberto

Se a bossa nova pariu ou não o Brasil, como Tom Zé gosta de dizer, deixemos para outro momento. Aqui, falamos da força propulsora dos conjuntos vocais para a música brasileira. Diversos conjuntos contribuíram, no primeiro boom das rádios, para as bases de uma canção popular de nível altíssimo, que acabaria transbordando para outros lugares do cotidiano, pouco comparada ao resto do mundo - em que outro país do globo cantautores como Gil e Caetano, por exemplo, são chamados a discutir ou comentar assuntos de interesse nacional?

O MPB4 é quase o resultado deste caldeirão de referências e a agitação de uma época complexa: formado a partir do Centro Popular de Cultura, em 1964 - um ano ruim para ter qualquer filiação política de orientação esquerdista/socialista/comunista - o quarteto ganha forma com a entrada de Antonio José Waghabi Filho, o Magro, autor do arranjo de Roda Viva, no grupo formado por Aquiles, Ruy e Miltinho. Quase como D'artagnan e Athos, Porthos e Aramis, sem a diferença de idade e sem estar a serviço de nenhum rei.

— Sempre fomos um quarteto vocal engajado, e o Magro tinha como princípio criar arranjos que estivessem a serviço da mensagem das canções, dávamos molde àquilo que o compositor passava em sua poética — afirma Miltinho, que aponta o arranjo de Magro para “Roda viva”, de Chico Buarque, como um dos pontos altos da carreira do amigo. — Ele fez isso com essa canção e com muitas outras. Entendíamos a nossa arte como uma forma de dar voz à denúncia, tínhamos esse compromisso. E seguimos assim até o “Vira virou”, que registra uma virada no país, com a reabertura, e também uma mudança na estética do grupo, que passou a fazer uma arte mais alegre.

 

 

Ao completar 50 anos de estrada, as mudanças são mais do que palpáveis no disco de inéditas que o conjunto lança pelo Selo Sesc. Em "O sonho, a vida, a roda-viva!", o conjunto agora formado por Dalmo Medeiros e Paulo Malaguti, nos lugares de Ruy e Magro - morto em 2012 - investe numa temática mais lírica, entre o maravilhoso e misterioso, como na canção "Milagres" que abre o disco.

Não se engane porém, ao pensar que escolher este caminho impede a arte do quarteto de florescer em diferentes direções. Diferentemente do último lançamento do Selo, "Diálogos Interiores", no qual a música é uma experiência feita para desaparecer, "O sonho..." é uma peça de ourivesaria, no qual cada canção é esculpida na melodia das 4 vozes - e de parcerias do quilate de João Bosco, Paulo César Pinheiro, a dupla Kleiton e Kledir, Vitor Ramil, Guinga e Mario Adnet.

- O disco foi tomando forma durante um ano de trabalho em ensaios semanais. Convidamos Gilson Peranzzetta como arranjador. Miltinho e Paulo Malagutti estão nos arranjos vocais. Nós o dedicamos para Magro porque queremos que a música do MPB4 esteja sempre ao seu lado - comenta Aquiles. Por mais que seja um disco de comemoração e o grupo tenha dado uma guinada rumo ao amor, as cutucadas estão ali, principalmente em canções como a literária "Brasiléia" e "Ateu é tu".

Ao final deste post é possível ouvir amostras do trabalho, bem como adquirir o seu exemplar na Loja Sesc. Desfrute desses 50 anos de dedicação à música, à canção brasileira - sempre valerá a pena!

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