No Voo do Urubu - Arthur Verocai
Arthur Verocai lançou "No Voo do Urubu" nos dias 16 e 17 de dezembro de 2016, no Sesc Pinheiros: sucesso imbatível em noite abrilhantada pelas presenças de Mano Brown e Criolo. Outros pesos pesados participaram da produção do disco - conheça o projeto todo aí embaixo, além de escutar a bolacha na íntegra. Divirta-se!
Exuberante
por Ruy Castro
Compositores e arranjadores são animais distintos na floresta e, não raro, hostis entre si. Disputam as mesmas presas: a beleza, a complexidade, a inspiração – enfim, a música –, e cada qual costuma se atribuir o crédito pelo sucesso do outro. Arthur Verocai é dos poucos a desconhecer esse problema: compositor, ele é seu próprio e completo arranjador, e os dois se embrenham juntos pela mata, partilhando segredos e descobertas.
Não apenas isso como, em Verocai, a composição nasce muitas vezes diretamente do arrranjo e vice-versa. As linhas melódicas surgem ao mesmo tempo em que ele cria as massas sonoras; suas harmonias exigem a instrumentação que ele escolheu, e nenhuma outra; e, sendo ele um e outro, cabe ao arranjador povoar os espaços conquistados pelo compositor.
Verocai é generoso. Numa música popular tão carente, por exemplo, de cordas e metais, como a nossa, ele nos serve fartas porções de ambos. Seus trompetes me lembram a orquestra de Stan Kenton; seus violinos, os ziguezagues de Bernard Herrmann. Se esses dois gênios não tinham nada em comum, passam a ter nos arranjos de Verocai.
Em outros tempos, No voo do urubu, com sua vibrante enumeração de postais do Rio, tocaria dia e noite no rádio, e a belíssima “Minha terra tem palmeiras”, com letra do falecido Paulinho Tapajós, logo seria elevada à categoria de clássico. Mas, como vivemos na vida real, resta-nos o privilégio de sermos os poucos e felizes a poder escutar essas grandes canções – essas e as de No voo do urubu, de ponta a ponta tão exuberante.
