37ª edição do Panorama da Arte Brasileira chega ao Sesc Sorocaba

18/04/2023

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Mostra propõe desconstruir paradigmas naturalizados em relação ao Brasil colônia. Itinerância da exposição apresenta obras de 26 artistas e ocorre a partir da parceria entre o Sesc São Paulo e MAM São Paulo

Chega ao Sesc Sorocaba e faz estreia ao público no dia 19 de abril a 37ª edição do Panorama de Arte Brasileira: Sob as cinzas, brasa. A itinerância apresenta obras de 26 artistas em instalações, pinturas, esculturas e vídeos que conduzem discussões sobre a identidade e símbolos nacionais, referências ao bicentenário da Independência e ao centenário da Semana de 22.

A montagem tem curadoria de Cauê Alves, curador-chefe do MAM, Claudinei Roberto da Silva, Cristiana Tejo e Vanessa K. Davidson, membros da Comissão de Arte do museu, que selecionaram 26 artistas e coletivos de diversas regiões, assim como de diferentes gerações, identidades étnico-raciais e de gênero: Ana Mazzei, André Ricardo, Bel Falleiros, Camila Sposati, davi de jesus do nascimento, Celeida Tostes, Éder Oliveira, Eneida Sanches e Tracy Collins (LAZYGOATWORKS), Erica Ferrari, Giselle Beiguelman, Gustavo Torrezan, Glauco Rodrigues, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laryssa Machada, Lidia Lisbôa, Luiz 83, Maria Laet,  Marina Camargo, Marcelo D’Salete, No Martins, Sergio Lucena, RodriguezRemor, Sidney Amaral, Tadáskia e Xadalu Tupã Jekupé.

Sob as cinzas, brasa, título e conceito proposto pela curadoria, levanta soluções artísticas que refletem sobre o enfrentamento do cenário de emergência das pautas sociais e ambientais no Brasil, comprometendo-se com a promoção de igualdade étnica, de gênero e classe.

Os curadores desta edição da mostra explicam em texto do catálogo que “entre as intenções do 37º do Panorama do MAM está a de contribuir para a desconstrução de certos olhares e paradigmas naturalizados, assim como do legado colonial do Brasil. Avesso à noção moderna de progresso, a curadoria desta edição enfatiza as ruínas e as barbaridades de um país que sequer conseguiu cumprir as promessas básicas de uma sociedade economicamente moderna e integrada que pressupunha a superação do subdesenvolvimento”.

Para Elizabeth Machado, presidente do MAM, “a parceria com o Sesc São Paulo é fundamental para ampliar o alcance do Panorama aos mais diversos públicos e expandir os limites regionais. As colaborações institucionais, uma prática que vem se fortalecendo cada vez mais no MAM, são essenciais para o ecossistema das artes visuais e da cultura brasileira”, afirma.

Ao abordar sensivelmente o presente, considerando as marcas indeléveis do passado, artistas articulam universos simbólicos que proporcionam perspectivas acerca do que e como vivemos e sua íntima relação com os processos históricos que nos precederam.  É nesse contexto que se localiza o Panorama de Arte Brasileira: Sob as Cinzas, Brasa, que agora chega à Sorocaba”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo. “Em consonância com a vocação educativa da cultura, o Sesc correaliza essa ação com o MAM, buscando contribuir com a constante renovação de cenários que se anunciam diversos e, assim, democráticos”, completa.  

Sobre os artistas:

Gustavo Torrezan reflete sobre as estruturas de poder que configuram historicamente as organizações coletivas, bem como suas constituições culturais e identitárias. No Sesc Sorocaba, será possível ver as obras que abordam a ideia da bandeira nacional e a relação com o carvão, resultado do fim da brasa. Jaime Lauriano convoca a examinar as estruturas de poder contidas na produção da História e dos símbolos, evidenciando as violentas relações mantidas desde a colonização. Ana Mazzei também parte da pesquisa sobre momentos históricos e suas representações na história da arte, construindo estruturas que, a partir da interação do público, reposicionam esses símbolos de poder. Marina Camargo expõe um mapa da América Latina feito de borracha, matéria-prima extensivamente explorada neste continente e que sugere a noção de uma terra maleável, esgarçada, flexionada para vários lados.

A relação com a terra e o solo é uma temática especialmente abordada por alguns artistas presentes na exposição, como é o caso de Celeida Tostes, artista já falecida que trabalhou o uso do barro na exploração de símbolos arquetípicos, relacionados ao feminino e à fertilidade. Bel Falleiros parte da simbologia da natureza explorada para compreender como as paisagens construídas contemporâneas (mal) representam as diversas camadas de presença que constituem um lugar. Lidia Lisbôa trabalha com escultura – sobretudo em argila – gravura, pintura, costura e crochê. Para a itinerância do Panorama ao Sesc Sorocaba, traz os seus cupinzeiros, evocando  a simbologia ambígua do cupim, que é a primeira vida a brotar em uma terra devastada, mas que ao mesmo tempo também a destrói. A dupla RodriguezRemor interroga fronteiras impostas, visíveis e invisíveis, como a separação de natureza e cultura, de arte contemporânea e arte popular, de arquitetura, tecnologia e tradição.

Laryssa Machada constrói imagens enquanto evocações de descolonização e novas narrativas de presente/futuro com estética e dimensão ritualísticas. Xadalu Tupã Jekupé, artista que também é integrante da edição de 2022 do Clube de Colecionadores do MAM,  traz  quatro pinturas que contam histórias e mitos guarani sobre as cidades celestiais e a origem da terra e do fogo.

Camila Sposati apresenta dois projetos relacionados à investigação do processo de criação e transformação da Terra, aproximando aspectos físicos do planeta e do corpo através do uso do barro, da sonoridade de seus instrumentos e da performance. davi de jesus do nascimento parte da pesquisa acerca de sua ancestralidade ribeirinha para apresentar um conjunto de obras em suportes variados, como o desenho, a fotografia, o vídeo e o tridimensional.

Tadáskía propõe desenhos abstratos que evocam uma ludicidade própria à sensibilidade tropicalista onde a simbologia do fogo e de entidades de matriz africana tem um espaço especialmente destacado pela artista. Maria Laet produz obras com a terra e o barro. No Sesc Sorocaba, apresenta registros  de uma ação vinculada ao solo no Parque Lage, Rio de Janeiro.

Patrimônio, monumento e arquitetura também são temas explorados pelas produções dos artistas de “Sob as cinzas, brasa”. Erica Ferrari apresenta instalações realizadas a partir de pesquisa em torno das relações entre arquitetura, espaço e história, com interesse direcionado ao lugar das mulheres e da memória de seus gestos nessas relações. Giselle Beiguelman pesquisa as estéticas da memória na atualidade, com ênfase nas políticas de esquecimento, e os processos de atualização do colonialismo pelas tecnologias digitais. Sua obra no Sesc Sorocaba atua como uma arena que abrigará encontros de discussões sobre a construção da memória e patrimônio dos monumentos colonialistas. Lais Myrrha produz obras que questionam a história oficial da arquitetura canônica brasileira. Para o Panorama a artista traz partes da obra que investiga a própria arquitetura da Marquise do Parque Ibirapuera, projetada por Oscar Niemeyer e que abriga o MAM.

Eneida Sanches e Tracy Collins (LAZYGOATWORKS) pesquisam a história africana e afro-brasileira vinculada a experiências estéticas que oscilam entre a cognição e o transe. A dupla apresenta a vídeo-instalação “Eu não sou daqui” onde questionam o colonialismo e suas produções pseudo-científicas.

Alguns artistas ainda investigam o que os curadores chamam de vocábulos caboclos, como André Ricardo e Sérgio Lucena, que apresentam pinturas abstratas com elementos que remetem à matriz afro-brasileira. Luiz 83 traz elementos da arte de rua e reelabora à maneira dessa sensibilidade certa ideia de construtivismo sedimentada pelo cânone, ao expor esculturas que tridimensionalizam a “tag”, assinatura gráfica urbana.

Éder Oliveira desenvolve sua investigação artística na relação entre os temas retrato e identidade, com foco no indivíduo amazônico. Traz ao Panorama no Sesc Sorocaba pinturas que exemplificam outras direções na prática atual de Oliveira: suas investidas em um tipo de “pintura histórica” e quadros mais íntimos de seus familiares, amigos e vizinhos.

Marcelo D’Salete é um quadrinhista reconhecido internacionalmente, recipiente do Prêmio Jabuti e do Eisner Award em 2018. Com influências da fotografia e do cinema, seus desenhos elaboram de forma poética e ácida a realidade a que estão submetidos negros e negras nas periferias das nossas cidades.

No Martins articula as linguagens da pintura, instalação e performance por meio das relações interpessoais cotidianas, principalmente a convivência da população negra no contexto urbano. Traz a instalação “Danger” que levanta discussão sobre a violência do Estado através das suas polícias.

Sidney Amaral aborda temas étnico-raciais, incluindo a condição da população negra e, em particular, do homem negro no Brasil. Falecido prematuramente (2014), o artista reflete em suas obras sobre o racismo estrutural brasileiro através de obras de grande impacto visual.

Glauco Rodrigues, artista falecido em 2004 que foi vinculado ao tropicalismo dos anos 1960 e 70, estará representado na exibição com uma pintura que  aborda certos clichês da identidade nacional a partir da representação irônica de símbolos da vida brasileira e nosso legado colonial.

Sobre os curadores

Cauê Alves

Cauê Alves (São Paulo, SP, 1977) é bacharel, mestre e doutor em Filosofia pela FFLCH-Universidade de São Paulo. Desde 2020 é curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Desde 2010 é professor do Departamento de Artes da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP. Entre 2016 e 2020 foi curador-chefe do MuBE, onde realizou ao lado de outros profissionais as exposições Ambiental: arte e movimentos (2019), Burle Marx: arte, paisagem e botânica (2018-2019), premiada pela ABCA, Amazônia: os novos viajantes (2018) e Pedra no Céu: Arte e a Arquitetura de Paulo Mendes da Rocha (2017). Foi co-curador, com Vanessa K. Davidson, de Past/ Future/ Present: Contemporary Brazilian Art, no Phoenix Art Museum, Arizona, USA e MAM-SP (2017-2019). Foi curador assistente do Pavilhão Brasileiro da 56ª Bienal de Veneza (2015). Publicou texto no catálogo da exposição Mira Schendel, no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (Porto, Portugal) e Pinacoteca do Estado de São Paulo (2014), e Tate Modern (Londres, 2013). Foi co-curador de Más Allá de la Xilografía, no Museo de la Solidaridad Salvador Allende, em Santiago, Chile (2012). Foi curador adjunto da 8ª Bienal do Mercosul (2011) e co-curador, com Cristiana Tejo, do 32º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (2011).

Claudinei Roberto da Silva

Claudinei Roberto da Silva (professor, curador, artista visual) nasceu em 1963 em São Paulo onde vive e trabalha. Formado pelo Departamento de Arte da Universidade de São Paulo. Como curador realizou entre outras, a exposição Sidney Amaral “O Banzo, o amor e a Cozinha” 1º prêmio Funart para artistas e curadores negros – Museu Afro Brasil, a “13ª Bienal Naïfs do Brasil” no Sesc Piracicaba e a série “Pretatitude. Insurgências, emergências e afirmações. Arte afro-brasileira contemporânea” para várias unidades do Sesc São Paulo e curador convidado para o projeto de “Pesquisa MAC USP Processos Curatoriais – Curadoria Crítica e Estudos Decoloniais em Artes Visuais: Diásporas Africanas nas Américas”. Coordenou, entre outros, o Núcleo Educativo do Museu Afro Brasil. Coordenador Artístico Pedagógico do projeto multinacional “A Journey through African diáspora” do American Aliance of Museums em parceria com o Museu Afro Brasil e Prince George African American Museum. Foi Bolsista Programa “International Visitor Leadership Program” do Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Faz parte do conselho curatorial do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Tem obras no acervo do Museu Nacional de cultura afro-brasileira MUNCAB em Salvador, Bahia.

Cristiana Tejo

Cristiana Tejo (Recife, PE, 1976) é curadora independente e Doutora em Sociologia (UFPE). É co-fundadora do Espaço NowHere (Lisboa) e investigadora do Instituto de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa, onde foi pesquisadora do projeto Artistas e Educação Radical na América Latina: anos 1960/1970. É co-curadora da Residência Belojardim, no Agreste de Pernambuco. Foi Coordenadora de Programas Públicos da Fundação Joaquim Nabuco (2009 – 2011), Diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (2007-2009) e curadora de Artes Plásticas da Fundação Joaquim Nabuco (2002-2006). Co-curou o 32º Panorama da Arte Brasileira do MAM – SP e o Projeto Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (2005-2006). Curou a Sala Especial de Paulo Bruscky na X Bienal de Havana (2009). Vive e trabalha em Lisboa. 

Vanessa Davidson

Dra. Vanessa K. Davidson recebeu seu B.A. em Literatura Hispano-Americana de Harvard University, e estudou arte latino-americana e poesia argentina na Universidad de Buenos Aires, Argentina, e português na Universidade de São Paulo. Ela recebeu uma bolsa Fulbright-Hays para conduzir pesquisas de tese doutoral na Argentina e no Brasil, e recebeu seu Ph.D. na História da Arte Latino-Americana do Século 20 e 21 do Instituto de Belas Artes, da New York University. Ela trabalhou no Museum of Fine Arts de Boston, bem como no Metropolitan Museum of Art. Trabalhou como a Shawn e Joe Lampe Curadora de Arte Latino-Americana no Phoenix Art Museum durante oito anos, durante os quais organizou doze exposições de grande escala, duas das quais viajaram internacionalmente. Davidson foi co-curadora com o Dr. Sergio Bessa de Paulo Bruscky: Art Is Our Last Hope (2014). Foi curadora da maior exposição internacional de arte postal contemporânea nos EUA desde a década de 1970 na Focus Latin America: Art Is Our Last Hope (2014-15). Foi curadora de Horacio Zabala: Mapeando o Monocromo (Phoenix e Buenos Aires, 2016-17) e co-curadora com Cauê Alves de Passado/Futuro/Presente: Arte Contemporânea Brasileira da Coleção do Museu de Arte Moderna, São Paulo (Phoenix e São Paulo, 2017-2019). Ela também é a curadora de Oscar Muñoz: Invisibilia (2021-22), a primeira retrospectiva norte-americana deste artista colombiano. Ela assumiu a função de Curadora de Arte Latino-Americana no Blanton Museum of Art na cidade de Austin, Texas, em 2019.

Sobre o MAM São Paulo

Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.

O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários, palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de museus de vários países mantém o acervo vivo.

Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades especiais.


37º Panorama da Arte Brasileira – Sob as Cinzas, Brasa
De 20/04 a 17/09
Terças a sextas, das 9h às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Local: Estacionamento G2

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