A arte em defesa dos povos originários 

07/05/2023

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Obras audiovisuais traçam um panorama da diversidade e da problemática dos povos indígenas no Brasil contemporâneo.

Dados preliminares do censo demográfico 2022, divulgados no início de abril, apontam a presença de 1,653 milhão de indígenas na população brasileira, número questionável, já que não considera os indígenas que vivem nas aldeias. Eles integram cerca de 300 etnias, com costumes e culturas distintas e um total estimado de 160 línguas. Para tornar mais conhecida a realidade dos povos originários brasileiros, em maio, o Sesc Campinas apresenta uma pequena seleção de obras audiovisuais que procuram mostrar essa diversidade e as problemáticas dos indígenas no Brasil contemporâneo.  

O ciclo vai apresentar quatro longas que fazem um recorte dos povos krahô, Yanomami, Tukuna e Karamakate, mostrando o drama vivido pelos povos originários ao ver seu território ser invadido e devastado pelo homem branco e sua cultura destruída, ou de indígenas afastados de seus ambientes originais.

O ciclo começa com o longa “A Febre” (Dia 9/5, terça, às 19h, no Teatro. Grátis. 10 anos*). Dirigido por Maya Werneck Da-Rin e lançado em 2019, o longa foi premiado como Melhor Filme em vários festivais pelo mundo, como os de Locarno (Suíça), Biarritz (França), Pingyao (China), no Peru, Espanha, Argentina, Portugal, Paraguai, entre outros. No Brasil, no Festival de Cinema de Brasília, por exemplo, ganhou como Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Ator para Regis Myrupu, considerado Melhor Ator, também, no Festival de Locarno. 

A trama conta a história de Justino, um indígena de 45 anos, do povo Tukuna, que há anos deixou sua aldeia para tentar a vida em Manaus e hoje trabalha como vigilante em um porto de cargas. Desde a morte da sua esposa, sua única companhia tem sido sua filha mais nova, Vanessa, mas ela está de partida para estudar medicina em Brasília. Justino esforça-se para manter-se desperto no trabalho e com o passar dos dias é tomado por uma misteriosa febre, não motivada por um vírus, mas reflexo da sensação de não pertencimento. 

 Na sequência, o ciclo exibe “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos” (Dia 16/5, terça, às 19h, no Teatro. Grátis. 10 anos*). Com direção de João Salaviza e Renée Nader Messora, o filme foi rodado ao longo de nove meses na aldeia Pedra Branca (Terra Indígena Krahô, no Tocantins), sem equipe técnica e em negativo 16mm. Acompanha a trajetória de Ihjãc, um jovem Krahô que após a morte do pai, se recusa a se tornar xamã e foge para a cidade. Longe de seu povo e da própria cultura, Ihjãc enfrenta as dificuldades de ser um indígena no Brasil contemporâneo. O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri na Mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar), a segunda mais importante do Festival de Cannes, em 2018. A dupla de diretores participa novamente da mostra Un Certain Regard deste ano, com o filme “A Flor do Buriti”, também sobre o povo Krahô.

“O Abraço da Serpente” (Dia 23/5, terça, às 19h, no Teatro. Grátis. 16 anos*), coprodução Colômbia/Venezuela/Argentina, com direção de Ciro Guerra, é o terceiro filme do ciclo. Na história, Karamakate, outrora um poderoso xamã e último sobrevivente de seu povo, acompanha dois cientistas, em momentos distintos, em busca de uma planta sagrada da Amazônia. Em 1909, o xamã Karamakate acompanha a jornada do cientista alemão Theodor Koch-Grunberg. Em 1940, vivendo em isolamento voluntário nas profundezas da selva, serve de cicerone para o americano Richard Evans Schultes. Ambos procuravam a Yakruna, uma rara e sagrada planta, com poderes de cura, e Karamakate é a única pessoa que pode ajudá-los. “O Abraço da Serpente” ganhou diversos prêmios em festivais, entre eles os prestigiados Sundance e Cannes e, em 2015, foi indicado ao Oscar na categoria Melhor Filme em Língua Estrangeira.

O ciclo termina com a exibição de “A Última Floresta” (Dia 30/5, terça, às 19h, no Teatro. Grátis. 16 anos*). Na produção de 2021, com direção de Luiz Bolognesi, documentário e ficção se interlaçam. Em uma tribo Yanomami isolada na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomami tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. Os jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.  

O filme retrata a vida e os costumes da nação Yanomami, e mostra como a presença ilegal da exploração do ouro no território, que cresceu de forma espantosa nos últimos anos, coloca em risco a população indígena e a floresta. Vale lembrar a situação de calamidade registrada este ano na Amazônia, com a morte de crianças e idosos Yanomami de desnutrição. A contaminação pelo mercúrio usado no garimpo, não atinge somente os rios, mas também o solo e os animais, impactando diretamente na alimentação indígena. Desde 2019, os líderes Yanomami alertam para o ameaçador aumento de garimpeiros no território. 
 
* Todas as sessões têm entrada franca, com a retirada de ingressos limitados, na Loja Sesc, nos dias da atividade, a partir das 18h.

Serviço

A Febre
Dia 9/5, terça, às 19h 
Teatro. Grátis. 10 anos 
Dirigido por Maya Werneck Da-Rin 
Retirada de ingressos limitados, na Loja Sesc, nos dias da atividade, a partir das 18h 

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos
Dia 16/5, terça, às 19h 
Teatro. Grátis. 10 anos 
Com direção de João Salaviza e Renée Nader Messora 
Retirada de ingressos limitados, na Loja Sesc, nos dias da atividade, a partir das 18h 

O Abraço da Serpente
Dia 23/5, terça, às 19h 
Teatro. Grátis. 16 anos 
Direção de Ciro Guerra 
Retirada de ingressos limitados, na Loja Sesc, nos dias da atividade, a partir das 18h 

A Última Floresta 
Dia 30/5, terça, às 19h 
Teatro. Grátis. 16 anos 
Direção de Luiz Bolognesi 
Retirada de ingressos limitados, na Loja Sesc, nos dias da atividade, a partir das 18h

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