Ana Cañas e a sorte de cantar Belchior 

28/10/2022

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Foto: Marcus Steinmeyer

Ana Cañas sobe ao palco do Sesc Campo Limpo no próximo dia 05 de novembro, sábado, dentro da programação da 13ª Mostra Cultural da Cooperifa, interpretando repertório do compositor cearense Belchior, na turnê Ana Cañas Canta Belchior

“Sua obra está entre as mais geniais já escritas na música. Para mim, Belchior está ao lado de Caetano, Chico Buarque, Rita Lee e Gilberto Gil, entre outros. Só um gênio possui essa força, atemporalidade e verdade”, aponta Ana, que ao responder outras perguntas sobre o momento da carreira e o aprendizado que tem vivido a partir disso, garante que ela e Belchior com certeza seriam bons amigos, daqueles de jogar conversa fora pela madrugada. Confira a seguir.  
 

Em seus mais de 20 anos de carreira, antes de ter surgido a live que acabou virando o disco em homenagem ao Belchior, como era sua relação com o compositor? 
Conheci Belchior ainda na adolescência, pela voz de Elis Regina. O Belchior mesmo (compositor e cantor) entrou na minha vida há alguns anos atrás e sempre o admirei bastante. Mas mergulhar em sua obra e cantá-lo me deu um outro espectro, bem mais profundo e que só aumentou a minha admiração e respeito pelo artista e também pelo ser humano. Ampliou minha visão de vida! 
 
Antes de revisitar a obra de Belchior, você estava com outro disco em gravação. Já imaginou como será retomar esse trabalho anterior? 
Vai ser massa e foi um caminho natural. O primeiro disco (gravado em estúdio) é minimalista, introspectivo e com apenas dois músicos. Ele reflete bem os medos da pandemia, o isolamento e angústia. Agora, sai o ao vivo com a banda completa, arranjos diferentes e novas canções – incluindo uma inédita! São bem diferentes, mas a emoção é a mesma. 
 
Uma gravação é retrato de um momento, um registro. Você recorda como se sentiu quando ouviu sua voz pela primeira vez gravada em Ana Cañas Canta Belchior? 
Sim, foi muito emocionante. Lembro que foi Coração Selvagem. Percebi uma outra cantora. Transformei o próprio canto, a compreensão que tinha da letra, a dicção e o mergulho profundo em palavras de alguém que escreveu coisas perenes e muito atuais. Foi (e ainda é) um aprendizado cantar e gravá-lo. 
 
A inquietude dos pensamentos de Belchior está em suas letras. Dar voz a essas ideias te emociona de que forma? 
De formas que eu ainda não conhecia – inéditas – cantando. Seus versos são uma faca com mel na ponta. Tem a urgência do agora, do “faça e viva”, mas também reflexões metafísicas que permanecem no corpo e na alma. Completamente único e idiossincrático na história da música popular brasileira. Eu amo com todas as minhas forças. 
 
A turnê já está com mais de dois anos. De que forma esse show foi amadurecendo na estrada? A troca de experiências nos palcos, sabe?  
Ainda cresce, ainda se transforma e ainda se renova! É muito comum, após esse tempo todo, eu chorar na passagem de som! Sua obra está entre as mais geniais já escritas na música. Para mim, Belchior está ao lado de Caetano, Chico Buarque, Rita Lee e Gilberto Gil, entre outros. Só um gênio possui essa força, atemporalidade e verdade. 
 
Como você enxerga a responsabilidade de imprimir sua identidade partindo de uma obra consagrada como a de Belchior? 
Busco sempre a humildade, fundamental em tudo quando se trata de reverenciar um mestre, e também a entrega da alma e o recorte do feminino, um ângulo diferente do eu-lírico belchiorano.  
 
De alguma forma visitar e observar um artista da palavra como Belchior te marca de alguma maneira enquanto compositora? 
Completamente. O próximo disco autoral refletirá com certeza essa vivência – já reflete pois algumas já estão escritas. Belchior é uma escola na prosódia, uma escola musical e uma escola de vida. 
 
Visitar um artista profundo e cair na estrada com esse trabalho têm contribuído de alguma forma para sua visão de nosso país atualmente? 
Espero ver esse amor que sentimos em todos os shows nas urnas nesse momento. O público vem sempre emocionado e catártico e torço para que essa luz alcance novamente os horizontes necessários da democracia em nosso país. 
 
A sua obra é marcada por questionar o status quo, fala de empoderamento também. É possível traçar algum paralelo ou semelhança com as temáticas abordadas por você e Belchior? 
Acho que os nossos planetas em escorpião: ele 6, eu 4 [risos] nos colocam numa conjunção astral similar de sentimentos, atitudes e visões. Quando assisto às suas entrevistas no YouTube, me reconheço em suas falas e posturas. Com certeza, seríamos amigos de mesa de bar, cervejinha e madrugada adentro trocando ideias. 

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