Abram Szajman
Presidente do Conselho Regional do Sesc São Paulo
A diversificada programação cultural do Sesc se realiza com a intenção de cumprir sua principal missão: contribuir para a qualidade de vida das pessoas trabalhadoras do setor de comércio de bens, serviços e turismo, de seus dependentes e da sociedade em geral. Essa perspectiva pressupõe o desenvolvimento de todas as atividades socioeducativas, culturais, de saúde e lazer, efetivadas pela presença da instituição em diferentes regionalidades, sendo 43 unidades no estado de São Paulo, distribuídas por 24 municípios, em constante processo de expansão e aprimoramento.
Nessa perspectiva, a realização da oitava edição do CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo amplia a abrangência de atuação da instituição no atendimento a diversos públicos, contribuindo para a formação de plateias em variadas localidades, além de reafirmar seu compromisso com o desenvolvimento social e econômico do setor cultural, impulsionando suas cadeias produtivas.
Tendo a excelência como valor institucional, a longevidade do festival o consolida como uma referência no calendário artístico, destacando-se enquanto ação que valoriza e promove a linguagem circense – o que reitera a intencionalidade de ampliação da desejada democracia cultural. Por meio dos diversos âmbitos das articulações com agentes, produções e organizações, a iniciativa expressa a potência de ações colaborativas que buscam beneficiar toda a sociedade.
Luiz Deoclecio Massaro Galina
Diretor do Sesc São Paulo
Determinadas experiências se eternizam na memória afetiva das pessoas e mesmo as mais simples e cotidianas tornam-se marcantes em cada trajetória humana. Há ainda vivências que ultrapassam o plano individual e passam a compor o imaginário coletivo de uma sociedade. O circo é uma dessas manifestações que atravessa gerações sustentado por elementos lúdicos e virtuosos e que segue provocando emoções significativas ao longo do tempo.
Enquanto linguagem artística, as práticas circenses articulam sua trajetória por meio do diálogo contínuo entre tradições e contemporaneidade e, projetando o futuro, incorporam reinvenções. Seja nos picadeiros, praças, teatros, as realizações reafirmam o poder agregador do circo, que permanece como uma das manifestações mais acessíveis em diversos contextos e territórios, acolhendo e encantando diferentes grupos sociais.
Em sua oitava edição, o CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo reitera seu compromisso com a vitalidade da cena contemporânea e destaca as diversidades culturais, técnicas e geográficas de produções nacionais e internacionais. Reunindo uma programação voltada para variados públicos, o festival propõe incentivar tanto a aproximação com essa linguagem quanto o hábito de participação em espetáculos, intervenções, instalações, além de atividades formativas.
Por meio dessa iniciativa, o Sesc mantém seu propósito com a democratização do acesso aos bens culturais, evidenciando as potencialidades criativas, estéticas e políticas das modalidades circenses e, consequentemente, de quem as realiza. Com dedicação e entusiasmo – em várias fases da vida – pessoas envolvidas com as múltiplas fases de criação do circo asseguram que essa expressão continue mobilizando afetos e memórias individuais e coletivas, tendo como perspectiva o fortalecimento e desenvolvimento comunitário.
Ana Carla de Assis Ribeiro
Ari Felipe Miaciro Correia
Gilcemar Aparecido Borges
Julio Cesar Pompeo
Layana Peres de Castro
Marina Tomaz Zan
Natalie Ferraz Kaminski
Curadoria
Na contemporaneidade, em que fronteiras nascem e muros se erguem, a arte é fundamentalmente um espaço de resistência. Na oitava edição do Circos – Festival Internacional Sesc de Circo, os corpos em movimento são imagens de lutas invisíveis em um mundo em colapso, que trazem o encantamento como modo legítimo de insurgência.
No cotidiano da produção artística circense, o sonho da itinerância romântica dá lugar a treinos exaustivos e uma realidade material endurecida. Ainda assim, o circo se ergue todos os dias como uma utopia cinética. E, quando o impossível se torna rotina, o riso é lei. No circo, ilusionistas suspendem a lógica, palhaços e palhaças calam as próprias dores para desarmar o sofrimento coletivo e trapezistas desenham no ar uma promessa de liberdade. Nessa arte pneumática, o fôlego que sai do peito dos artistas é tragado pelo público em forma de espanto. E é justamente nessa hora que todos firmam o pacto ancestral de que, por instantes, o encanto pode vencer a distopia.
Mesmo com a capacidade de suspender momentaneamente a realidade, e justamente por isso, o circo não está apartado da sociedade. Não está imune a sua dureza. Nessa dinâmica, as habilidades técnicas dos artistas não são apenas virtuoses individuais, mas metáfora de resistência coletiva. Então, o circo é sim um espaço lúdico e mágico, mas também é um espelho quebrado onde cada pedaço reflete um tensionamento.
Nesta edição do CIRCOS – Festival Internacional Sesc de Circo, o picadeiro se torna território de escuta, memória e insurgência. Celebra-se a diversidade cultural como potência criativa, abrindo espaço para vozes e estéticas não hegemônicas que desconstroem narrativas dominantes e hipnotizam o olhar. Os corpos que envelhecem em cena não pedem licença — eles reivindicam seu lugar como composições vivas, que não controlam o tempo mas reescrevem a ideia de virtuose.
A oitava edição do festival aposta no circo como ferramenta de transformação social, gerando encontros que ampliam horizontes e sensibilidades. E, ao avançar na formação de um público adulto, reafirma que o circo vai além da infância e da magia e provoca também pensamento, crítica e profundidade — uma arte viva que pulsa no presente e convoca futuros mais justos e plurais.
Esta edição também joga luz sobre a ocupação e ressignificação de espaços públicos, funcionando como instrumento de articulação e potência coletiva. Nesse sentido, a valorização da cidade como espaço artístico, reflexivo e de troca entre as pessoas é um princípio curatorial basilar. Assim, pela primeira vez um passeio turístico faz parte da programação do festival, convidando o público a ver e viver a cidade sob novas perspectivas. Juntas, essas experiências demonstram como a arte circense e performática pode ressignificar a cidade, tornando-a um território de encontro e reinvenção coletiva.
No contexto da produção artística atual, a obstinação em manter um projeto coletivo, assim como em sustentar um solo, são atos de coragem. E em função deste reconhecimento, surge o Gira Latina, um mosaico pulsante de onze trabalhos solos de quatro países da América Latina – Brasil, Colômbia, Argentina e México -, que se conectam pela transversalidade de pesquisa da linguagem cênica. Essa gira não se faz em círculos vazios e isolados, que acabam por dar sempre no mesmo lugar; pelo contrário, são espirais ascendentes carregadas de identidades, configurações políticas, conflitos e paixões.
Ainda no âmbito dos solos, a Cena Expandida traz 5 espetáculos-palestras que evidenciam poéticas cênicas e biográficas enlaçadas em técnicas e vivências pessoais. São capítulos íntimos que geram discussões universais, nas quais cada artista se apresenta e discorre sobre seu trabalho.
Quando o mundo tenta segregar, o circo utiliza os corpos em um tratado de insubordinação. Nessa luta, o circo não é abrigo, é trincheira. E é assim que convidamos todas as pessoas a fazerem parte desse pacto de resistência em estado de graça.
Ana Carla de Assis Ribeiro é graduada em dança e bailarina. Ari Felipe Miaciro é arquiteto e urbanista, com pós-graduação em Design Gráfico, além de curador e produtor artístico. Gilcemar Borges é historiador especializado em artes plásticas, mágicas e manualidades. Julio Pompeo é graduado em artes cênicas e atuaou como, bonequeiro, ator e produtor cultural. Layana Castro é formada em linguística e ciências sociais, com mestrado em políticas públicas de memória. Marina Zan é jornalista formada em comunicação social e mestra em comunicação e cultura, atua como assistente de circo na Gerência de Ação Cultural do Sesc-SP. Natalie Ferraz Kaminski é formada em Direito e ciências sociais , atua como assistente de circo na Gerência de Ação Cultural do Sesc-SP.
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