Do que eu falo quando falo de esporte

26/05/2023

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Por Carime Elmor

No momento em que o autor japonês Haruki Murakami vendeu seu bar de jazz para se dedicar à escrita, ele encontrou na corrida uma maneira de manter o corpo saudável, mas também um estímulo para o próprio ofício, que exige disciplina, concentração e muitas horas de trabalho. Além de ser um dos principais nomes da literatura em todo o mundo, Murakami também se tornou maratonista e triatleta. Em seu livro “Do que eu falo quando falo de corrida” (Alfaguara, 2010), ele conta a influência que o esporte teve em sua vida e, sobretudo, em seu texto.

Estas aproximações fazem sentido aqui para apresentar a proposta do Dia do Desafio, uma iniciativa global da TAFISA (The Association For International Sport for All) que no Continente Americano é coordenada pelo Sesc SP e conta com apoio institucional da ISCA (International Sport and Culture Association) e da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). 

Algumas pessoas têm fascínio por exercício físico desde a infância, outras descobrem a importância de manter o corpo ativo quando notam algumas limitações — físicas ou emocionais — e querem superá-las.

Existem muitas formas de vencer o sedentarismo que podem ser prazerosas. O Dia do Desafio tem essa premissa e, por isso, ao longo da próxima quarta-feira, 31 de maio, junto a uma iniciativa nacional e de mais 14 países latinoamericanos, o Sesc Consolação vai abrir a quadra, a piscina, a sala de ginástica e outros espaços para eventos gratuitos pensados para todas as idades e níveis de prática. A ideia é oferecer informações e recursos para que as pessoas adotem a atividade física como parte do estilo de vida. A programação do dia é aberta a quem chegar, sem necessidade de inscrição. 

Depois de um dia inteiro experimentando novas modalidades, o objetivo é que cada um escolha o que te fez bem, trouxe vigor e também o que combina com a própria rotina. Seja ioga, ciclismo, capoeira, dança, jogos de quadra, ginástica, natação, caminhada, corrida, entre outros, o esporte ajuda a manter a vida sob controle e estimula as pessoas a definirem metas e objetivos pessoais e profissionais possíveis. 

A educadora do Sesc Consolação, Ciça Marrara, atua em diferentes práticas e, de maneira aberta e flexível, explica o papel do esporte na vida das pessoas. “O exercício físico faz com que a gente descubra o prazer de colocar o corpo em movimento e aquilo que pode trazer sentido para a gente”. Ela também enumera outros benefícios inerentes, como a convivência em espaços coletivos, a descoberta de novas habilidades e a percepção sobre as transformações que aos poucos acontecem com o corpo. “Você vai ficando mais habilidoso, com uma capacidade maior de realizar os movimentos e isso vai passando para o seu dia a dia como um todo”. 

Políticas públicas, ações comunitárias ou de instituições que tenham foco no social contribuem para que atividades físicas diversas sejam incorporadas na sociedade aliando saúde, autoconhecimento e bem-estar. Fazer uso dos centros urbanos para praticar esportes é outro foco da campanha. “Eu não preciso ir para uma academia ou para um lugar fechado. Eu também posso ir para uma praça, para a rua, um parque público e promover ações e atividades nesses lugares”, diz Ciça. Ela complementa sua fala chamando as pessoas para a caminhada noturna que o Sesc Consolação vai promover no Minhocão. A educadora espera que a ação incentive a/o participante “a ir a esses espaços independentemente de o Sesc promover a caminhada ou não, que ela possa ir sozinha ou com um grupo, reunir os amigos e que ocupe esse espaço e use para a prática da atividade física”. 

No Sesc Consolação, o Dia do Desafio também está sendo pautado pela interação entre os esportes e as artes. Na noite de abertura da campanha, que aconteceu no dia 24 de maio no Teatro Anchieta, a Slam das Minas SP subiu ao palco com a performance “Poetas da Bola”. Cinco garotas com corpos e vivências diversas criaram narrativas poéticas sobre o protagonismo das mulheres no futebol. Em ano de Copa do Mundo, com a primeira partida marcada para 20 de julho, o tema se torna ainda mais premente. Suas palavras deram o tom do Bate-Papo “Copa do Mundo de Futebol Feminino: onde estamos e para onde vamos” que aconteceu na sequência.  

A meia-atacante do Corinthians Grazi Nascimento, a treinadora Cris Souza, eleita a melhor técnica de futsal feminino do mundo e a jornalista Milly Lacombe, colunista de esporte do UOL, se reuniram para discutir o atual cenário do futebol feminino e expectativas para a modalidade. A mediação foi feita pela educadora do Sesc Consolação Luciana Giannocoro. As três convidadas partilharam as próprias experiências dentro de seus contextos e tipos de atuação.

Grazi contou sobre a decisão de querer ser jogadora de futebol. A mãe ficou receosa de a filha interromper os estudos, mas a menina queria os dois: estudar e treinar. O padrasto, ex-jogador, percebeu o talento e montou uma escolinha de futebol em Brasília que aceitasse garotas e, assim, ela deu início a uma carreira brilhante. Grazi fez parte da Seleção Brasileira e disputou três Copas do Mundo: em 1999, 2007 e 2011. “Quando eu comecei, lá em 1996, na minha primeira convocação, a gente ainda tinha muita dificuldade em relação a apoio por parte da própria CBF [Confederação Brasileira de Futebol]. Tem até uma história interessante que aconteceu durante uma transição de patrocínio entre a Umbro e a Nike, quando a gente teve que fazer uma espécie de ameaça para receber o material novo e poder participar da Copa do Mundo”. 

Grazi também se manifestou contra o racismo no futebol e relembrou um fato que ocorreu em 2021 durante a Copa Libertadores da América, quando sua colega de Seleção, Adriana Leal da Silva, que atualmente joga no Orlando Pride, sofreu um episódio de racismo dentro de campo, no Uruguai. A partida continuou, mas elas voltaram silenciosas e Grazi comemorou cada gol erguendo o braço com o punho cerrado, um símbolo de luta. “Eu chamei as meninas e falei: ‘A única maneira que a gente tem de poder protestar contra isso vai ser fazendo esse gesto”.

Cris comemorou alguns avanços e pontuou as barreiras que o time de mulheres do futsal E.C Taboão Magnus enfrentou por falta de apoio. Atualmente, elas são campeãs da Libertadores, da Super Copa, da Copa do Brasil, entre outros títulos, e estão entre os três melhores times de futsal feminino do mundo. “A gente suou muito para chegar em como está hoje. No começo não tinha quadra e eu dizia: Tá bom, vocês não vão me dar quadra? Vou treinar no estacionamento, vou treinar na arquibancada até vocês me darem um espaço. Tudo foi feito com muita resiliência e nos primeiros seis meses de trabalho a gente já ganhou um título dos jogos regionais”.  

Com o avanço do time, Cris foi profissionalizando a equipe e garantindo o que precisavam para treinar e participar de torneios nacionais e internacionais. “Eu recebo muitas mensagens no Instagram de homens, dizendo: ‘Cris, você me inspira’. E é até a assustador a gente olhar, porque não estamos acostumadas com uma mulher sendo referência de treinadora para um treinador. A gente vem quebrando paradigmas em vários aspectos. Temos uma mulher estrela como a Amandinha, oito vezes campeã do mundo de futsal, ela baila com a bola”. 

De 14 a 22 de junho, Cris Souza oferece o curso teórico-prático “O desenvolvimento do futebol de mulheres” na Sala Ômega (8º andar) do Sesc Consolação.

Respondendo ao questionamento de Luciana Giannocoro, Milly começou sua fala com Sissi. “Ali havia um ser humano muito forte, muito potente, muito capaz, porque tudo dizia para ela: Você não vai ser. Você não pegar esse talento e usar esse talento para coisa nenhuma. Você não vai raspar o seu cabelo. Você não vai vestir essas roupas. E ela desafiou tudo e todos”. A jornalista também disse que ver Sissi jogar é poesia: “Ela escreve com os pés” e chamou a atenção para o Brasil já ter tido “uma Marta antes da Marta”, mas pouco ouvirmos falar sobre ela. Sissi foi eleita a segunda melhor jogadora do mundo em 1999. 

A monitora de esportes Luciana Scarin explica que a abertura do Dia do Desafio marca o desejo do Sesc de unir esforços para que mais meninas e mulheres, de todas as idades, se engajem nas atividades esportivas das unidades. “A ideia é que a gente consiga fomentar essa participação de meninas e mulheres nas atividades esportivas e acabou que coincidiu com esse grande evento do Dia do Desafio e com a Copa do Mundo, então nós trouxemos para o nosso palco, que é o Teatro Anchieta, essa conversa de mulheres que são referência no esporte e nas modalidades que estão envolvidas, seja dentro ou fora da quadra”. Uma das ações contínuas adotadas pelo Sesc Consolação é o projeto “Sesc Delas”, que vêm oferecendo aulas gratuitas a fim de formar cada vez mais grupos e equipes de mulheres.

Antes do slam e do bate-papo, a campeã do mundo de Futebol Freestyle, Marisa Cintra, ensinou o público presente truques e acrobacias com a bola. Crianças e adultos também brincaram com os “Mini Futebóis”, que foram mesas de mini pebolim, jogo de botão e dedobol montadas no foyer do teatro. 

Na abertura, houve o diálogo com a poesia, e no dia 31 haverá a interação do esporte com a música. A DJ Lisa vai discotecar na piscina junto às aulas especiais de Condicionamento Físico Aquático e o DJ Renee Azeitona vai participar de aulas especiais em grupo de Ginástica Multifuncional no Ginásio Vermelho (2º andar). As pessoas que preferem atividades com exercícios de respiração e postura podem vir para as aulas de ioga que promovem a força, a flexibilidade e colaboram com a concentração e a prática da meditação. E quem quiser se arriscar na quadra, o convite é para participar dos circuitos de habilidades com condução de bola e velocidade para Futebol, Basquete, Vôlei e Handebol.

Dentro desta perspectiva múltipla e acolhedora, Carol Seixas, gerente da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo do Sesc SP e da coordenação do Dia do Desafio no continente americano, destaca que “serão ofertadas ao público em geral atividades diversificadas, cuidadosamente planejadas em todo o Continente Americano, intencionando a participação de pessoas com ou sem experiência, para que estas possam compreender os benefícios das atividades físicas, valorizando o autocuidado e um tempo de qualidade para si próprio no cotidiano”.  

Freestyle Delas (Foto: Danilo Cava)

DIA DO DESAFIO 2023 
Dia: 31 de maio, quarta-feira 

Desafie-se CorporalMente
Ginásio Vermelho (2º andar)
Horário das aulas: 8h, 10h45, 12h e 15h30.

Desafie-se na Quadra, com educadores(as) do Sesc
Ginásio Azul (5º andar)
Diversos horários das 7h10 às 19h.

Desafie-se na Água ao Som da DJ Lisa
Piscinas (subsolo)
Horário das aulas: 8h, 9h, 11h, 12h, 13h, 14h,15h30 e 17h30.

Desafie-se na GMF ao Som do DJ Renee Azeitona
Ginásio Vermelho (2º andar)
Horários variados:
7h15 às 7h45
9h15 às 9h45  
10h às 10h30
13h às 13h30
14h às 14h30
14h30 às 15h
17h às 17h30
17h30 às 18h
19h às 19h30

Caminhada Noturna – Minhocão
Elevado Presidente João Goulart (Minhocão)*
Horário: das 20h às 21h20
*Ponto de encontro no acesso da Consolação ao Minhocão.

Mais informações em: www.sescsp.org.br/diadodesafio e www.diadodesafio.org.br.

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