Ed. 83 – Entrevista com Gilberto Natalini

14/09/2022

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Foto: acervo pessoal de Gilberto Natalini.

“O envelhecimento no Brasil é muito rápido, mais rápido do que no resto do mundo. E as estruturas não estão preparadas para isso. Então, qual é nosso trabalho hoje? É prepararmos as cidades, as pessoas, a família, a sociedade para receber, e receber bem, e dar função a esses idosos que estão chegando… esse é o desafio.” Gilberto Natalini

Gilberto Natalini nasceu no Rio de Janeiro. É formado em medicina e começou cedo na vida pública, engajando-se no movimento estudantil contra a ditadura militar. Aproximou-se das causas populares quando iniciou o atendimento médico voluntário que mantém em Cangaíba até hoje. Sempre colocou a política a favor da saúde e do meio ambiente. Como vereador, dedicou-se às causas das pessoas idosas e do envelhecimento ativo. Hoje em dia, Gilberto Natalini diz que não tem partido, e que a primeira bandeira da sua vida é a liberdade, a democracia.

Mais 60 – Natalini, a gente sempre começa a entrevista pedindo para a pessoa falar sobre suas origens, onde nasceu, família…

Natalini – Bom eu nasci em 1952, na cidade do Rio de Janeiro, quer dizer, sou carioca de nascimento. Meu pai chamava Urbano, minha mãe chamava Janete. Eu tenho dois irmãos, Gilson e Urbano Filho. Em 1985, casei com a Elizete e tenho dois filhos, Marina e Rafael. São meus filhos e já estão com trinta e poucos anos.

Meu pai era de São Paulo, ele era filho de um lavrador, de um camponês do café aqui do interior de São Paulo, e meu pai carregava boi de um lado para o outro, era boiadeiro. Ele foi ao estado do Rio, em Macaé, levar uma boiada e lá ele conheceu minha mãe, dona Janete, que era

filha de um casal de libaneses, pequenos comerciantes ali, da serra macaense, Glicério.

Que história interessante… então eles se casaram?

Eles então se casaram, inicialmente vieram para São Paulo para trabalhar. Aí minha mãe engravidou e quando foi para eu nascer, eles vieram para o Rio. Depois, voltamos

para São Paulo, viemos morar aqui em São Paulo, meu pai foi zelador de um prédio. Morei ali até seis, sete anos e depois fomos embora para o estado do Rio. Ele foi trabalhar numa usina de açúcar lá em Campos dos Goitacazes, e ficamos lá até eu completar 15, 16 anos. Com 16 anos eu vim para São Paulo, para a casa do meu avô paterno, porque eu queria ser médico.

E aí começa a sua busca para ser médico?

Antes de completar 17 anos eu estava fazendo cursinho. Passei numa provinha que eles tinham, que deu um desconto grande no curso. Aí, fiz o cursinho do Objetivo e o terceiro ano do colégio numa escola aqui no Bosque da Saúde, Conde José Vicente de Azevedo, e passei no vestibular. Estudei como um louco, sabe um louco? Como um maluco, dia e noite estudando sem parar, fim de semana também. Sabia-se que em São Paulo, os alunos tinham muito mais conhecimento, mas eu me esforcei. Passei, e passei na Escola Paulista de Medicina. Estudei com muita dificuldade, porque meu pai não tinha dinheiro, muita dificuldade. Comprar um livro era um sufoco. Até para sobreviver aqui em São Paulo, uma terra desconhecida.

E como você conseguiu se manter?

Eu logo consegui uma monitoria na Farmacologia da Escola Paulista de Medicina. E como monitor, eu ganhava um salário e com aquele salário conseguia pagar as minhas despesas mínimas aqui como estudante. Depois fui para a monitoria de Patologia Clínica, na Escola Paulista, daí, no quarto ano, quinto ano, um plantãozinho, daqueles que acadêmico faz, consegui terminar o curso, prestei a residência médica, passei. Passei na Escola Paulista, passei no Servidor Municipal e passei no Iamspe. Eu ia fazer cirurgia e no Iamspe os residentes operavam demais, como aconteceu comigo. Daí, fiz dois anos de residência no Iamspe e saí para o mundo médico e para o mundo político social. Desde muito cedo que eu faço essa agitação psicomotora ((risos)) na área política e nunca mais parei.

“Gilberto Natalini é médico. Vinculado ao SUS, atende pelo SUS, e terminará sua carreira profissional como médico do SUS.” Essa afirmação está no livro Lutas sem Fim, 1970-2020, que é um livro incrível sobre a sua vida. Por favor, fale sobre isso.

Desde os cinco anos de idade eu dizia para todo mundo que eu queria ser médico. Lembro de uma vez que entrei em um ônibus, quando eu morava aqui na São João com meu pai, e tinha um guarda civil naquela época, aquela Guarda Civil que existia, de azul, né, olhei para o guarda e disse assim “se um dia o senhor ficar doente, o senhor me procura porque eu vou ser médico”. ((risos)) Cinco anos, então, desde criancinha eu queria ser médico. Eu gostava de ser médico, lá em Campos montei um laboratório de pesquisa, olha, eu pintava e bordava nessa coisa da medicina, nessa coisa científica. E aí, eu vim para cá, foi aquele susto enorme, entrei na Escola Paulista, na minha opinião, uma das melhores do Brasil.

E como foi a partir da sua entrada na universidade?

Eu fui preso várias vezes como estudante. Fiquei lá quase dois meses na mão do Ustra, que era torturador. Depois fui preso outras vezes, na luta para não privatizarem a Escola Paulista de Medicina, na luta pela liberdade dos centros acadêmicos. A gente viveu um período difícil do regime militar. E sempre lutei pela liberdade, pela democracia, junto a um grupo de amigos, de colegas de lá. Daí me formei, e decidi, desde os primeiros anos da faculdade, que eu seria médico de pobre. Eu queria tratar o povo pobre. Eu não queria me formar para ganhar dinheiro com pacientes ricos. E, para isso, eu ia ser médico do serviço público. Essa foi uma opção de vida. E assim foi. Eu me formei em dezembro de 1975, prestei vestibular para residência, passei, mas imediatamente juntei um grupo de 14 colegas médicos e estudantes dali para fazer um voluntariado médico na igreja Bom Jesus do Cangaíba. Em janeiro de 1976 nós entramos no fundo daquela igreja, num pequeno ambulatório que tem lá. Eu vou lá há 47 anos.

E você continua clinicando?

Sim, tenho consultório. Eu montei um consultório em Santo Amaro para poder complementar, porque o sistema público, se você for viver dele somente é muito pouco. Eu trabalhei em vários hospitais do SUS aqui. Trabalhei no Regional Sul, trabalhei no Campo Limpo, em vários hospitais, em centros de saúde, atendi em prontos-socorros de bairros, a lista é enorme. E, claro, o salário do serviço público, não só para os médicos, mas para todos os profissionais, é pequeno. Em 1985 eu abri consultório aqui em Santo Amaro, onde atendo até hoje. Aposentei no serviço público, aposentei na prefeitura de São Paulo e tenho esse voluntariado lá que é o xodó da nossa vida e faz 47 anos que a gente vai lá atender de graça aquela população.

Que trabalho lindo!

Já foram 163 mil pessoas atendidas lá. Eu operei ali, no fundo daquela igreja, em torno de 3 mil pessoas. Eu uso meu tempo com quem precisa mais, quem tem como pagar os colegas atendem. Sou feliz assim. No meu consultório de Santo Amaro, para você ter uma ideia, 50% de quem eu atendo, atendo de graça, porque não tem como pagar, eu falo “deixa aí, depois Deus paga”. Tem um salário invisível aí, que a gente não sabe quanto é, que é salário de diretor de banco, que não entra como dinheiro, entra como felicidade.

Natalini, por favor, conta pra gente como você começou sua carreira política.

Minha carreira política e social, eu sempre coloco o social junto, para poder ampliar um pouco, eu comecei com 12 anos. Lá em Macaé, perto de Campos, eu tinha um tio, José Madeira, uma figura humana… Era paraplégico, muito inteligente, era de uma família rica, lá de Pernambuco e era do partido comunista. Ele era meu tio e meu padrinho inclusive, ele era um agitador. Era inconformado. Embora fosse de uma família aristocrática, ele optou também por ajudar os camponeses pobres de Macaé. Eu andava na garupa dele e ele ia fazer as reuniões da Liga Camponesa, da reforma agrária, aquelas loucuras todas e me levava. Então, a gente ia por aqueles campos de Macaé fazendo as reuniões dele, na casa dele, em 1964, antes do golpe. Quando veio o golpe, ele foi preso várias vezes, torturado, e eu peguei aquele vírus da atividade social e política. Comecei e nunca mais parei. Fiz articulação no ginásio, no colégio, na faculdade, fundei a primeira Associação de Médicos Residentes no Brasil, fui o primeiro presidente e fomos para Cangaíba. O que nós fizemos em Cangaíba, no meu site tem um livro, Os Médicos de Cangaíba, que conta desse trabalho de assistência, mas principalmente de mobilização e educação popular em saúde.

E, a partir disso, você não parou mais?

Aí, eu nunca mais parei minha atividade. Bom, na prisão eu fui 17 vezes no regime militar. Eu dava trabalho para eles, eles tinham uma raiva de mim danada. Mas é porque a gente era contra aquilo, era a favor da liberdade, a favor da participação, a favor dos sindicatos livres, dos centros acadêmicos, eu era jovem, não tinha medo de nada. Depois vieram os movimentos da redemocratização, veio a luta pela anistia, o movimento contra a carestia, nós participamos de tudo isso, desde a década de 1970 até a Constituinte de 1988. Na luta pelas Diretas, eu mais um grupo aqui da zona sul mobilizamos 110 ônibus lotados de gente, e fomos para a Sé. Eu fui por algum tempo do Partido Comunista do Brasil, durante alguns anos. Aí, eu saí. Sou fundador do PSDB. Eu fiquei no PSDB mais de 30 anos. Em 2010, eu saí do PSDB e passei a ser militante do Partido Verde. Fiquei no Partido Verde até 2020 e saí. Saí numa boa, sem confusão, mas saí. Hoje, eu não tenho partido. Hoje eu sou free lancer da agitação social e política do meu país.

Você ficou cinco mandatos sucessivos como vereador de São Paulo?

Cinco mandatos. Vou dizer para você, faço política por paixão. Para melhorar a vida dos outros. Uma vez, minha mãe perguntou “você que gosta tanto de medicina, os pacientes gostam tanto de você, por que você se mete com política?” e eu falei: “Minha mãe, na medicina eu opero um a um, eu operei 17 mil na minha carreira médica, mas na política, se eu acertar uma leizinha, posso melhorar a vida de milhões”. É no atacado, então se eu faço política é porque lá você consegue resolver o problema de uma multidão. Então ela entendeu. Ela falou: “É, você tem razão”.

Você defendeu diversas pautas, principalmente da saúde e do meio ambiente, certo?

Na verdade, a primeira bandeira de vida minha é a liberdade, a democracia. Essa é a bandeira-mãe, que eu carrego comigo. A democracia, só quem foi privado da liberdade sabe da importância que tem viver no regime da democracia, eu fui privado e sei disso. A democracia é a primeira bandeira. A segunda que eu tenho é a bandeira da saúde, porque sou médico e médico em atividade, como te falei. Foram 120 mil atendimentos, de consultas, de pacientes e 17 mil pessoas que eu operei. Então, é uma multidão. Eu faço isso com muito carinho, entendeu? Eu me dedico muito. A política de saúde eu comecei em 1970 na Escola Paulista de Medicina para criar um sistema de saúde que atendesse o povo necessitado do Brasil. A gente conseguiu criar. O SUS é o grande plano de saúde do povo brasileiro e eu fui uma linha, um grãozinho de areia junto com toda aquela multidão de pessoas que ajudou a construir isso. Eu fui presidente do Cosems [Conselho de Secretários Municipais de Saúde] duas vezes em São Paulo e do Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde], de 1997 a 2000. Fui secretário da saúde em Diadema e em São Lourenço.

E sobre o meio ambiente?

Na questão ambiental, desde muito cedo eu me envolvi, porque aprendi como estudante, médico, que a maioria dos agravos de saúde da vida de uma pessoa vêm do lugar em que ela mora ou dos hábitos de vida que ela tem. Essas duas coisas que fazem aparecer um câncer, aparecer um enfisema, entendeu? A pressão alta… Então, eu aprendi isso e vi que tinha que mexer com a questão ambiental. Hoje sou um ambientalista, procuro estudar, militar mais na causa. E, por último, uma bandeira que eu tenho e não largo nunca é a questão da moralidade pública. Eu sempre brinco, sou um carro velho, rodado, o motor às vezes bate o pino na subida, mas não tem um arranhãozinho moral na lataria. A lataria é impecável como saiu da fábrica!

Você é autor da lei que obriga a prefeitura a usar água de reuso para lavagem de feiras, parques e ruas, entre tantas outras leis. E essa lei vai ao encontro do objetivo de desenvolvimento sustentável para atingir a agenda de 2030 da ONU, não é?

Vai. Essa lei minha é de 2004. E pegou. Eu perdi a conta. Eu contei até 2014 quantos litros de água potável a cidade economizava com a nossa lei. Eram muitos milhões de litros até 2014. Depois não contei mais, mas é uma quantidade monstruosa de metros cúbicos de água tratada que não é usada. Porque não é toda cidade do Brasil que usa água de reuso. São poucas. Então, essa lei foi a primeira que aconteceu, foi a pioneira, nós fizemos com um monte de gente, um monte de ambientalistas, e a lei está funcionando até hoje aí. Eu sou autor de 419 projetos de lei, 147 leis aprovadas. Na área ambiental tem mais de 50.

Muitas leis, todas relevantes… e para as pessoas idosas?

Para os idosos, a gente tem a lei dos cuidadores de idosos da cidade, eu tenho a lei de envelhecimento ativo, que é uma lei relevante, eu criei a Coordenadoria dos Idosos na prefeitura de São Paulo, não existia, eu que criei em 2005, eu que propus a Comissão dos Idosos da Câmara de São Paulo, que não tinha. Era uma subcomissão da Saúde, eu propus que se criasse a Comissão dos Idosos…

Qual é a sua relação com a pauta da velhice? Fale sobre o que você fez como político e o que acha que precisa ser feito ainda para as pessoas idosas.

No começo, foi mais uma questão profissional, porque lá em Cangaíba, naquele ambulatório lá que a gente atendia, 70% das pessoas eram idosas. Então a gente começava a ver que precisava ter um olhar especial para essa população. Nós criamos grupos de idosos lá, grupos de caminhadas, grupos de diabéticos e fomos aprofundando sem rigor científico, mais pelo feeling clínico. Daí, quando eu fui para a Câmara, quando eu fui para o Cosems e o Conasems, nós fizemos, mesmo como secretário de Diadema, várias iniciativas para idosos. Nos Cosems e Conasems nós fizemos várias atividades de políticas públicas de saúde voltadas para os idosos. Eu era presidente do Conselho Nacional. Eram 5.560 municípios que a gente coordenava na comissão tripartite do SUS. Então a gente agitou muito e essa questão do idoso sempre esteve na nossa pauta. Na Câmara, criamos o Congresso do Envelhecimento Ativo do Município de São Paulo, o Programa dos Cuidadores da Cidade, fizemos um curso de cuidador na Câmara, nele já passaram quase sete mil pessoas, um curso de um dia, de iniciação para os cuidadores de idosos, junto com o grupo Apoio, a Luciana Feldman me ajudou, ajuda, é minha assessora há muitos anos, agora continua lá fazendo essa coisa toda. É um dia, é de iniciação, mas é muito bem-feito.

E o que falta para esse público especificamente?

Eu diria para você que nós vivemos um momento muito ruim para as políticas sociais. É claro que os idosos não iam ficar fora dessa situação. Agora, se a gente for pegar historicamente, avançaram bastante os benefícios para os idosos. Nós temos uma legislação muito boa. O Estatuto do Idoso é muito bom. A questão é que o problema financeiro existe e é enorme. Em várias cidades do interior do Brasil, por exemplo, mesmo aqui em São Paulo, a família vive muitas vezes graças à aposentadoria ou àquele ganho que o idoso tem, daquele benefício social que o idoso tem, são muitas [famílias]. Aí tem uma outra questão, que é como uma parte da população vê o idoso, como um inútil, como um peso na vida da família, então o destrato ao idoso é muito grande, a violência contra o idoso é muito grande, têm índices insuportáveis. Eu acho que nós estamos em um momento de rever isso tudo, e por quê? Porque a população está envelhecendo, eu fiz 70 anos esses dias atrás, eu fiz 70 anos assim sem querer, ((risos)) sabe?

Natalini, por favor, fale sobre o movimento Velhices Cidadãs (antes nomeada como Velhice Não É Doença), essa mobilização tão importante que você faz parte e foi um dos precursores…

Eu conheci o [Alexandre] Kalache na nossa militância na Câmara. Eu dei o título de Cidadão Paulistano ao Kalache. Ele teve merecidamente, porque ele é uma pessoa muito especial. Daí esse movimento foi uma faísca. Eu conheci a Lina, que trabalha com Alzheimer, conheci o Sergio Pascoal, conheci vocês do Sesc, Luciana Feldman, muita gente que participa ali, a gente já se conhecia, e de repente vem esse negócio da OMS (Organização Mundial da Saúde) de querer taxar o velho como doente, daí nós nos juntamos, assim, e foi um cataclisma, fizemos uma agitação psicomotora muito grande com esse grupo Velhice Não É Doença e conseguimos reverter a decisão da OMS. O que aconteceu com isso? Isso foi uma vitória mundial. Não foi do Brasil e nem nossa. Daí a gente se animou e falou: vamos continuar? Vamos. Então, criou-se o Coletivo Velhices Cidadãs, que tem esse nome no plural, porque a velhice não é igual, e envolve a questão da cidadania. Nenhum direito a menos para os idosos. Esse é o nosso lema e lutar para cumprir a legislação, para avançar. Construir um Brasil que possa receber os idosos com dignidade. Esse é o nosso trabalho.

Vamos voltar para a questão política, porque traz uma questão social importante. A pergunta é sobre a diversidade na Câmara. Você acha que há essa diversidade de raça, idade, gênero, etnia, orientação sexual na Câmara dos Vereadores? Nós estamos nesse caminho ou ainda tem muito para fazer sobre esse assunto?

Não tem representatividade a altura na Câmara Municipal de São Paulo, infelizmente, não tem. É sub-representado. Por exemplo, contam-se nos dedos os vereadores e as vereadoras negras. A questão da sexualidade, também, o número de pessoas que tem lá não representa a influência da diversidade sexual. Você sabe que quando eu estava como secretário de participação e parceria criei a Coordenadoria da Diversidade Sexual da Cidade de São Paulo, que existe até hoje e é ativa, além do primeiro Centro de Atenção à Atividade Sexual da Cidade de São Paulo. A Câmara não tem a representação que você está dizendo, a Câmara não é um espelho, é um espelho distorcido da cidade. E aí tem um outro problema que eu tenho que falar. Às vezes, tem a pessoa, mas a pessoa não veste a camisa da causa que ela representa. Chega lá e não veste a camisa… Agora, tem lá muitos militantes aguerridos, muito firmes, corajosos, que representam a questão racial, de gênero, dos movimentos de diversidade sexual, dos idosos…

E o que você acha que tem que ser feito para termos mais representatividade?

Olha, não tem governo ruim para povo organizado. Não tem governo ruim se o povo se organiza. Se não houver organização da sociedade para eleger representantes a altura, você vai estar sempre sub-representado.

Para finalizar, quais são seus projetos de vida, Natalini?

Olha, continuar o que eu sempre fiz, como aos 12 anos, como te falei. Ajudar a transformar o mundo, para que as pessoas vivam melhor. Esse é meu objetivo. De todas as maneiras que eu puder, de preferência, pacificamente. Também democraticamente, eu sou muito indignado com a desigualdade social, acho que o maior problema que o Brasil tem, o maior de todos, é a diferença entre os mais ricos e os mais pobres. Isso é vergonhoso, então, a nossa luta é distribuir um pouco de riqueza, fazer o conhecimento chegar para todo mundo, diminuir a violência, pregar a convivência pacífica entre as pessoas, respeitar as pessoas que têm mais experiência de vida, respeitar nossas crianças, está certo? Não pegar dinheiro público, não roubar do povo o que tem, botar o dinheiro para servir as pessoas, isso que me faz viver. Isso é a gasolina da minha vida. É o combustível, digamos assim, desde que eu era moleque e vou continuar assim até o último suspiro. E me sinto absolutamente bem para fazer isso. Depois de eu ter sido parlamentar cinco vezes, 20 anos que fiquei na Câmara, eu deixei a Câmara e a minha frase foi assim: “Eu não me aposentei, eu mudei de trincheira”. Essa é minha frase, continuo trabalhando, lutando, não exijo muito de mim financeiramente para viver, tenho uma vida simples, mas não me falta nada também.

Natalini, muito obrigada pela entrevista.

Eu agradeço muito, quero ser útil.

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