Museu de Arte de Rua: releituras modernistas

18/10/2022

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Em meados dos anos 1980 o Brasil ficou surpreso com a notícia da venda da tela Abaporu (1928) de Tarsila do Amaral, obra fundamental na história das artes brasileira e uma das principais do período antropofágico, do movimento modernista no Brasil, que fora vendida pela artista, em meados dos anos 1960, ao professor Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo (MASP). O professor Bardi, por sua vez, revendeu ao colecionador Érico Stickel.  

Em 1984, o galerista Raul Forbes adquiriu a obra com a intenção de leiloá-la, o que veio a acontecer em 1995. A tela foi arrematada pelo empresário argentino Eduardo F. Constantino e fez parte de sua coleção até chegar ao Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), onde permanece até hoje 

Na época, houve uma grande mobilização para que a obra não deixasse o país. Depois de várias tentativas de compradores brasileiros, o quadro seguiu para a casa Christie`s de leilão, em Nova Iorque, e mesmo tendo sido classificada com patrimônio histórico, não conseguiram que ficasse em solo brasileiro. 

A partir da notícia de que a obra seria vendida, com a possibilidade de deixar o País, pensei que poderia replicá-la nos muros da cidade, para que mais pessoas tivessem acesso a um trabalho que representa a cara, a história e a nossa identidade cultural. 

Passei a pintar uma releitura do Abaporu pelos muros da cidade de São Paulo e então percebi que teria que ter uma série mais robusta. Algo mais próximo de uma ideia de galeria, um Museu de Rua. 

No final dos anos 1980, pensei no Museu de Rua, uma série de “graffitis” em homenagem à Semana de Arte Moderna de 22 e a nomes fundamentais para o movimento modernista, como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Lasar Segall e Tarsila do Amaral, além de artistas pontuais na história da arte, entre brasileiros e estrangeiros. Pintei essas obras entre 1987 e 1989 nos muros cidade de São Paulo.   

Recentemente retomei a ideia do Museu de Rua. Criei uma série de releituras como a “ Mona Tarsilete”, um híbrido de Tarsila e Leonado da Vinci, uma Mona Lisa negra, antropofágica e moderna. 

A convite do Sesc Carmo recriei cinco obras do “Museu de Rua” para a exposição Margens de 22: Presenças Populares. Foi um reboot moderninho para obras quase centenárias, a partir das que fiz no início da carreira como artista urbano, dando a elas um novo olhar a partir do meu longo percurso nas artes visuais e urbanas.  

Por Ozi

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