O livre brincar como antídoto natural contra ansiedade infantil

01/07/2018

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Ana Vieira antes da entrevista | Foto: Michelle Magrini

Lições da Antroposofia e da Neurociência sobre benefícios do ambiente natural para o desenvolvimento da criança

Seria coincidência que o tempo dedicado às brincadeiras em ambientes naturais diminuiu nas últimas décadas, enquanto aumentou o número de crianças com ansiedade e depressão? Mario Fernández Sánchez, jornalista no El País, pesquisador em neurociência e infância, defende que não há em artigo que percorreu as redes de estudos sobre infância e educação infantil neste ano.

Com essa e outras ideias de Sánchez em mente e considerando os importantes paralelos entre os apontamentos recentes das pesquisas da neurociência e o entendimento e as práticas derivadas da antroposofia, a revista E Online entrevistou três mulheres do movimento antroposófico no Brasil, em ocasião do projeto Ideias e Ações para um Novo Tempo 2018

Antroposofia é a “ciência espiritual”, na definição de Rudolf Steiner, seu criador. Um caminho em busca da verdade que preenche o abismo historicamente criado, desde a escolástica, entre fé e ciência. Pode ser considerada um método de conhecimento que aborda o ser humano em seus níveis físico, vital, anímico e espiritual. Trata-se de uma Ciência que se interessa pelos processos físicos abordados pelas Ciências Naturais e também por todos aqueles processos que não podem ser materialmente mensuráveis.

Na entrevista em vídeo falamos com a Ana Vieira Pereira, assessora pedagógica da Escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo, e da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, em Botucatu. Também com Pilar Tetilla Manzano Borba, especializada em Tratamento Neuroevolutivo, pós-graduada em Antroposofia na Saúde pela UNISO, e com a Thais Rosina Barbosa de Medeiros Ribeiro, dermatologista e médica antroposófica.

Aprendendo a regular raiva e medo

A importância do contato da criança com a natureza implica a necessidade dos pais se auto educarem – um princípio da Pedagogia Waldorf é que toda educação é auto educação, não educa-se o outro, educa-se a si mesmo para ser um bom espelho para o outro também se auto educar – contendo a ansiedade nos cuidados, no excesso deles, com as crianças para não privá-las de administrarem seus próprios riscos, como Ana Vieira detalha no vídeo.

Mario Fernández parece concordar com isso ao afirmar que as crianças devem escolher os riscos que podem administrar, não cabendo ao adulto impor riscos maiores do que a criança está disposta a enfrentar, nem superprotegê-las. Segundo ele a teoria da regulação emocional através da brincadeira propõe que uma das suas principais funções entre jovens mamíferos é a aprendizagem de como regular o medo e a raiva, sendo importante no aprendizado para modular a agressividade e a empatia, assim como o ansiedade e da depressão.

Como estudiosa, Pilar reúne a visão da neurociência com a prática em escolas Waldorf e seus conhecimentos empíricos, de maneira a mostrar como o livre brincar na infância proporciona o correto desenvolvimento nas primeiras etapas de vida, em que nossa espécie aprende paulatinamente a se movimentar de maneira cada vez mais sofisticada. Isso significa que se aprende a comandar os subsistemas envolvidos nesse movimento: o sensorial, o vestibular, o cognitivo e o emocional.

Mario Fernández, por sua vez, também aponta que “muitas funções do sistema nervoso têm janelas temporais de neuroplasticidade, nas quais a sensibilidade é crítica e a sua formação é a ideal. Por exemplo, andar e falar são tarefas aprendidas nos três primeiros anos. A alteração da plasticidade durante períodos críticos de desenvolvimento está ligada a muitos transtornos neurológicos pediátricos”, algo amplamente desenvolvido na teoria dos setênios, da Antroposofia e, consequentemente, na Pedagogia Waldorf e na Medicina Antroposófica.

Thais amplia a discussão a partir do ponto de vista desta Medicina. A Associação Brasileira de Medicina Antroposófica define que, diante de uma doença, o médico antroposófico considera o quadro clínico do paciente, mas também, pesquisa como está a sua vitalidade, o seu desenvolvimento emocional e como ele tem conduzido sua vida através dos anos, sua história de vida ou biografia.

No entanto, a origem dos desequilíbrios pode ser identificada e transformada por meio da terapêutica com o uso de medicamentos homeopáticos, antroposóficos ou fitoterápicos. Quando necessário, faz uso concomitante de medicamentos alopáticos. E vai além, uma vez que o médico também orienta o Aconselhamento Biográfico, a Euritmia, a Massagem Rítmica, a Terapia Artística (modelagem, musicoterapia, desenho, pintura/aquarela) para restabelecer o equilíbrio entre as diversas necessidades chamadas saúde.

Assim, essa gama de terapêuticas parece apontar para o desafio de lidar com a saúde em sua complexidade, entendendo-a como uma dimensão da vida que requer um olhar integral sobre o indivíduo.  Esta perspectiva vale ainda mais para a criança, como forma de expandir as suas potencialidades em sua plenitude – incluindo riscos e aprendizado em administrá-los.
 

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