Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Mundo em transformação

Foto: Leila Fugii
Foto: Leila Fugii

Mundo em transformação

por Luiz Gonzaga Belluzzo

Luiz Gonzaga Belluzzo é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi um dos fundadores das Faculdades de Campinas (Facamp) e secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (1985-1987) e de Ciência e Tecnologia de São Paulo (1988-1990). É autor dos livros Os Antecedentes da Tormenta (Unesp, 2009) e Ensaios sobre o Capitalismo no Século XX (Unesp, 2004), entre outros. A seguir, os melhores trechos do depoimento de Belluzzo, no qual ele fala sobre mudanças no cenário da educação e economia do Brasil e do mundo.

Luiz Gonzaga Belluzzo esteve presente na reunião do Conselho Editorial da Revista E no dia 12 de maio de 2016.

Educação atual

Existe uma questão que está posta a todos os sistemas educacionais do mundo, que é a especialização excessiva. Isso, na verdade, produz um seccionamento na formação da pessoa. Outro dia dei uma entrevista, e muita gente ficou irritada comigo ao dizer que em algumas profissões a universidade está produzindo analfabetos disfuncionais. É verdade.

A educação é uma atividade humana, e os neurônios funcionam porque você os coloca em uma certa interação. O ser humano não é só um ser biológico, ele antes de mais nada é um ser social. A educação é um fenômeno que tem que ser imerso nessas relações sociais, e isso só pode ser feito se você tiver capacidade não só de transmitir, mas de ouvir e entender como isso caiu no espírito da outra pessoa que está aprendendo. Em uma aula, por exemplo, não há coisa mais importante que a pergunta.

Quanto à economia, acho que todos os cursos deveriam ter um debate mais aberto sobre economia, sem afunilar muito em uma direção só. O ideal é permitir que as pessoas façam escolhas. Porque, do contrário, elas são enganadas.

Mudanças

A minha geração foi criada em um período de industrialização em que parecia que o Brasil resolveria todos os problemas. Nascemos no ambiente de um Brasil que superaria o atraso, só que fomos percebendo que a industrialização não conseguiu, por exemplo, até pelo menos a Constituição de 1988, enfrentar claramente a questão da desigualdade, a questão dos direitos sociais e econômicos. Há um peso e um atraso que vêm da escravidão, da submissão, do elevador de serviço, do quarto da empregada.

Com o avanço tecnológico, você não vai ter emprego para todo mundo. O desemprego dos jovens hoje na Itália é de mais de 50%. As empresas mudaram completamente, ocorreu a globalização, mas tem gente que encara a globalização como se fosse um processo homogêneo e não é, é um processo muito desigual, que criou situações muito distintas. Há autores que mostram como a migração da manufatura para a China foi decisiva para a piora do mercado norte-americano. O ponto, então, é desvincular a renda do trabalho, senão as pessoas vão morrer de fome. A tendência é muito clara.

Tempo livre

Você tem que montar formas em que as pessoas convivam, sejam capazes de interagir com o outro e atuar nas chamadas atividades desinteressadas. Conforme as pessoas passem a ter mais tempo livre, isso vai ter que ser feito com auxílio de alguma forma de atividade coletiva. A gente tem que criar a ideia de desinteresse, de fruição. É uma coisa enriquecedora.

Mobilização

Acho que as formas de mobilização educam no sentido de que cada um é obrigado a se mobilizar por valores que não são exatamente os mais utilitários, a pessoa se doa desinteressadamente. É uma ação coletiva, consciente, de defender certos pontos de vista sem querer deixar que eles sejam atropelados. Isso tem uma dose de autossacrifício, de paciência.

::