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Branco sobre branco

Foto: Viviana Cangialosi
Foto: Viviana Cangialosi

Com apenas dois intérpretes em cena, a brasileira Helena Bittencourt e o holandês Goos Meeuwsen, um espetáculo intimista e de rara beleza resgata o modo da Companhia Finzi Pasca contar histórias: um equilíbrio entre o absurdo doce e o nostálgico.
 

Reconhecido mundialmente por suas criações grandiosas para o Cirque du Soleil, e com trabalhos caracterizados pelo simbolismo e pela linguagem clownesca produzidos no Brasil e no exterior, o diretor Daniele Finzi Pasca retorna ao país com Branco (Bianco su Bianco). O espetáculo estreou em 2014 e passou por diversos países, como França, Rússia, Canadá, Uruguai, Chile e Equador, para chegar a São Paulo em uma curta temporada no Sesc Santo Amaro - um ensaio aberto no dia 31 de agosto (quarta-feira) e sessões diárias de 1 a 4 de setembro. Depois, segue para Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
 


Foto: Viviana Cangialosi

 

“Os pedaços de porcelana no chão, os leitos dos hospitais, os azulejos do banheiro da casa da minha avó, a mesa de mármore do açougue, o lenço que meu pai acenava quando partíamos, o teu sorriso, o jardim submerso após uma tempestade de neve, certos silêncios, o gesso e as bandagens em volta da minha perna quebrada, nuvens, o nome da professora escrito no quadro-negro, o vestido de casamento da minha prima, um copo de leite, as páginas do caderno no primeiro dia de escola, o avental da enfermeira, uma flor, uma concha, um cavalo, a espuma que enche a banheira, as pílulas para dormir, o pó que cobre o rosto de nós clowns, as histórias que fazem passar o medo do escuro.” Daniele Finzi Pasca

 


Foto: Viviana Cangialosi

Em Branco, dois atores clowns constroem com elegância e minuciosos detalhes situações tragicômicas, fazendo o público rir e se comover. Em cena, Helena e Goos se movem com leveza e extrema destreza, entre milhares de luzes, sons, pétalas, feridas e memórias. Um espetáculo onde as ilusões e artifícios são sempre revelados, onde os clowns encarnam a fragilidade dos heróis perdedores.


O ator, diretor e autor Daniele Finzi Pasca já esteve no Brasil com outras produções que marcaram positivamente público e crítica especializada. Em 2012, trouxe o espetáculo Ícaro, apresentado no Sesc Belenzinho, e dois anos antes, o Sesc Pinheiros recebeu Donka – uma carta a Tchekhov. Há três anos, outras duas produções assinadas pelo diretor também passaram por aqui, como La Verità e Corteo, esta pela companhia canadense Cirque du Soleil e que percorreu cinco capitais brasileiras. Entre outros trabalhos, destacam-se a direção geral das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, realizado em Sóchi, na Rússia, além de grandes produções operísticas.
 

Em entrevista à Eonline, Goos e Helena falam sobre o espetáculo, os trabalhos em conjunto e como é ser parte da família Finzi Pasca. Confira:
 

CIA FINZI PASCA

Criada em 2011 por Antonio Vergamini, Daniele Finzi Pasca, Hugo Gargiulo, Julie Hamelin e Maria Bonzanigo, convergindo as histórias de duas outras companhias, Teatro Sunil e Inlevitas, a Cia Finzi Pasca desenvolve projetos artísticos que continuam a aprofundar a ideia do Teatro da Carícia, uma técnica teatral baseada no gesto invisível e no estado de leveza.

No seu repertório, Ícaro, monólogo-manifesto no qual Daniele Finzi Pasca revela o gesto poético do clown em um espetáculo para um espectador em cena; Donka – uma carta a Tchekhov e La Veritá, com onze intérpretes do núcleo estável da companhia, em turnê por mais de 25 países.

A companhia assina também a concepção e direção de duas cerimônias olímpicas (Torino-2006 e Sochi-2014), e várias óperas (dentre elas, Aída no Mariinsky – sob a direção do maestro Valery Gergiev, Pagliacci e Carmen no Teatro San Carlo de Napoli – esta última conduzida por Zubin Mehta).

Em Montreal, no Canadá, realizou importantes criações e colaborações: a trilogia Nomade, Rain e Nebbia (Cirque Eloize) e os espetáculos Corteo e Luzia (Cirque du Soleil).
 

HELENA BITTENCOURT


Foto: Viviana Cangialosi

Começou a atuar aos 7 anos e se apaixonou pelo teatro. Colaborou com Teatro Manicomics, na Itália, Intrépida Trupe, no Brasil e Circo Klesmer, na Espanha. Atuou em Corteo, do Cirque de Soleil, Donka – uma carta a Tchekhov, da Cia. Finzi Pasca, e na ópera Pagliacci, de Leon Cavalli, no Teatro San Carlo de Nápolis - todos dirigidos por Daniele Finzi Pasca.

Trabalha, atualmente, em colaboração com Goos Meeuwsen. Juntos dirigiram, escreveram e atuaram nos espetáculos Fashionata, Durf e Stroom (Holanda, 2014, 2015 e 2016).  Atualmente dirigem o novo solo da coreógrafa Cristina Moura Still life, que estreia em 2017, e dois espetáculos com estreia prevista para 2016: ScintillA, convidados pela companhia suíça Cirque en Choc em co-produção com a Anistia Internacional - uma reflexão sobre direitos humanos - e Human Acts, no qual os dois clowns refletem também sobre a questão dos direitos, este em co-produção com o teatro Stadstheater Arnhem. Os dois foram assistentes de direção nos espetáculos de encerramento Jogos Olímpicos e na abertura dos Paralímpicos em Sochi, com direção de Daniele Finzi Pasca. Criaram o espetáculo Half Hour to Shine, uma performance de teatro de rua clownesca. Escreveram, dirigiram e atuaram no concerto Playing for Eurydice, em colaboração com o grupo barroco L’Autre Monde, com o apoio da Universidade de Música e Artes Performáticas de Frankfurt. 
 

GOOS MEEUWSEN


Foto: Viviana Cangialosi

Começou a atuar como clown aos 10 anos. Cursou a Escola de Circo de Montreal, especializando-se em jogo clownesco. Protagonizou os espetáculo The Beatles LOVE (Cirque du Soleil), em Las Vegas. Trabalhou com várias companhias de circo e teatro e participou dos espetáculos: Paradis Perdu (Dominique Champagne), em Montreal e Adios (com Gabriel Rosas), na Argentina. Recebeu o prêmio Annie Fratellini no Festival de Cirque de Demain. 
 

DANIELE FINZI PASCA

É diretor, autor e clown. Em 1983, funda o Teatro Sunil, companhia na qual elabora uma visão do clown e do jogo com Maria Bonzanigo, batizada de Teatro da Carícia. Criou 25 espetáculos, dentre eles, Ícaro (1991), monólogo foi apresentado mais de 700 vezes em seis idiomas. Em 2000, começa colaboração com o circo canadense Éloize, escrevendo e dirigindo Nomade, Rain e Nebbia. Em 2003, é chamado pelo Cirque du Soleil para fazer a criação e direção de Corteo.  O Festival internacional de Teatro Tchekhov de Moscou convida-o a criar um espetáculo em 2010, para os 150 anos de nascimento do autor russo: Donka – uma carta a Tchekhov, que segue em turnê mundial. Ao lado de Julie Hamelin, (sua esposa e parceira de trabalho), Maria Bonzanigo, Hugo Gargiulo e Antonio Vergamini, funda a Cia. Finzi Pasca, fusão entre Teatro Sunil e Inlevitas (sociedade criada com Julie anteriormente). Escreve e dirige La Veritá, em torno de um telão de Salvador Dalí pintado para o teatro nos anos 40. La Veritá segue em turnê por mais de 20 países, e Bianco su Bianco. Dirige várias óperas, dentre elas Pagliacci e Carmen (Teatro San Carlo-Napoli), esta última sob condução de Zubin Metha; e Aída e Requiem (Teatro Marinski-St. Petersburgo), ambas sob condução de Valery Gergiev. Atualmente, está realizando a criação do novo espetáculo da cia, com título provisório de Per Te com estreia prevista para novembro de 2016.