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As cicatrizes de Luis Antonio – Gabriela

Marcos Felipe em cena<br> Foto: Divulgação
Marcos Felipe em cena
Foto: Divulgação

Sucesso de público e crítica com mais de 300 apresentações e 35 mil espectadores em todo Brasil, o espetáculo Luis Antonio - Gabriela volta aos palcos de São Paulo, desta vez no Sesc Belenzinho.

Com direção de Nelson Baskerville, a montagem estreou em 2011 e recebeu alguns dos mais importantes prêmios teatrais do estado, como o Shell, da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e da Cooperativa Paulista de Teatro (CPT).

No palco com o elenco original (Marcos Felipe, Lucas Beda, Sandra Modesto, Verônica Gentilin, Virginia Iglesias e Day Porto), a Cia. Mugunzá realiza, além do espetáculo em temporada até 20 de novembro, a oficina Cicatrizes, que aborda os processos de criação do grupo.

Na peça, o diretor Nelson Baskerville coloca em cena sua própria história, onde o irmão mais velho, homossexual, Luis Antonio, desafia as regras de uma família conservadora dos anos 1960. O documentário cênico tem início no ano de 1953, com a chegada de Luis Antonio, filho mais velho de cinco irmãos, que passou infância, adolescência e parte da juventude em Santos até ir embora para Espanha aos 30 anos, onde se transformou em Gabriela.
O espetáculo, que narra a história da protagonista até o ano de 2006, data de sua morte na cidade de Bilbao, na Espanha, foi construído a partir de documentos e dos depoimentos do ator e diretor Nelson Baskerville, o  irmão caçula que foi abusado sexualmente, de sua irmã Maria Cristina, que sai pelo mundo em busca do corpo de Gabriela, de Doracy, sua madrasta e de Serginho, cabeleireiro na cidade de Santos e amigo de Luis Antonio, mostrando portanto diferentes pontos de vista.

O diretor conta que, em 2002, recebeu a notícia de que o irmão tinha morrido na Espanha. “Luis Antonio, pra mim, era aquele irmão, oito anos mais velho, que sempre mantive na sombra. Só alguns poucos amigos sabiam da sua existência, ele era aquele que, além de me seduzir, e abusar sexualmente, fazia com que muitos dedos da cidade de Santos fossem apontados pra nós. Sou obrigado a confessar que a notícia da morte dele não me abalou nem um pouco. Eram quase 30 anos sem saber nada dele, sem saber se ele estava vivo ou morto, enfim, liguei pra minha irmã, Maria Cristina, advogada para passar a notícia pra frente e a preocupação imediata dela foi com os papéis, atestado de óbito, documentação para o espólio, etc.”, explica ele.

Maria Cristina empreendeu então uma jornada fadada ao fracasso que era saber notícias do paradeiro de Luis Antonio. Depois de alguns meses, através da embaixada brasileira na Espanha ela o encontrou, mas não exatamente da forma que esperava. Luis Antonio estava vivo, morava em Bilbao e a partir disso os irmãos começaram a tentar formar e entender aquela lacuna de 30 anos que os separavam.
“Minha irmã, numa aventura ‘almodovariana’ foi encontrá-lo. Luis Antonio chamava-se agora Gabriela, tinha sido uma estrela das noites de Bilbao, era viciada em cocaína e AIDS era a menor das suas doenças. Através da Maria Cristina, passamos então a ter notícias dele até sua morte, agora verdadeira, em 2006”, recorda o diretor.

Com trilha sonora original composta por Gustavo Sarzi, onde todos os atores aprenderam a tocar instrumentos para a execução das músicas, a montagem também traz diferenciais na iluminação e cenografia.
A luz, não convencional, foi inteiramente construída pelos atores e diretor e é operada de dentro do palco. Para a cenografia foram encomendadas 22 telas do jovem artista plástico Thiago Hattner.

Paralelo às apresentações do espetáculo, a Cia Mungunzá ministra a Oficina Cicatrizes, que nasce do processo de criação dos espetáculos do grupo, e tem como objetivo proporcionar aos integrantes uma experiência biográfica, dramatúrgica, estética e performática adentrando as histórias pessoais que resultaram numa cicatriz (física ou emocional).