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Depois daquela imagem

Maria Kourkouta, Idomeni, 2016 - Production Jeu de Paume
Maria Kourkouta, Idomeni, 2016 - Production Jeu de Paume

Obras artísticas despertam comoção e podem ser agentes de mudanças sociais


Potencializar, mudar a percepção sensível de um acontecimento registrado na fração de segundos da câmera fotográfica ou na tinta da tela. Como uma obra de arte interfere na sociedade? Projetada aos olhos do mundo, qual a força de mobilização de uma foto que revela um momento de tragédia ou alegria? De Guernica, painel de Pablo Picasso que retrata os horrores da Guerra Civil Espanhola, exposto em 1937, à imagem da Guerra do Vietnã (da menina Kim Phuc), feita pelo fotógrafo Huynh Cong “Nick” Ut, da Associated Press em 1972, há inúmeros exemplos de representações artísticas ao longo do tempo que conservaram seu potencial simbólico e revelador.
 

Ação e reação

Para o fotógrafo Ignacio Aronovich, que desde os anos 2000 mantém o site Lost Art (http://www.lost.art.br/) com Louise Chin, a imagem de Kim Phuc, de junho de 1972, e a do menino Omar Daqneesh, clicada no ano passado envolto em sangue e poeira minutos após um bombardeio em Aleppo (cidade do norte da Síria), compartilham a polêmica do registro de conflitos bélicos: “Historicamente fotos de guerra são usadas por ambos os lados em disputa para avançar sua agenda política”. O presidente Nixon duvidou da imagem de Nick Ut, e tanto a China quanto a Rússia acusaram a imagem de Omar Daqneesh de “propaganda”, analisa Aronovich.
 

Mobilização e pensamento coletivo

Assim como os registros e inspirações originados da dor das guerras, mobilizações populares não passam incólumes desse foco. Trabalhos como El Quijote de la Farola, de Alberto Korda – imagem feita na Plaza de La Revolución, em Cuba (1959) –, a série de três pinturas de Joan Miró The Hope of a Condemned Man (em homenagem ao estudante anarquista Salvador Puig Antich, morto pelo regime Franquista em 1974) e o Encontro de Parangolés de Helio Oiticica e Leandro Katz em 1972, sinalizando para a incorporação do coletivo, são algumas obras que colocaram o dedo na questão e impulsionaram o pensamento crítico sobre os acontecimentos político-sociais, além de inserir o cidadão no contexto, independentemente das barreiras geográficas.

Com mais de 20 anos de experiência em publicações nacionais e internacionais, a editora de fotografia Cristina Veit diz que muitas das imagens que se destacam tiveram consequências sociais na época de sua publicação, “levando as pessoas a refletir e se mobilizar, governos a agir, conceitos a serem revistos, e algumas fotos acabaram formando o pensamento coletivo de uma sociedade”. Nesse sentido, ela explica o significado da palavra “icônica” quando atribuída a uma obra, entendendo-a como um “documento para requerer mudanças no status quo”. “Acredito que uma foto não se torna icônica pela sua qualidade fotográfica inovadora, pela sua habilidade de explorar a linguagem do meio, e sim pela sua habilidade de mudar o mundo”, define Cristina, que no começo de 2017 esteve por dois meses no Iraque para produzir o ensaio fotográfico sobre a diversidade de enfoques que fotógrafos buscam na cobertura da guerra contra o Estado Islâmico.



 

Chieh-Jen CHEN, The Route, 2006, 35 mm film transferred onto DVD color and black and white, silent, 1645 min.© Chieh-Jen Chen, courtesy galerie Lily Robert (1)

 

Ato coletivo

Fotos, pinturas, instalações e vídeos são contemplados pela exposição Levantes, que terá livro homônimo sobre o tema

Depois de viajar pelo Museu Nacional de Arte da Catalunha, de Barcelona, e pelo Muntref – Museo de La Universidad Nacional de Tres de Febrero, de Buenos Aires, a exposição Levantes chega à cidade de São Paulo. Concebida originalmente pela instituição cultural Jeu de Paume, em Paris, tem curadoria do filósofo e historiador da arte Georges Didi-Huberman. De característica transdisciplinar e considerando o viés das emoções coletivas, traz representações de diferentes levantes, atos populares engajados nas transformações sociais, nas revoltas e/ou revoluções.

O público terá acesso a instalações, pinturas, fotografias, documentos, vídeos e filmes. Reproduções de fotografias dos franceses Marcel Duchamp e Cartier Bresson, entre textos de pensadores como Marcel Foucault, Baudelaire e André Breton, instalações da artista multimídia Lorna Simpson e Livro de carne, de Artur Barrio.

Também marca a exposição o lançamento de Levantes (Edições Sesc, 2017), livro organizado por Georges Didi-Huberman, com textos de Judith Butler e Antonio Negri, entre outros.

A itinerância brasileira da exposição é realizada pelo Sesc São Paulo, em colaboração com a Embaixada da França no Brasil. A visitação é gratuita de 18 de outubro a 28 de janeiro de 2018, na unidade Pinheiros.

Confira detalhes no portal Sesc São Paulo

 

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