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Derradeiras noites de luar: serestas e serenatas no cancioneiro nacional

Foto: Acervo Sesc SP
Foto: Acervo Sesc SP

Na segunda metade do século XIX uma grande onda musical varreu os principais centros urbanos do país: as serenatas ocuparam noturnamente as ruas recém-iluminadas por lampiões, e firmaram um formato musical que vinha sendo gestado desde o século anterior, na expressão da modinha: a canção.

Cantada com acompanhamento de instrumento, esse formato se popularizou e iria, no século que começaria em breve, se cristalizar nas gravações fonográficas e na execução em rádio do que viria a ser a música brasileira.
Carregada de sentimentalismo e executada naquela ocasião basicamente pelas hábeis mãos de violonistas boêmios, sofria influência direta dos poetas românticos, eles próprios serenatistas de primeira linha, movidos pelo ímpeto juvenil acadêmico. Logo o formato moldou as interpretações dos primeiros cantores, que o levaram para dentro dos salões e cafés, tirando a característica de canto a céu aberto e transformando-o na seresta.

As eras do disco e do rádio seriam fortemente afetadas por esse tipo de interpretação, de modo que os grandes nomes do canto popular que surgiriam dali por diante, invariavelmente remeteriam parte de sua produção ao tempo das serenatas e serestas, inaugurando uma nostalgia prematura que sempre seria relembrada pelas gerações futuras.

Essa nostalgia, por sua vez, é que embala grandes centros urbanos até hoje, em pleno século XXI. Uma desses centros fica na região sul-fluminense, a cidade de Conservatória. Lá, é mantida a tradição das serenatas e serestas e a evocação da nostalgia é o grande apelo turístico da cidade. Outros centros mantém a mesma tradição, em diversas regiões do país, entre eles Goiás Velho (GO), Niterói (RJ) e São Luiz do Paraitinga (SP). E o próprio formato se estilizou ao conclamar luares, namoradas, janelas e trovadores.

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Walter Sousa Júnior
Doutor e mestre em Comunicação pela ECA-USP. Autor de "Mixórdia no picadeiro - Circo-teatro em São Paulo" (1930-1970) (Terceira Margem, 2011).

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