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V Seminário para as Infâncias

Foto: Cesar Delamonica
Foto: Cesar Delamonica

Se a centralidade, o protagonismo e a participação nos processos educativos das crianças são paradigmas da educação na contemporaneidade, é preciso antes ativar uma escuta aberta e sensível a elas, entendê-la como construtora de cultura - cultura própria que, para acessar, é preciso reativar sensibilidades e canais que muitas vezes escapam ao reconhecível e traduzível pelo paradigma do mundo adulto.

Para entendê-las, é também necessário abrir essa compreensão e diálogo à comunidade e ao território que habitam, compreendendo o tecido de relações nas quais as crianças estão integradas – em que estão não só inseridas, mas são também agentes participativos, interferentes e criadores. Com isso, poder olhar, dialogar e agir com esses territórios, culturas e comunidades como campos privilegiados da intervenção socioeducativa.

Se entendemos as crianças como protagonistas dos processos educativos e de seus territórios, por que não pensarmos, também, nas estruturas sociopolíticas que as atravessam? Propiciar às crianças viver e exercitar sua experiência cidadã é oferecer possibilidade para que elas sejam, no presente, atrizes e autoras das suas vidas e do cotidiano das cidades?

Para isso, a escuta sensível e aberta deve ser estendida aos agentes dessas estruturas e redes: demais coabitantes e também o poder público, através de políticas que garantam voz e espaços de participação às crianças, seu reconhecimento enquanto indivíduos autônomos, cidadãos e detentoras de direitos, demandas, desejos e potências.

No âmbito da educação, diante das atuais discussões em torno das propostas de reforma da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil, faz parte dessa escuta sensível rediscutir e reafirmar aspectos centrais à cultura e linguagem da criança, como o livre brincar, além do olhar qualitativo para as relações de vínculo e cuidado entre crianças, educadores e familiares.

O entendimento da criança enquanto ser integral (em suas dimensões físicas, emocionais, suas relações familiares, socioculturais e de seu território) reafirma a necessidade da estruturação de políticas públicas integradas, em âmbito intersetorial (educação, assistência social, cultura, saúde). E, se falamos de protagonismo às crianças, é preciso que esse protagonismo seja vivido nos processos, nas diferentes esferas e com todos os agentes neles envolvidos: do processo educativo à gestão e às políticas públicas; de educadores com crianças, de gestores com seus educadores; e do poder público com a sociedade civil, incluindo novamente as próprias crianças.

Ao que parece árduo e complexo, há experiências que nos mostram possibilidades, como os Parques Sonoros de São Paulo, construídos de forma conjunta com os professores da rede de educação infantil do município, ou o Plano de Cultura para a Infância do Ceará, da Secretaria Estadual de Cultura, primeiro plano de cultura para a infância do território nacional, estruturado a partir de um amplo debate do Governo do Ceará com a sociedade.

Ou ainda outras iniciativas, de ação direta da sociedade civil: pais e mães que buscam construir alternativas de educar e criar processos de vida fora do sistema escolar, entendendo o território e a comunidade como agentes educadores, bem como comunidades que possuem outras linguagens e modos de relação e que desejam, dentro e através do ambiente educativo, fortalecer e preservar suas culturas e cosmogonias, como na educação indígena.

Como essas experiências diversas podem dialogar e se inspirar mutuamente, para alargar os horizontes possíveis para as crianças viverem? (Ou de vivermos com as crianças?) De ambientes favoráveis a crianças que vivem e são, no presente, sujeitos ativos e potentes em seu fazer, exercendo a potência do pensamento infantil no ato criador? Como essas outras possibilidades de construir relações e processos educativos se desdobram em pautar um olhar à outras relações e modos de habitar as cidades que fogem do âmbito utilitário?

Esses eixos reflexivos norteiam a programação do V Seminário para as Infâncias. Uma parceria entre o Sesc, a Secretaria de Educação da Prefeitura de Santos, a Organização Mundial para Educação Pré-Escolar – OMEP Baixada Santista e o Centro Social Marista Lar Feliz da Rede Marista de Solidariedade, com apoio do Conselho Municipal de Educação (CME) e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Santos (CMDCA).

Trata-se de um encontro de formação de educadores, gestores da primeira infância, pais e demais interessados em busca da melhoria da qualidade na educação de crianças de 0 a 6 anos, como direito universal e dever do estado e de toda a sociedade. Realizado desde 2013, tem o intuito de promover a discussão e a reflexão sobre a infância em seus diversos âmbitos – na contemporaneidade, políticas públicas, qualidade social da educação infantil, tempo e espaços de brincar –, além de compartilhar boas práticas realizadas com crianças de zero a seis anos na educação formal, não formal, na família e em espaços públicos.

As inscrições para o Seminário são realizadas online aqui, de 24 de outubro a 01 de novembro de 2017.

Programação:

8/11 - Quarta

9h às 11h | O Brincar e a Cultura Infantil em Reggio Emilia, com Josiane del Corso | Teatro
9h às 11h | Territórios e Infâncias, com Marco Antônio Barbosa | Sala 2
9h às 11h | Parques Sonoros: uma experiência de criação coletiva nas Unidades de Educação Infantil da cidade de São Paulo, com Sonia Larrubia | Sala 1
9h às 11h | Educação nos três primeiros anos: Contribuições da Abordagem Pikler - Os Movimentos Livres do Bebê e o Corpo do Educador, com Suzana Soares | Sala 32
11h30 às 12h30 | Encontro de boas práticas para a primeira infância da Baixada Santista | Teatro
14h às 16h | Mesa Redonda: Políticas Públicas para as Infâncias, com Marco Antonio Barbosa, Sonia Larrubia e Rachel Gadelha. Mediação: Audrey Kleys | Teatro
14h às 16h | É aprendendo que se ensina!, com Ana Thomaz e Fabio Marcoff | Sala 1
14h às 16h | A Documentação Pedagógica como um processo de aprendizagem na educação infantil, com Rosemary da Silva Melo e Karollyne Persaud Vieira | Sala 2
14h às 16h | Educação nos três primeiros anos: Contribuições da Abordagem Pikler - Construção do vínculo afetivo durante os cuidados, com Suzana Soares | Sala 32
19h | Espetáculo Cuco, com Cia Caixa de Elefantes | Teatro

9/11 – Quinta

9h às 11h | A Participação das crianças começa na primeira infância, com Adriana Friedman | Teatro
9h às 11h | Territórios e Infâncias, com Marco Antônio Barbosa | Sala 2
9h às 11h | Educação nos três primeiros anos: Contribuições da Abordagem Pikler - O Desenvolvimento Psicomotor do bebê, com Suzana Soares | Sala 32
11h30 às 12h30 | Encontro de boas práticas para a primeira infância da Baixada Santista | Teatro
14h às 16h | Avaliar na Educação Infantil, com Silvana Augusto | Teatro
14h às 16h | Educação Indígena, com Juscelino Peralta, Isaque Karai Jeguaka Bolantim (CECI Tenondé Porã) e Cristine Takuá (EE Indígena Txeru Ba'e Kua-I – Aldeia do Rio Silveiras) | Sala 1
14h às 16h | Cuidar e Educar: como os gestores podem, de fato, integrar estes campos no cotidiano da Educação Infantil, com Elza Corsi | Auditório
14h às 16h | Educação nos três primeiros anos: Contribuições da Abordagem Pikler - Brincadeiras e brinquedos dos bebês, com Suzana Soares | Sala 32
19h | Espetáculo Cuco, com Cia Caixa de Elefantes | Teatro