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12 Frases que culminaram nos melhores momentos do "Encontros Poéticos"

Xico Sá, Sérgio Vaz e Wagner Moura durante o bate-papo no Sesc Campo Limpo <br> Foto: Tiago Lima
Xico Sá, Sérgio Vaz e Wagner Moura durante o bate-papo no Sesc Campo Limpo
Foto: Tiago Lima

Com humor, fúria e reflexão, o ator Wagner Moura e o jornalista Xico Sá foram recebidos pelo poeta Sérgio Vaz no projeto “Encontros poéticos”, dentro da 10ª Mostra Cultural da Cooperifa, realizada no Sesc Campo Limpo em outubro de 2017. Entre democracia e cultura, filme, política e revolução, encontro no bar e comida de astronauta, aqui vão alguns dos melhores momentos do acalourado bate-papo. Da realidade ao sonho, todo mundo sabe: a periferia nunca dorme.

1. Não existe Democracia sem Cultura. A Democracia só existe com Cultura
Os momentos ruins trazem a resistência. Isso aqui é resistência. Apesar da dificuldade que a gente tá vivendo...Se existe uma hora pra resistir a hora é essa.
Não vejo resistência mais bonita e mais poderosa do que a arte, do que a poesia.
Essa talvez seja a resposta mais veemente, mais poderosa a este estágio de mediocridade que a gente tá vivendo.
Não existe democracia sem cultura. A democracia só existe com cultura. [Wagner Moura]

2. A revolução virá da Periferia

A nossa arte ainda nem é pela democracia. Ainda é por cidadania, por Direitos Humanos. A gente tá lutando ainda contra o genocídio da juventude negra, contra a pobreza, contra a fome, a violência policial. Nós estamos fazendo cultura sob sangue, sob lágrimas, sob suor. Não temos tempo ainda de falar da galáxia, do fundo do mar. As pessoas falam assim “Ah mas os artistas da periferia tem que ir pra rua”. Mas nós nunca saímos da rua. Eu sempre falo assim: “Um salve pra quem tá acordando agora e pra quem nunca dormiu”. Porque a gente não tem chance de dormir.
A gente sempre andou com a faca nos dentes.
Durante um tempo a gente queria mudar da periferia e chegou pra nós mudar A periferia. Foi quando nós começamos a pensar: “Precisamos fazer teatro pra nós, precisamos fazer poesia que tem a nossa identidade, a nossa cara, a nossa cor, a nossa pele. Precisamos falar de nós pra nós”. [Sérgio Vaz]

3. Nada contra igreja, mas a gente gostava mais de bar
O Sarau da Cooperifa quando surgiu...Na época nós só tínhamos bares e igreja. Nada contra a igreja, mas a gente gostava mais de bar. (risos)
O bar sempre foi o Centro Cultural. E talvez nós estávamos imaginando uma outra coisa. Aquilo que já nos impunham como Cultura: “Cultura é o Teatro Municipal.. é isso, é aquilo...”
Nós só ressignificamos o bar. Porque o bar é onde as pessoas se encontram depois de adorar um Deus chamado trabalho para ouvir e falar poesia. É onde as pessoas chegam depois do trabalho pra falar mal do patrão. Onde as pessoas se encontram depois do jogo de futebol, da várzea. É onde se discute política, futebol... [Sérgio Vaz]

4. Está acontecendo um incêndio aqui, irmão
A periferia de São Paulo, do Brasil ela vive a sua primavera periférica. Ela vive a sua Tropicália, seu Cinema Novo, tudo junto.
Nós somos censurados pela infraestrutura, pela verba, pelo patrocínio. Mas a gente percebeu que não era só a verba que estava nos atravancando. Era também a nossa força, a nossa raça, a nossa raiva. Nós precisamos ter raiva. Acho que nós estamos botando essa raiva pra fora. E é difícil entender a nossa cultura. As pessoas talvez não entendam porque ainda é de muita força, de muita raiva e é por isso que é muito bacana. Estamos lutando por humanidade. E a nossa cultura tá resgatando a nossa humanidade.
A Cooperifa é só um tijolo nessa ponte. Mas são vários movimentos que se fundem. Eu acho que nós estamos num lugar - como na Zona Norte, Leste - está acontecendo um incêndio aqui, irmão. Isso aqui é um incêndio. E eu tenho muito orgulho de tá falando isso aqui. [Sérgio Vaz]

5. O meu desejo maior é que o meu filme entre na Periferia
Fazer um filme sobre Marighella hoje é fazer um filme sobre resistência e também fazer um filme sobre a infâmia. Porque a versão oficial de quem Marighella era, do que ele fez, do tipo de luta dele foi completamente mentirosa.  O filme tem esse desejo de trazer essa história que aconteceu no final dos anos 60 pra agora.  A violência que o Estado brasileiro cometia contra dissidentes políticos nos anos 60, 70 é a mesma que comete hoje contra negros e pobres na periferia. É a mesma, é uma herança daquilo.
A gente poder lembrar que houve gente que resistiu e que a história dessa gente foi contada de forma mentirosa...E contar a história do que tá acontecendo hoje também no Brasil. O meu desejo maior é que o meu filme entre na Periferia. O que eu pretendo é que as pessoas que vivem na periferia olhem para Marighella e digam:“Esse cara me representa, esse cara é um herói negro brasileiro. Eu entendo o que ele fez e ele me inspira”. É um filme de época mas é um filme atual.
É uma luta. É uma luta muito grande fazer esse filme. Se eu te disser o tanto de coisa que eu já ouço, os ataques que eu sofro. Enfim...Mas isso não é nada, eu não tô nem aí. Eu vou fazer essa p&$$@. E vou fazer um filmaço! [Wagner Moura]

6. Eu devo estar na poesia graças a Ditadura
Eu não sabia nem o que era Ditadura. Eu devo estar na poesia graças a Ditadura. Porque eu servi o exército em 1983...E intuitivamente eu comecei a escutar Música Popular Brasileira, mas eu não entendia muito...
Eu não sabia que eu estava na Ditadura. Eu lembro quando eu tava ouvindo uma música do Geraldo Vandré na voz da Simone, gravada no Morumbi lá no dia 1º de Maio “Vem vamos embora que esperar não é saber...”
Eu tava cantando junto. Aí entra um sargento. “Quem é esse filho da p! que tá ouvindo essa p!? Esse comunista, esse Che Guevara.”
E quanto mais ele falava mais eu gostava. E eu falei assim:“Nossa! É tudo isso nessa música?! Esse negócio é bom!” Foi aí que eu comecei a me interessar... Quer dizer, então eu devo à Ditadura... (risos). [Sérgio Vaz]

7. A maior resposta que um artista pode dar é a sua arte
Quando o cara é um artista e a arte dele toca, emociona, faz pensar ele fez o melhor que ele pôde. [Wagner Moura]
Não é exigir que nenhum artista [se posicione]. Mas pô! Dá uma lidinha, vê as consequências disso, que vai ser uma m#$ˆ@ pro país, sabe? E se pronuncia. Eu acho bacana se você tiver essa consciência e se pronunciar em mais temas. Eu acho que o cardápio é muito pequeno. Só estão indo ali no filézinho. Vamos em outras coisas. Tem um bocado de frango a passarinho pra gente comer até chegar lá. Aliás, eu só falei em coisa boa pra tomar com cerveja, né? (risos). [Xico Sá]

8. Homem pelado em Museu é arte?
- Em lugar nenhum! (risos). [Sérgio Vaz]
- Fora do Museu eu não gosto não. (risos) [Xico Sá]
Mas me parece que as pessoas que querem proteger essas crianças não querem proteger as crianças que estão nos semáforos, as crianças órfãs, as crianças que estão na favela, as crianças que são assassinadas pelas costas, as crianças sem hospitais, as crianças sem escolas. Me parece que eles querem proteger só as crianças que vão ao Museu. Aí também não é justo, né? [Sérgio Vaz]
Eu acho que eles não querem proteger nem as crianças que estão no Museu. Eles estão criando uma cortina de fumaça pra gente não ver a sacanagem que eles estão fazendo. Isso é um absurdo. Eu fico louco com isso. É um absurdo a gente tá discutindo isso... [Wagner Moura]
Desvio de foco mesmo. E nós não podemos cair nessa. [Xico Sá]

9. O problema dos que não gostam de política é que eles são governados pelos que gostam muito
A política é democracia. Me preocupa muito a demonização da política partidária. Quando a gente começa a se desinteressar pela política a gente corre o perigo de levantar a bola de sujeitos que aparecem dizendo assim:“Eu não sou político, eu sou outra coisa”. [Wagner Moura]
Existem políticos sérios. Esse jogo partidário não vai acabar. Então que a periferia tenha cada vez melhores candidatos também. Que a periferia seja forte também nesse jogo partidário e tenha bons candidatos. Porque senão a gente vai votar em caras que acreditam que a comida de astronauta vai salvar a humanidade, né? [Xico Sá]

10. Eu não tenho paciência de reunião
Quem curte [Política Partidária] eu acho da hora. Eu não tenho paciência de reunião. Logo que eu saí do exército, eu fui fazer parte de um Partido Comunista. Fui fazer parte. Mano! Era TODO DIA! ... Uma vez nós estávamos num seminário na praia. Aí passou umas mina assim tal, de bikini. Os caras falaram “Ó lá os alienados”. Aí eu fiquei pensando:“Pô! Eu devia tá com essas mina também”. (risos). [Sérgio Vaz]

11. Esses partidos precisam simplificar pra conversar com o povo
A gente tá percebendo uma coisa que é muito engraçada. Um problema é que a Esquerda fala pra classe média e a Direita fala pra Periferia.
Eu queria que essa Esquerda partidária falasse pra que a gente entendesse as coisas como a Direita faz.
Esses partidos precisam simplificar pra conversar com o povo. E se ele não tem a linguagem do povo, isso é muito perigoso também. Porque eu não acho [legal] um cara que quer nos representar, que quer falar por nós, que quer me defender sem andar com a gente. Então eu acho que é isso! [Sérgio Vaz]

12. A periferia nos une pelo amor, pela dor, pela cor
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A periferia no centro de todas as coisas. A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista cidadão.
Por uma periferia que nos une pelo amor, pela dor, pela cor. É tudo nosso! [Sérgio Vaz]

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Bom para acompanhar você quando estiver correndo, com saudade do Angeli e do Laerte dos anos 80 e outras cositas más. Chega mais!