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Turismo e meio ambiente

Marcos Antonio Scaranci

Vamos refletir sobre alguns aspectos que incidem sobre o turismo como atividade econômica, social e ambiental. Essa reflexão parece oportuna e necessária, pois diversos setores da sociedade estão, ainda, buscando entender a ampla relação das atividades do turismo com os objetivos apontados na Reunião das Nações Unidas–Eco 92, realizada há quase dez anos.

É necessário lembrar que, como objetivo prioritário, entre vários, a reunião apontou a elaboração de estratégias e medidas para paralisar os efeitos da degradação ambiental, em função dos crescentes esforços internacionais para promover o desenvolvimento ecologicamente sustentado em todos os países.

A reunião ocorreu como conseqüência de um processo de conscientização e sensibilização da opinião pública e de líderes de diversos segmentos governamentais e civis sobre os graves efeitos da degradação ambiental e social, resultante dos modelos de desenvolvimento e consumo, que não incluem a conservação ambiental, a igualdade social e econômica e a cooperação entre os seus paradigmas e princípios fundamentais. Não se trata somente de incorporar a variável ambiental aos empreendimentos econômicos (medida simplista que poderia ser traduzida na prática pela instalação de filtros antipoluição nas indústrias, ampliação da oferta de passeios e programas de recreação e lazer em áreas naturais no setor de turismo etc.), afinal, como em matemática, variável pode ter qualquer valor. Trata-se de incorporar alguns princípios éticos e políticos, lastreados nos conceitos de conservação e proteção dos recursos e processos ambientais, no cerne de nossas atividades socioeconômicas.

O desenvolvimento sustentado parte do princípio de que o uso dos recursos ambientais deve respeitar a manutenção dos processos vitais dos ecossistemas em benefício das gerações atuais e futuras, ao mesmo tempo que pressupõe uma distribuição equilibrada dos benefícios do crescimento econômico. As dimensões ecológicas, econômicas (entre elas o turismo) e tecnológicas do desenvolvimento sustentável devem se agregar às dimensões culturais e políticas: a integração das comunidades humanas na elaboração e na execução dos planos de gerenciamento do meio ambiente, dentro de um processo democrático de gestão dos usos dos recursos naturais.

A conservação deve ser vista como um processo transitorial – e não como um setor de atividade – que engloba a preservação, a melhoria das condições ambientais e o uso sustentado dos recursos naturais.

Assim, parece-nos imprescindível para os objetivos de preservação o reconhecimento de que uma mudança radical nos padrões de consumo e nos estilos de desenvolvimento continua sendo necessária, para que se possa, de uma maneira mais justa, distribuir os benefícios do trabalho humano na transformação da natureza para a sua sobrevivência.

Dada a limitação real, no campo político e econômico, para que os possíveis resultados sejam efetivos instrumentos de mudanças paradigmáticas e estruturais, a sociedade civil deve estar cada vez mais atenta e preparada para pressionar governos e agentes econômicos para que adotem padrões de desenvolvimento socialmente justos e ambientalmente sustentáveis.

Cabe especialmente aos profissionais do setor de turismo fazer com que os princípios e as ações resultantes da conferência das Nações Unidas encontrem eco no setor, o que se revelará cada vez mais nas atividades e nos empreendimentos turísticos, tanto em áreas urbanas como em complexos naturais, quando incorporarem a conservação, a eficiência e a eqüidade no uso desses recursos, o respeito às comunidades humanas tradicionais e ao seu modo de vida, em detrimento de uma postura de imediatismo da aferição de lucros sem a assimilação dos riscos e ônus ambientais e sociais.

O verdadeiro turismo ecológico baseia-se mais em atividades e empreendimentos que atendem àqueles princípios do que em pessoas despreparadas, que, mal disfarçando a segunda postura, pouco de efetivo contribuem para a transformação das nossas sociedades em estruturas socialmente justas, ecologicamente equilibradas e economicamente sustentáveis.

Marcos Antonio Scaranci é técnico do Sesc, especializado em turismo e meio ambiente