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Estilistas montam coleção para mulheres negras em Mostra de mulheres afro-latinas

Mostra de criadoras (Foto: Nina Vieira)
Mostra de criadoras (Foto: Nina Vieira)

Há muito o que dizer sobre a Mostra de Criadoras em Moda de Mulheres Afro-Latinas. Com foco no empoderamento feminino por meio de estéticas negras e indígenas, o objetivo da exposição é criar uma moda mais democrática e inclusiva. Assim, cinco ateliês paulistanos e o Coletivo Manifesto Crespo, em parceria com o Sesc 24 de Maio, se uniram para projetar roupas a partir das histórias de vida das mulheres que irão vesti-las.

“Nosso trabalho representa mulheres reais do ponto de vista estético. Negras, gordas, trans; são donas de casa, trabalhadoras. Queremos que as peças representem suas histórias”, afirma a estilista Ana Cristina Neves, da marca Candaces.

O pré-lançamento da coleção acontece na unidade, em formato de bate-papo, na próxima sexta-feira (09), das 20h às 22h, com as designers e artistas Goya Lopes e Julia Vidal. Já no dia 17 de março (sábado), das 16h às 18h, os grupos de estilistas promovem um desfile a céu aberto na rua Dom José de Barros, no centro de São Paulo.

O intuito da iniciativa, segundo as organizadoras, é contrariar a ideia padrão mercadológica de que a criação seja o mais importante e que as modelos são ‘cabides’ na passarela. “Aqui, todos os ateliês planejam as produções pensando na pluralidade dos corpos. Isso é um pré-requisito”, destaca Luciane Barros, do África Plus Size Brasil.

Neste ano, o projeto chega à 4º edição optando por trocar o termo ‘modelo’ por ‘mulheres desfilantes’, e ‘looks’ por ‘criações’. A intenção, com isso, é abrasileirar a moda por meio das suas referências africanas e indígenas. “[Os trajes] precisam expressar outras vivências e outras memórias. Esse é o nosso objetivo”, afirma Pamela Rosa, do Abayomi Ateliê.

(Foto: Nina Vieira)

Conceito

A mostra tem como base o afrofuturismo, movimento com características sci-fi e hi-tech, que surgiu na década de 1960 a fim de resgatar parte das narrativas do processo de diáspora africana para a América. Ele se relaciona com o símbolo ‘Sankofa’, que representa uma ave migratória que voa para frente olhando sempre para trás, sem esquecer o passado.

O afrofuturismo é bem representado pelo “tombamento”, da rapper Karol Conká. Cabelos coloridos, roupas metálicas, apetrechos brilhantes e cores quentes se harmonizam com as raízes ancestrais, como turbantes e estampas étnicas que marcam a cultura negra.

Um mecanismo artístico para construir isso foi pesquisar elementos da latinidade. “Estamos trabalhando com algodão cru, chita, richelieu e estamparia artesanal, por exemplo. São materiais vivos em nossas memórias e identidades”, exemplifica a estilista Cynthia Mariah.

Além disso, a co-fundadora da marca Xongani, Ana Paula Mendonça, aponta que elementos religiosos, blocos afro de carnaval – como o Ilú Obá De Min -, ícones como Maria Bonita e a expectativa de um futuro com mais liberdade e menos regras sociais de comportamento são alguma das inspirações para a coleção.

O evento assume, desse modo, um papel importante na fuga do eurocentrismo e na construção do protagonismos negro e indígena da América dentro da moda, a fim de reconhecê-los como coautores da história brasileira.

O resgate da representatividade afro na moda aconteceu recentemente com o filme ‘Pantera Negra’. A obra cinematográfica recorre a um olhar para um mundo sem colonização branca, onde há o uso de adornos indígenas e vestimentas sci-fi feitas a partir de estudos sobre as nações africanas, como a Gana.