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O valor do fugaz

Materiais gráficos descartados, como o papel de bala
da infância, registram a memória do cotidiano de gerações


Lembra aquele papel de bala que tem cheiro de infância? Ou aquele convite para um evento especial? E o manual de instruções da antiga máquina fotográfica? Todos estes são materiais impressos que, assim como cardápios, rótulos e embalagens, revelam a função imediata de comunicar. Além disso, todos eles também têm em comum outra característica: são peças impressas que, embora façam parte da memória de nosso cotidiano, rapidamente são descartadas. Por isso mesmo, nenhum desses artefatos tem a garantia de preservação, seja em coleções, seja em acervos. “Salvo os grandes marcos da história do design, esse universo papeleiro não é, via de regra, valorizado como item de museus de arte ou de antropologia”, afirma Solange Ferraz de Lima, diretora do Museu Paulista, que compartilha a curadoria da exposição Papéis Efêmeros: Memórias Gráficas do Cotidiano com o designer e professor Chico Homem de Melo.

Julho 2018 (Revista E_Matéria Gráfica)

 

(Re)-significa

Se o impacto visual chama a atenção nessa mostra, a palavra que a nomeia também colabora e amplia seu sentido. Afinal de contas, o que é efêmero? Durante o processo de montagem da exposição, Chico Homem de Melo viu-se tomado pelas múltiplas dimensões que a expressão “papéis efêmeros” pode embutir. Para ele, o tom decisivo do dia a dia falou mais forte: “O cotidiano é volátil por natureza. Sob esse ângulo, ‘efêmero’ e ‘cotidiano’ se confundem”, diz o professor. O especialista também destaca a dinâmica humana de fundamentar nossas vivências pelos grandes acontecimentos, os quais, de fato, são referências incontestes. “Ao mesmo tempo, o dia a dia vai acumulando marcas imperceptíveis em nossa vida”, completa. Segundo Homem de Melo, a reação de alegria das pessoas ao reencontrar essas referências guardadas na memória foi “contagiante”, confirmando a aproximação entre a vivência cotidiana e a formação da “identidade” de gerações.

 


Lembranças impressas

Peças gráficas em exposição revelam
hábitos e costumes dos brasileiros

Em cartaz até dia 9 de setembro, no Sesc Ipiranga, Papéis Efêmeros: Memórias Gráficas do Cotidiano explora o design de impressos cujo destino mais comum seria o descarte imediato após o uso. Mas o que vale a pena ser guardado? Sob curadoria do designer Chico Homem de Melo e da diretora do Museu Paulista, Solange Ferraz de Lima, a mostra reúne 500 peças gráficas, entre papéis de balas, como Juquinha, filipetas de oráculos, rótulos de caixa de fósforos, como Gato Preto, comercializada nos anos 1950. Grande parte do acervo pertence à Coleção Egydio Colombo (1955-2013), doada para o Museu Paulista em 2003.


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