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Som e estrada

Guitarra marcante do Clube da Esquina, Toninho Horta segue na ativa e lança disco influenciado por suas raízes mineiras

Neto de maestro, filho de mãe bandolinista e pai violonista, Toninho Horta começou a tocar ainda criança, de maneira autodidata. Responsável pela guitarra marcante do Clube da Esquina, ele foi de Minas Gerais para o mundo e agora completa meio século de carreira e 25 discos lançados. Entre esses, o recém-lançado Belo Horizonte. Citado na lista dos 74 guitarristas mais importantes do último século, Toninho já fez parcerias musicais com ícones como Tom Jobim, Herbie Hancock, George Benson e Pat Metheny.
Autor de músicas que reverberam por gerações, como “Manuel, o Audaz”, “Beijo Partido” e “Diana”, Toninho deixa registrados seus acordes em 108 partituras, songbook apresentado no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc neste ano. Nessa ocasião, o músico também falou sobre seu processo criativo numa conversa com o público. Confira trechos dessa passagem.


Foto: Divulgação.

Sou Minas Gerais

Antes mesmo de pegar no violão, pela primeira vez, aos nove anos de idade, dedilhando “Risque”, de Ary Barroso, sempre vi meus irmãos mais velhos cantarem e dançarem ao som do jazz, aquele “chachacha”.
Então, mesmo antes de começar a tocar violão, eu já tinha contato com o jazz, por influência do meu irmão, que já tinha 20 anos de idade e tocava contrabaixo nos bares de Belo Horizonte, da minha mãe, que tocava bandolim e do meu pai, que tocava violão. Os ensinamentos também vieram do meu avô João Horta, que dá nome ao instituto criado em 2013, pouco antes da morte da minha mãe.

Prometemos a ela que iríamos recuperar a obra de seu pai. Meu avô viajava para várias cidades do interior de Minas Gerais como escrivão e, como já tinha estudado música no Rio de Janeiro, formava as bandas e tocava nesses locais, nas missas.

Há muitas partituras de sua autoria, muita história para compartilhar. Mas a concretização desse projeto demanda tempo e dinheiro, por isso criamos o instituto, além de manter o trabalho com crianças e jovens para descobrir talentos da música.

Eu ainda crio projetos, e o instituto também tem o objetivo de dar visibilidade aos músicos de Minas Gerais, que tem toda uma riqueza musical, desde o Barroco Mineiro (nos anos 1920-1930), a época do Ary Barroso, os sambistas da Zona da Mata, perto de Juiz de Fora (que está mais perto do Rio do que de Belo Horizonte). Os compositores nascidos naquela região eram mais cariocas do que mineiros e eram sambistas autênticos, como Ataulfo Alves.

Acredito
que somos
a soma de
Influências
em qualquer
arte e qualquer
ofício


Foto: Divulgação.

Clube da Esquina

Por que o Clube da Esquina tinha todo aquele potencial? Porque vieram dois meninos, Lô Borges e Beto Guedes, que gostavam do rock inglês. Eu gostava da bossa nova, tinha o Milton Nascimento, com toda sua sensibilidade, e o Wagner Tiso, com instinto para tocar rock progressivo, então veio forte a junção do jazz com outros estilos e músicos.

Acabei tocando vários instrumentos no período do Clube da Esquina. Se você pegar a ficha técnica de 20 músicas do Clube da Esquina no ano de 1972, por exemplo, a formação não coincide nenhuma vez. A reunião de instrumentistas sempre era diferente. Considero esse período antológico, os discos do Clube, os primeiros discos do Milton Nascimento e Lô Borges.

Clássicos e repaginados

Nos anos 1960, em Minas, acompanhei cantores, participei de festivais na TV. Os anos 1970 foram os hippies e eu já era músico de estúdio, acompanhei o MPB4, Alaíde Costa, Dominguinhos. Tanta gente... Nos anos 1980, fui para Nova York, nos anos 1990 conheci o Japão e, nos últimos 20 anos, o mundo. Acredito que somos a soma de influências em qualquer arte e qualquer ofício.

Tenho quatro músicas inéditas que foram lançadas (em junho) no primeiro disco da Orquestra Fantasma. Temos essa banda há 37 anos e resolvemos fazer esse disco em homenagem a Belo Horizonte, o lugar onde nos encontramos e do qual temos forte influência.

É um livreto (um livro CD), um álbum com músicas conhecidas (regravações). O Belo [lado A] são as regravações com novos arranjos. E Horizonte [lado B] é hoje, é o futuro com novas composições minhas e de parceiros. Nessa onda, farei uma turnê pela Itália, de agosto a novembro, além de passar uma curta temporada gravando em um estúdio na Polônia, com músicos de diferentes nacionalidades.

Até antes de o disco sair é ótimo, mas, quando vira o produto pronto, não quero nem ouvir. Estou feliz, completando 50 anos de carreira e cada vez mais buscando simplificar as coisas, tanto na vida como na minha carreira. Sou muito crítico; porém, o importante é a emoção gerada na gravação, a empatia entre os músicos.

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