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Iconili: o apelo dançante do coletivo instrumental mineiro

Foto: Julay Barretti
Foto: Julay Barretti

 

Por Carlos Calado*

Acostumados a se apresentarem para plateias predominantemente jovens, em festivais, teatros ou casas noturnas pelo país, os músicos da banda Iconili encontraram um público inédito em sua trajetória, no show gratuito e ao ar livre que fizeram durante o último dia de programação do festival Sesc Jazz. Naquela ensolarada tarde de domingo (2/9), o ambiente era bastante familiar no deck do Sesc Pompeia.  Sentados, vários pais e mães tentavam relaxar um pouco, de olho em suas crianças, que aproveitavam o espaço amplo para se divertirem, correndo.

Depois de uma bem-sucedida carreira de 10 anos, durante a qual lançou três discos, essa banda de Belo Horizonte (MG) vive um período de transição. Sua formação – hoje com 11 integrantes, incluindo um naipe de instrumentos de sopro – chega a lembrar uma big band, mas sua música tem muito pouco em comum com as tradicionais orquestras do jazz. Idealizada como um coletivo musical em que todos participam ativamente, sem líderes assumidos, a Iconili já se definiu como um “laboratório de experimentação sonora”.

Com novos integrantes, a banda mineira vem preparando desde o ano passado o seu quarto álbum, ainda em processo de gravação. Durante esse período, as apresentações têm servido para testar o efeito do material inédito, no contato direto com as plateias. Esse processo de criação revela o objetivo do grupo: fazer uma música de essência instrumental, calcada em “grooves” que levem a plateia a dançar, mas que também possa ser ouvida com prazer, sem longos improvisos ou demonstrações de virtuosismo instrumental.

No repertório apresentado agora, já se pode sentir que as influências iniciais do afrobeat e do rock progressivo, marcantes nos primeiros anos da banda, abrem espaço para uma fase de ascendência mais brasileira. Claro que a banda não deixou de incluir no repertório composições de seus discos anteriores, que parte da plateia logo reconheceu, como as contagiantes “Jorge Botafogo” (do álbum “Piacó”, de 2015) e “Mulatu” (do EP “Tupi Novo Mundo”, de 2013, recém-relançado em vinil), que ganharam outros timbres, nos atuais arranjos.

Entre as novas composições, chama atenção “Iris”, cuja letra aborda uma temática bastante atual: as diferenças entre as visões de mundo da mulher e do homem. No show, essa canção marca, simbolicamente, as recentes chegadas da percussionista Chaya Vazquez e da vocalista Josi Lopes, que agora divide o centro do palco com os sopros de Henrique Staino (sax tenor e soprano), Lucas Freitas (sax barítono) e João Machala (trombone).

“Tem mineiro aqui, gente?”, brincou Josi, quase ao final do show, mas àquela altura a plateia paulistana já tinha sido conquistada pelos arranjos instrumentais da banda. Vale notar, aliás, que as crianças foram as primeiras a cair na dança. Pelo show que mostrou no palco do Sesc Jazz, a Iconili parece estar no caminho certo para ampliar ainda mais seu fã-clube. E assim desmente da melhor maneira a velha falácia de que a música instrumental só é apreciada por poucos.

*Carlos Calado é jornalista, editor e crítico musical. Escreve desde 2009 o blog Música de Alma Negra.

 

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