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Vó Generosa

Lembro como se fosse hoje, eu com cinco ou seis anos correndo em volta da mesa de jantar da minha avó Generosa, fugindo dos meus pais porque não queria voltar para casa após o final de semana. Sim, eu queria ficar com os meus avós para sempre! A minha relação com pessoas idosas começa nesse momento. Lembro que, quando criança, não via a hora de chegar o final de semana para ficar com os meus avós. Férias? Sempre com eles!

Na graduação em Educação Física, a matéria que fez meus olhos brilharem foi: Atividade Física para Grupos Especiais – e lá estava eu estudando o processo de envelhecimento entre as disciplinas de Basquete, Natação e Fisiologia. Já nos primeiros anos de graduação fui voluntária de um projeto com idosos da comunidade e tive a possibilidade de conviver com eles novamente.

Era início dos anos 2000 e, fazendo uma correlação com os dias atuais, é interessante ver como o assunto Envelhecimento e Longevidade se amplificou em todo o mundo, tanto no âmbito da ciência, com pesquisas em diversas linhas, quanto na transversalidade das áreas como saúde, turismo, bem-estar, empreendedorismo, economia, lazer e educação.

Nessa mesma época fiz estágio no Sesc Pompeia e acompanhava as aulas com idosos. Foi uma oportunidade ímpar ver, na prática, o que eu estudava na universidade, porém, de maneira refinada, pois ao mesmo tempo neste caldeirão aprendi a trabalhar com cultura, lazer, intergeracionalidade, criatividade e socialização.

Durante todo esse período, acompanhei a criação do Estatuto do Idoso, em 2003, um marco em defesa dos direitos dos idosos, alguns seminários como o de Envelhecimento Masculino, realizado pelo Sesc São Paulo, as Políticas Nacional e Estadual do Idoso e os avanços em pesquisa para tratamentos de doenças como Parkinson e Alzheimer, paralelamente ao aumento da expectativa de vida no Brasil e no mundo.

Também nessa época, minha avó foi diagnosticada com a doença de Parkinson. No início foi difícil para a família entender o significado desse novo quadro, mas após esse período houve uma mobilização para encontrarmos bons profissionais para atendê-la adequadamente e para ela não sentir, de maneira abrupta, um cenário diferente de toda a sua história de vida ativa. 

Nessa trajetória, a iminência da atualização e do conhecimento para quem trabalha com idosos e com a área do envelhecimento e longevidade se faz presente. No programa Trabalho Social com Idosos do Sesc não poderia ser diferente. Assim, os 55 anos de programa trazem ações nas unidades que são efetivas para o público idoso e para os especialistas e interessados na temática. Ao longo desse caminho tive a oportunidade de atuar em campanhas, mostras, ciclos, festivais, projetos especiais, ações permanentes, todos embasados em parâmetros, diretrizes e objetivos que dão base para colocar o assunto em pauta. A Revista Mais 60, que coordeno, também é uma ferramenta relevante para dar luz a assuntos necessários e provocativos na área.

Recentemente, tive a oportunidade de passar um tempo em Melbourne para vivenciar o trabalho dos profissionais que atuam com envelhecimento, especialmente com prevenção de quedas, mas consegui ver muito além. Observei a importância que esse público tem para os governantes, por meio de projetos subsidiados em várias áreas para que eles participem efetivamente e, em troca, o compromisso do idoso em tentar manter a independência e a autonomia, em todos os aspectos.

Quanto a minha avó Generosa, hoje ela está com 88 anos, tem Parkinson há 15, mas continua linda e lúcida! Ouço, com dificuldade, a sua voz e, ao mesmo tempo, penso o quanto essa etapa é reflexo de tudo que fazemos ao longo da vida. Sendo assim, acredito que o cuidado não pode começar a partir dos 60 anos, mas, sim, com cinco, seis anos, quando eu corria em volta da mesa de jantar.

 

Alessandra Nascimento é graduada em
Educação Física, mestre e doutoranda em Geriatria e
Gerontologia pela Unifesp e assistente técnica da Gerência
de Estudos e Programas Sociais do Sesc.

 

 

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