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O cinema brasileiro e suas pluralidades em retrospectiva no CineSesc

Durante o ano inteiro, a sala do CineSesc recebe produções de cinema brasileiro, seja com filmes em cartaz ou em mostras e festivais. Mas em dezembro, o espaço preenche parte de sua grade de programação com filmes nacionais, lançados na cidade de São Paulo entre novembro do ano anterior a outubro desse ano. Com curadoria de Ivan Melo e Leila Bourdoukan (que conversam com o público sobre suas escolhas em um Cinema da Vela especial), a Retrospectiva (ou Retrô, para os que já convivem com ela há muitos anos) vai até 2 de janeiro.

Entre o dia 6 e 17/dez, a primeira faixa da programação da 19ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro, às 14h30, terá filmes selecionados na 2ª edição da Mostra Sesc de Cinema. Na edição nacional da Mostra Sesc de Cinema, foram inscritos 1061 filmes do país inteiro (952 curtas-metragens e 109 longas-metragens). No total, serão exibidos 34 filmes, 7 deles são longas. No domingo, dia 09 de dezembro, o CineClubinho apresentará 6 curtas-metragens infantis de diferentes estados do Brasil.

Toda a programação da Mostra Sesc de Cinema é gratuita, com distribuição de ingressos 1 hora antes na bilheteria do CineSesc.

Imagem do filme "Lamparina da Aurora"

Como forma de reverenciar o formato analógico, um filme brasileiro será exibido na Sessão 35mm de dezembro: “Cinemas, aspirinas e urubus”, de Marcelo Gomes, foi lançado em 2005, e traz no elenco João Miguel e Peter Ketnath. A história da amizade entre um alemão e um sertanejo, no meio da 2ª Guerra Mundial, move as viagens dos personagens que, de povoado em povoado, apresentam o cinema para as populações desses locais.

No total, serão 40 filmes, dentre os cerca de 150 lançados comercialmente nos cinemas. Sandro Macedo, jornalista, aponta: “o número leva a crer que a produção não chega a ser o principal problema do cinema no país, mas sim a distribuição. Muitos desses títulos não tiveram o espaço adequado no circuito exibidor, com poucas semanas – às vezes, nem isso – e sessões em cartaz, descaso que torna a Retrospectiva ainda mais relevante”.

Sandro Macedo ainda aproveitou para fazer alguns destaques da programação. “As boas maneiras”, mais recente trabalho da dupla Juliana Rojas e Marco Dutra, e “O animal cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, são exemplos de terror fantástico, “fazem parte da safra filmes de gênero, pouco explorados por aqui, que tiveram êxito junto à crítica”. Nomes femininos como os de Juliana e Gabriela são cada vez mais comuns nas listas cinematográficas no país. Junto com elas, o time ainda é composto por Monique Gardenberg (“Paraíso Perdido”), Helena Ignez (“A moça do calendário”) e Lucia Murat (“Praça Paris”), entre outras, nos longas-metragens de ficção.


Imagem do filme "Café com Canela"

Camila de Moraes ( “O Caso do Homem Errado”) e Glenda Nicácio – (“Café com canela”, dirigido em parceria com Ary Rosa) são duas diretoras negras que estrearam no circuito comercial brasileiro neste último ano. Sandro destaca que esse feito é histórico e digno de atenção do público pois se trata de uma entrada que demorou 34 anos, tempo que separa essas produções do filme “Amor Maldito” de Adélia Sampaio.

As urgências do tempo presente dividem espaço com olhares para o passado, provavelmente no anseio de entender questões do hoje. De acordo com Sandro Macedo não é contraditório que esses filmes coexistam na mesma retrospectiva: “Aprender sobre o passado pode ser uma boa forma de entender o presente. ‘O processo’, de Maria Augusta Ramos, que relembra a crise política que antecedeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff e ‘Imagens do Estado Novo’, de Eduardo Escorel, se debruça sobre um período da história que merece reflexão”.

A Retrospectiva do Cinema Brasileiro tem filme sobre uma palavra do português (“Saudade”), mas nem só nesse idioma está ancorada a produção no país. Filmes como “Ex-Pajé”, “Como fotografei os Yanomami”, “Piripkura” e “Antes O Tempo Não Acabava” ao trazer para a tela do CineSesc temáticas indígenas trazem novas línguas para escutar o Brasil e, assim, criar imagens diferentes do país. Quatro semanas para olhar e ouvir as múltiplas vozes e figuras do cinema brasileiro, com sua diversidade de estilos e linguagens.

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