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Literatura através dos gêneros: 12 livros para conhecer o trabalho de pessoas trans e cisgêneras

Ave Terrena Alves, poeta e dramaturga. | Foto: Henrique Hennies
Ave Terrena Alves, poeta e dramaturga. | Foto: Henrique Hennies

Até 16 de dezembro, o Sesc Avenida Paulista recebe o projeto Segunda Queda, conjunto de atividades que parte da poesia para propor uma travessia via palavras, interseccionando a percepção e o trabalho artístico de pessoas trans e cisgêneras. A programação ainda celebra o lançamento do primeiro livro publicado por Ave Terrena Alves, que tem o mesmo nome do projeto: Segunda Queda.

Ave é poeta, performer, dramaturga e atriz, integrante do grupo de teatro LABTD desde 2015. Participou de várias peças de teatro e happenings, sendo que sua peça "as 3 uiaras de SP city" foi premiada pelo IV edital de Dramaturgia do CCSP. A EOnline convidou a artista para indicar uma lista de livros que exploram a questão de gênero.
Confira!


1- Antologia Trans – 30 poetas trans, travestis e não-binários

Como sonhar e, ao mesmo tempo, intervir? A poesia representou, para nós, a interface entre estas duas possibilidades de ação política. Ela é o discurso que emerge das doloridas vivências T em uma sociedade cisgênera, mas que se ergue em resistência, em potência. Consolida o domínio sobre a palavra e sobre si. O poder não é algo que se atinge ao final de um caminho, nem algo que está fora de nosso alcance. Ele está aqui, emanando de nossas articulações, nossos espaços e nossas palavras.


2- A queda para o alto – Anderson Herzer

Aos vinte anos de idade Sandra Mara Herzer, ou Anderson Herzer, como ela passou a se autodenominar depois de assumir uma identidade masculina, encontrou na morte o fim de seus dramas. Sempre incompreendida, desenvolveu grande sensibilidade e também rebeldia. Internada na Febem, neste mundo diferente, severo, morto, desumano, injusto - como diz no livro - conheceu mais um lado cruel da vida.


3- A princesa – Fernanda Farias de Albuquerque e Maurizio Janelli

Este livro integra ensaio, reportagem e depoimento. É a história de Fernanda Farias de Albuquerque, travesti desde os 18 anos. Como milhares de travestis brasileiros, embarcou nos anos 80 para a Europa. Passou por Portugal e Espanha antes de se estabelecer na Itália. Começou a se prostituir em Roma em 1988, até que, em 1990 foi presa por tentativa de homicídio. Fernanda cumpriu pena na penitenciária de Rebbibia. Lá conheceu Maurizio Jannelli, condenado por sua atuação no grupo armado das Brigadas Vermelhas.


4- E se eu fosse puta – Amara Moira

"E se eu fosse puta é o quê? Você, leitor, que me diz. Tem de tudo um pouco, mas sobretudo verdade, dessas que a gente gosta só debaixo do tapete, bem escondidinha, o dia a dia da rua, a barganha, a cama, o homem depois de gozar. Amara se vê travesti e junto descobre a vida que haveria a partir de então, puta aonde quer que fosse, fosse pra cuspir, fosse pra perguntar discretamente o preço ("tudo no sigilo, sou casado, sabe?")."


5- De trans pra frente – Dodi Leal

Autora do livro de poemas "De trans pra frente" (Patuá, 2017), Dodi Leal é Doutoranda em Psicologia Social pelo IP-USP. Licenciada em Artes Cênicas pela ECAUSP. Habilitada em Cinema e vídeo do Baccalauréat interdisciplinaire en arts da Université du Québec à Chicoutimi (UQAC, Québec-Canadá).

 

6- Transfeminismo: teorias e práticas – Jaqueline Gomes de Jesus

Transfeminismo, tema cada vez mais comentado nas redes sociais e em quaisquer eventos relevantes no campo do gênero, da diversidade sexual e dos feminismos. O livro "Transfeminismo: Teorias e Práticas" se apresenta como uma "literatura de fronteira", que aprofunda reflexões dessa novíssima linha de pensamento e ação, reconhecendo as contribuições pragmáticas dos movimentos sociais e as observações do meio acadêmico, propondo conexões que, para além de estimular diálogos e estudos, subsidiam iniciativas políticas fundamentadas.


7- Gênero em termos reais – Raewyn Connel

Esta obra apresenta um estudo de caso sobre empresários no poderoso setor financeiro da economia, e aborda o caminho pelo qual a masculinidade se estrutura, enquanto os garotos estão em processo de crescimento. Finalmente, "Gênero em termos reais" leva em consideração as vidas e as colocações das mulheres transexuais. A história de uma vida, embasada em uma fantástica entrevista, é relatada com detalhes. As dificuldades das mulheres transexuais com relação à psiquiatria são analisadas; deste ponto, o livro retorna para a política igualmente conturbada das relações entre feminismo e mulheres transexuais.


8- Metade cara, metade máscara – Eliane Potiguara

Nesta obra Eliane Poliguara enfatiza a importância da terra, nossa mãe. Zelar por nossa mãe é nossa resposabilidade e, zelando por ela, zelamos por nós próprias. Todas as mulheres são manifestações da Mãe Terra em forma humana.


9- Mulheres, raça e classe – Angela Davis

Mais importante obra de Angela Davis, Mulheres, raça e classe traça um poderoso panorama histórico e crítico das imbricações entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista, passando pelos dilemas contemporâneos da mulher. O livro é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe.


10- O que é empoderamento? – Joice Berth

"Como mulheres de periferia do quarto de despejo da cidade, é importante falar o que entendemos como empoderamento a partir de nossas vivências. Não encontramos em nenhuma discussão produzida pelo movimento feminista branco uma possibilidade de construção de nossa identidade. Somos muitas, somos plurais. Nossa discussão sobre empoderamento é no sentido da busca que fortalece o grupo na caminhada dentro de uma sociedade desigual, racista, machista, preconceituosa. Empoderar o coletivo leva a conscientização, união e a transformação das pessoas e da comunidade. Especificamente nós, mulheres periféricas, buscamos estratégias sempre criativas de superar a desigualdade, o machismo, a violência e a maneira como a sociedade nos vê e reage diante de nossas lutas. Por causa de nossa história de opressão, silenciamento, marginalização, buscamos caminhos pra superação, daí o nosso entendimento do que seja empoderamento. Abrir a discussão sobre esse tema é vital pra nossa caminhada. (Adenilde Petrina Bispo – Coletivo Vozes da Rua – Santa Cândida – Juiz de Fora-MG) ".


11- Viagem solitária- João W. Nery

As memórias do primeiro transhomem operado no Brasil, “Viagem solitária” conta a história de João W. Nery, o primeiro transexual masculino de que se teve notícia no Brasil. Especialmente dedicado a todas as pessoas que se reinventam para achar um lugar no mundo, narra a infância triste e confusa do menino tratado como menina, a adolescência transtornada, iniciada com a "monstruação" e o crescimento dos seios que fazia de tudo para esconder, o processo de autoafirmação e a paternidade. São muitos os personagens dessa história: de Darcy Ribeiro, considerado seu mentor intelectual e um dos primeiros amigos a compreenderem-no, a Antônio Houaiss, que, sendo um grande defensor das liberdades democráticas, recomendou seu primeiro livro para publicação, do qual foi prefaciador. 

12- "Eu preferia ter perdido um olho" - Paloma Franca Amorim

“Eu preferia ter perdido um olho” nasceu da reunião dos textos publicados por Paloma Franca Amorim no jornal paraense O Liberal. Logo na apresentação da obra, feita por Lúcio Flávio Pinto, a autora é comparada com Clarice Lispector. No prefácio, Edir Gaya aumenta a aposta e compara a jovem autora à Clarice e à Virgínia Woolf. Assim como essas duas grandes mulheres, que provocaram grandes mudanças no paradigma estético da literatura no século XX, Paloma escreve em tom confessional para uma tentativa de compreensão da vida e da realidade humana, em toda sua subjetividade. Ao mesmo tempo, passa longe da já saturada auto-ficção.