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Um convite de casamento e uma visita a Nazaré

Em janeiro, o CineSesc tem uma estreia cinematográfica exclusiva na sua sala: o filme Wajib – Um convite de casamento. A partir do dia 24, o filme da cineasta palestina Annemarie Jacir estará em cartaz em diferentes horários. Wajib – Um convite de casamento é o terceiro longa-metragem da diretora, que já escreveu, dirigiu e produziu mais de dezesseis filmes.

Seu curta-metragem, Like Twenty Impossibles de 2003, foi o primeiro curta-metragem árabe a participar da seleção oficial do Festival de Cinema de Cannes e continuou a se consolidar quando foi finalista do Oscar. Cinco anos depois, seu primeiro longa-metragem – O Sal desse Mar (“Salt of this Sea”) estreou na seleção “Un Certain Regard” do Festival de Cinema de Cannes, sendo bem avaliado pela crítica do festival. Em sua trajetória, o longa recebeu quatorze prêmios internacionais e foi o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher palestina a ser indicado pelo país para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro. Em seu segundo longa-metragem, de 2012, chamado Quando vi você (“When I Saw You”), Annemarie Jacir marcou um posicionamento na indústria cinematográfica ao compor toda a produção do filme com membro de origem árabe.

Wajib – Um convite de casamento foi o filme de abertura da 13ª Mostra Mundo Árabe de Cinema realizado em 2018 no CineSesc e funciona quase como um filme de estrada, ao nos fazer acompanhar o caminho de um pai em companhia de seu filho para distribuir convites de casamento de sua filha pelas vizinhanças de Nazaré. Sobre as motivações para fazer o filme, a diretora disse:

Há uma tradição na Palestina que continua sendo muito importante ainda nos dias atuais. Quando alguém se casa, espera-se que os homens da família, geralmente pai e filhos, entreguem pessoalmente os convites de casamento para cada convidado em mãos. Não há envio de convites ou entrega por estranhos. E se os convites não forem entregues pessoalmente, isso é considerado desrespeitoso. Eu não conheço nenhum outro lugar que adote a esta tradição tanto quanto os palestinos que vivem no norte da Palestina, onde está situado o "Wajib".

"Wajib" significa vagamente "dever social". Quando a irmã de meu marido se casou, ele fez o seu wajib para entregar os convites com o pai. Decidi acompanhar os dois em silêncio enquanto eles passavam cinco dias percorrendo a cidade e as aldeias vizinhas entregando cada convite. Como observadora silenciosa, às vezes era engraçado e outras vezes doloroso. Aspectos dessa relação especial entre pai e filho, as tensões de um amor às vezes testado entre eles, surgiram de pequenas maneiras. A partir daí, comecei a trabalhar na ideia de um filme sobre esse frágil relacionamento.

Abu Shadi é o personagem principal da trama, um professor de sessenta e poucos anos, que mora em Nazaré. Divorciado, sabe que, um mês depois do casamento de sua filha, estará morando sozinho. Para ajudar o pai na entrega dos convites de casamento, Shadi, seu filho arquiteto, chega de Roma depois de anos no exterior. Os dois seguem o costume palestino de entregar os convites um a um em mãos para cada convidado. Essa convivência de alguns dias traz detalhes de seus relacionamentos, entre si e com outras personagens da trama, e, mesmo quando chegam a momentos de tensão, não deixam de lado um agradável humor, reencontrando pontos de convergência em suas vidas tão diferentes.