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Duplo desafio nos países da América Latina

Por Elisabetta Recine


A América Latina enfrenta um dupla carga de má nutrição, registrando tanto prevalências altas de desnutrição e/ou deficiência de micronutrientes em algumas regiões e grupos populacionais e sinais de recrudescimento da insegurança alimentar quanto o aumento das taxas de sobrepeso e obesidade em praticamente todos os  países que se configuram como fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que estão entre as principais causas de morte no continente.

Como um todo, os países têm produção suficiente e variada para alimentar adequadamente suas populações, mas, por várias razões, muitos grupos não conseguem acessar esses alimentos ou escolher uma dieta saudável. Os atuais padrões alimentares caminham para a quase monotonia alimentar e consumo crescente de produtos processados ¿¿e ultraprocessados.

Nosso sistema alimentar é caracterizado por profundas ineficiências e desigualdades, que acabam por afetar o campo e a cidade. Os ambientes alimentares dificultam o acesso tanto financeiro como físico a alimentos saudáveis, as informações disponíveis nem sempre são confiáveis. A homogenização alimentar, incentivada por  práticas intensivas de promoção comercial de produtos não saudáveis ameaça o patrimônio e a cultura alimentar, e repercute direta e negativamente na nossa saúde e autonomia

A transformação dos sistemas alimentares hegemônicos é essencial para a transformação desta realidade. São necessárias políticas públicas e espaços de governança mais inclusivos e justos, bem como estruturas institucionais e legais adequadas para o desafio.

As ações necessárias e urgentes para mudar o sistema alimentar incluem estratégias para promover a produção, a transformação, a oferta e a distribuição sustentável de alimentos variados e saudáveis. A sustentabilidade necessária não é apenas ambiental mas também econômica e social. Da mesma maneira, é necessário desenvolver novas políticas para melhorar o acesso e o consumo desses alimentos, assim como fortalecer uma governança intersetorial que inclua mecanismos de monitoramento, avaliação e prestação de contas.

 

*Elisabetta Recine é Nutricionista, Doutora em Saúde Pública, Mestre em Ciências (Fisiologia Humana) e graduada em Nutrição pela Universidade de São Paulo (USP). Professora e coordenadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional da Universidade de Brasília (UnB). Presidente do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) entre 2017 e 2019. Integrante  do Painel de Especialistas do Comitê Mundial de Segurança Alimentar das Nações Unidas. Ela foi uma das palestrantes do Seminário Internacional Conexão Comida. As gravações completas das mesas e conferências está disponível aqui