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Perambular: um diálogo cultural entre Brasil e Portugal

Brinquedos, palavras e outros elementos em uma arquitetura lúdica | Fotos: Henrique Mendes
Brinquedos, palavras e outros elementos em uma arquitetura lúdica | Fotos: Henrique Mendes

Você já pensou em quantas pessoas de várias gerações se comunicam, sonham e transmitem conhecimentos ao fazer uso da língua portuguesa?

Dizem que somos mais de 200 milhões que falam línguas em português. Mais de 500 anos de história e um oceano separam Portugal e o Brasil. Entre as características distintivas dos povos, a linguagem se sobressai como elemento fundacional. A maneira pela qual grupos expressam ideias, sentimentos e saberes, fazendo uso da oralidade ou do registro escrito, configura-se, para além de instrumento de comunicação, como um sistema de pensamento e orientação social. Por meio dele, criam-se formas de ver o mundo e interpretá-lo, e posicionar-se diante das coisas e dos seres. Isso porque palavras carregam histórias e acionam afetos, funcionando também como mecanismo de integração e exclusão.

E dessa linha de tempo de relações, o que temos de diferente e em comum através da língua e dos costumes? Olhe ao seu redor.  Tente identificar as raízes da cultura portuguesa. Difícil ou fácil? Consegue citar? Escrever num papel, ou bordar em uma toalhinha toda colorida?! Ao fazermos o exercício de olhar para quem somos, nossas percepções são diversas, diante da mescla de muitas outras culturas, que geram peculiaridades na língua, como sotaques, gírias e significados.

Ao se deslumbrar com as diferenças e similaridades entre as terras brasileiras e portuguesas, que a escritora, arte-educadora e atriz Selma Maria passou recolher e reconhecer objetos diversos sobre a temática. Acompanhada pelo escritor José Santos, em um processo de pesquisa de 10 anos e viagens que cruzaram o Atlântico, foi reunido um extenso material que busca dialogar, recordar e perambular por miudezas e as grandezas da cultura material e imaterial dos povos português e brasileiro.

Essas viagens cruzando mares resultaram na exposição Perambular, que chega agora ao Sesc Carmo. Para Selma, é “um passeio brincante e instigante pelas línguas portuguesas faladas no Brasil e em Portugal.” Nela, o público encontra “uma cartografia poética que brinca com as palavras e os elementos da natureza daqui e de lá”, com palavras faladas, escritas e até mesmo bordadas. A mostra traz brinquedos, palavras e objetos em sua arquitetura lúdica que perambula entre o Brasil, Portugal e o Atlântico. E entre tudo isso, dezenas de poemas escritos por Selma e José Santos. Alguns inéditos, feitos especialmente para a exposição.

A proposta de Perambular busca resgatar esse conhecimento cultural para as novas gerações.

“É saber como a nossa língua portuguesa se reinventa no Brasil e em Portugal”, nas palavras de Selma.

Esse pensamento se materializa num velho ditado: “Uma andorinha não faz verão”, deveras conhecido pelo povo brasileiro. Em terras portuguesas, o ditado permanence, mas a estação já não é mais a mesma. Essa similaridade que se desfaz geograficamente é representada na ambientação expositiva. “Criamos uma geografia espaçosa, espalhada e brincalhona que conta, com a ajuda da literatura e das artes plásticas, os jeitos de ver e de sentir desses dois povos”, conta a artista.

A exposição Perambular tem como temática um convite ao conhecimento das similaridades culturais que o Brasil tem com Portugal, e que contribui para o conhecimento de quem somos como nação. Afinal, como dizia o poeta Pessoa, “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

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