Sesc SP

Matérias da edição

Postado em

Arte
Plataforma ABC

A nova edição do Plataforma ABC, no Sesc São Caetano, revela a efervescência cultural da região, em espetáculos de teatro, música e dança, além de exposições e palestras

A região do Grande ABC, famosa por sua tradição industrial e sindicalista, mudou sua paisagem nos últimos anos. Muito mais voltado ao comércio e à prestação de serviços, o conglomerado de municípios mostra fôlego também para fazer parte da agenda cultural do estado. Cada vez mais as cidades abrem espaço para montagens teatrais, shows musicais e lançamentos literários. Procurando evidenciar essa mudança, o Sesc, por meio da unidade de São Caetano, está promovendo um projeto só com artistas da região: é o Plataforma ABC, nome inspirado nas plataformas de trem, meio de transporte tradicional e importante na região. A intenção é mostrar trabalhos das sete cidades que compõem o ABC: Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires, Mauá, Diadema, Santo André, São Caetano e São Bernardo.
O evento, que teve sua primeira edição nos meses de janeiro e fevereiro de 2001, não deu conta de apresentar todos os nomes que fazem parte desse caldeirão cultural. O primeiro Plataforma teve como base a música, o teatro - infantil e adulto - e alguns representantes do movimento hip hop - bastante expressivo na região. Essa primeira versão já contava com o apoio das prefeituras, que indicaram os trabalhos selecionados pelo Sesc. Para a técnica da unidade, Kelly Adriano de Oliveira, o fortalecimento dessa parceria para 2002 só teve a acrescentar. "Além dos departamentos de cultura indicarem os artistas, fizemos uma curadoria conjunta", explica. "Ninguém conhece melhor a produção cultural de uma cidade do que seus representantes", afirma.

Mais espaço
Uma das temáticas do projeto deste ano são as cidades, seu cotidiano e seus habitantes. Para reforçar essas imagens, o cartum aparece como marca registrada dos espaços urbanos modernos. Numa bem-humorada exposição, as charges e caricaturas apresentadas mostram um pouco da realidade vivida pelos próprios cartunistas.
Para o curador da exposição, Mário Mastrotti, o evento é uma das melhores maneiras de apresentar a charge e o cartum como formas alternativas à leitura tradicional. Além disso, o curador explica que o humor gráfico brasileiro tem uma tradição de mais de um século. "Existem registros de caricatura e de charge que datam de 1836", informa o chargista, que acredita, porém, que o espaço de divulgação "não cresceu proporcionalmente". "Acho necessário que se dê oportunidades para os humoristas mostrarem seu trabalho. Precisamos do bom humor para equilibrar a vida", defende.
No dia 30 de janeiro, data dedicada ao quadrinho nacional, o Plataforma ABC prestou uma homenagem ao gênero que tem como pioneiro no Brasil o quadrinista Angelo Agostini, organizando um encontro entre vários autores da região, entre eles o curador Mário Mastrotti.

Palavra viva
Trata-se de um evento dentro do evento. Todas as quartas, a escritora Dalila Teles Veras e o diretor da escola livre de teatro de Santo André, Kil Abreu, comandam noites em que textos de autores da região são interpretados por atores e bailarinos também do pedaço. Para Dalila, também curadora da parte teatral do projeto Plataforma, essa parceria é importante, tanto do ponto de vista da literatura como do ponto de vista do teatro. "Esta é uma leitura alternativa à leitura que se faz normalmente de um livro. É muito interessante para os autores verem seus textos lidos de outra maneira."
Para as montagens foram escolhidos textos que mostrassem a produção recente dos artistas da cidade. Há textos sobre o cotidiano, sobre as cidades, sobre a vida urbana - traço muito característico da atual geração de escritores do ABC. Dalila acredita que a literatura da região está cada vez mais voltada para a realidade. "Os textos, em grande parte, deixaram de ser imagéticos, para se basear no dia-a-dia", explica. No próximo dia 6 de fevereiro, o "Onde Anda" terá textos retirados de um livro ainda inédito, coordenado pelo poeta Tarso de Melo, que fez um desafio a doze escritores para que escrevessem sobre sua relação com a cidade. "A cidade não aparece de forma explícita, não se sabe de qual cidade da região se está falando", explica a curadora. Para Kil Abreu, todos os textos são poéticos, mesmo quando em prosa. "São obras em prosa e verso, mas todos com alta carga metafórica", conta ele. "Eles falam do comportamento do homem da região com um apelo mais visual." Para ele, é importante que as pessoas vejam o novo cenário que está surgindo das montagens feitas por profissionais qualificados e em sintonia com a realidade. "É uma produção diversificada e bastante antenada, não apenas com a realidade local mas também com a realidade que está fora do ABC", explica ele. "Falo isso não só do ponto de vista dos temas que são abordados nos espetáculos, mas também das formas cênicas que estão sendo utilizadas."

O som do ABC
Já as sextas-feiras serão dedicadas à música no Plataforma ABC. Semanalmente, duas atrações, que representam movimentos musicais característicos da região, ganham apresentações que culminam em uma inusitada jam session, com diferentes sonoridades no palco. "Nós achamos que valorizar a diversidade musical seria positivo", conta Kelly Adriano de Oliveira, técnica da unidade. "Para este ano teremos rap, rock, samba-lenço, catira e muito mais."
Exemplo de diversidade foi a noite em que a banda de rock Pai Urso, que por si já é um coquetel de estilos que mistura MPB, funk e hip hop, apresentou-se com os rappers do Sistema Racional. O grupo, que define seu estilo musical como "rap positivo", mostrou um pouco do que fez no filme Vinte-Dez, dos cineastas Francisco César Filho e Tata Amaral. "Eles conheceram nosso trabalho através da participação que fizemos no filme e resolveram patrocinar nosso videoclipe", conta Fábio Féter, um dos integrantes do grupo.

Ainda nas férias - Programação prossegue em fevereiro

O projeto Plataforma ABC teve início no dia 16 de janeiro e vai até 1º de março. Portanto, dá tempo de conferir alguns destaques da recheada programação. Entre eles, o show do conjunto Samba Lenço e do grupo Ás de Ouro/Catira de Mauá, que apresenta a catira, dança rural com raízes no interior paulista e na divisa de Minas Gerais e Goiás. Ambos acontecem no dia 8 de fevereiro, às 20 h.
Para quem gosta de teatro, a pedida é a peça infantil Quem Vai Matar o Pessy?, montada pelo Núcleo de Prática Teatral de São Caetano, em que uma turma de clowns, liderada por Pessy, cria cenas muito divertidas, num universo de fantasia e brincadeiras. O espetáculo será apresentado no dia 23 de fevereiro, às 15 h. Isso sem contar com a hilariante exposição de quadrinhos que fica em cartaz durante todo o período do evento. Confira na programação.