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Ontem, hoje e sempre

Samba, ginga, cachaça. Moqueca, fubá, quiabo. Fungar, zanzar, cabular. O que essas palavras, tão usadas no cotidiano do brasileiro, têm em comum? Todas têm a mesma origem: o bantu. No período da colonização, elas chegaram ao País com os negros trazidos na situação de escravizados. Foram incorporadas à língua portuguesa no Brasil e hoje se constituem como parte integrante da nossa cultura. Se a identidade de um povo é dada por suas expressões culturais, não há dúvidas sobre a influência africana na formação do Brasil como Estado-nação. “Das religiosidades aos festejos: o tambor é elemento que pulsa, vibra e convoca a presença de cada um que traz consigo essa ancestralidade”, destaca a jornalista e pesquisadora Maitê Freitas, realizadora do projeto multimídia Samba Sampa e da web-série Quando Zumbi Chegar.

Hoje, soma-se a essa herança a influência de imigrantes e pessoas que vivem em situação de refúgio que nos últimos anos desembarcam de Angola, Nigéria, Senegal, Gana, Guiné-Bissau, Mali, Guiné, República Democrática do Congo, entre outros países. Uma profusão de línguas e expressões culturais. Do colorido das roupas e do artesanato aos sabores em restaurantes típicos e mercados que passaram a abrir as portas, principalmente, no Centro da capital paulista.

Chegando ao Brasil num fluxo contínuo, mas em contextos históricos, sociais e econômicos completamente diferentes, os africanos formam o povo brasileiro. “Por isso, uma lei de ensino da história e cultura africanas, como a Lei nº 10.639, é extremamente importante: para sabermos e termos interesse na diversidade que os países africanos possuem e como eles influenciam o que somos. Creio que ainda precisamos nos abrir para que o diálogo e essa troca possam acontecer de forma mais fluida e rica”, aponta Maitê Freitas. Para isso, nas últimas décadas, abrem-se novos espaços de conhecimento e reflexão acerca da ancestralidade e da contribuição das nações africanas para o Brasil.
 


 

Numa alusão às datas 13 de maio (Abolição da Escravatura) e 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), o Sesc São Paulo dá início ao projeto Do 13 ao 20: (Re)Existência do Povo Negro, com o objetivo de fomentar olhares para o passado, para o presente e para o futuro. “Este projeto tem por intuito propor diálogos sobre a condição social da população negra, reconhecendo e fortalecendo suas lutas, conquistas, manifestações e realidades, bem como o fomento à equidade, convivência e reconstrução simbólica no campo individual e coletivo, colaborando para uma sociedade livre do racismo e de outras formas de dominação”, explica Fabiano Maranhão, assistente da Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc.
 


Foto: Lídia Lisboa.

A partir de 16/5, o Sesc Vila Mariana realiza a exposição "PretAtitude: Insurgências, emergências e afirmações na arte afro-brasileira", sob curadoria de Claudinei Roberto da Silva. A mostra apresenta um recorte da produção afro-brasileira contemporânea com obras de Lídia Lisboa, entre outros artistas.
 

Legados africanos

PALESTRAS, CURSOS, BATE-PAPOS, ESPETÁCULOS E OUTRAS AÇÕES SOBRE LEGADOS E DESAFIOS DA POPULAÇÃO NEGRA

Durante os próximos sete meses, o projeto Do 13 ao 20  será realizado em diversas unidades do Sesc São Paulo. A programação propõe debates e reflexões para fortalecer e reconhecer conquistas e manifestações, bem como diferentes realidades do povo negro no país. Confira alguns destaques de maio:
 


Lima Barreto. Foto: Divulgação.
 

SESC AVENIDA PAULISTA

Lima Barreto e o Movimento Negro Unificado (dia 17/5)

Abolição, república e aniversários tornaram-se códigos questionáveis na trajetória do escritor Afonso Henriques Lima Barreto, que nasceu no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da lei áurea. Neste encontro, a história deste grande escritor negro reverbera, se mescla e se funde às histórias dos negros contemporâneos e os mais de 40 anos de luta do Movimento Negro Unificado.
 


Foto: Fernando Solidade.

SESC SANTO AMARO

Quebra Quebranto (dia 17/5)

O novo espetáculo musical do grupo Clarianas propõe a verticalização da linguagem que une a sonoridade tradicional com o discurso urbano pulsante no gueto. As novas canções aprofundam temas como empoderamento feminino, extermínio da população negra, herança indígena e religiosidade afro-brasileira. Nos arranjos, ritmos da tradição brasileira e africana se misturam a instrumentos como viola caipira, rabeca, baixo e outros. O espetáculo ainda é costurado com textos e poesias.

 


Foto: Jailton Carvalho.
 

SESC PINHEIROS

A loucura da escravidão. A loucura da colonização (dia 28/5)

Quais são as ressonâncias no psiquismo do brasileiro dos anos de escravatura no Brasil e o que temos para comemorar ou avançar sobre esta questão? Este é o tema do diálogo entre o professor Fily Kanouté e o psicólogo e educador do Museu Afro Brasil Marcio Farias com mediação da psicanalista Fernanda de Almeida Prado. Questão também presente na obra de Frantz Fanon e de Tahar Ben Jelloun, ambos escritores e psiquiatras atuantes nas lutas de independência africana.

 

SESC SANTO ANDRÉ

Turismo: Histórias Negras: Cafundó Turi Vimba em Sorocaba (dia 17/5)

Nesta excursão que parte da unidade Santo André, os visitantes irão conhecer as diversidades de histórias da região de Sorocaba, marcada por manifestações culturais afro-brasileiras, presentes em vários locais da cidade e entorno. Em Salto de Pirapora, a Comunidade Quilombola Cafundó resiste com a dança do jongo e o dialeto cupópia, que é uma ramificação da língua kimbundu, de origem bantu. No centro da cidade, a igreja Senhor do Bonfim das Águas Vermelhas conta a história de João de Camargo, que ficou famoso por práticas de curas a partir de conhecimentos da natureza.

 


Foto: U.S National Archive.

CPF

As Políticas de Igualdade Racial nos Estados Unidos e no Brasil (Dia 28/5)

Os Estados Unidos nos anos 1960 e 1970 e o Brasil entre os anos de 1988 e 2014 implementaram um conjunto de políticas para combater o racismo e promover a igualdade racial. A fim de refletir sobre estes cenários, a palestra analisa o surgimento dessas medidas que apontam para uma inflexão na trajetória do tratamento dado à questão racial nos dois países. O que explica a origem dessas políticas? Como interpretar a natureza e o conteúdo diferentes de cada uma delas?

 

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