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Trajetórias – Uma breve reflexão sobre nossas matrizes culturais

Foto: Thiago Altafini
Foto: Thiago Altafini

Texto: Adriano Antonio da Costa

Velho, tempo e memória

Tempo: substantivo masculino. Memória: substantivo feminino. Relacionam-se com determinado período e com a faculdade de conservar e lembrar de fatos, ligando referências do passado com o presente tendo o futuro como norte. Essas questões sempre instigaram a equipe do Sesc Piracicaba quando observava e refletia a respeito do envelhecimento e dos processos que impactam a pessoa idosa. A invisibilidade do “velho”, recluso, à sombra das famílias, não tem sido a maior tônica de nossas observações e pesquisas. Ele é, sim, visto como um cidadão cada vez mais ativo, buscando seus direitos nas manifestações populares, em viagens, nas academias de ginástica, trabalhando, caminhando nos parques, estudando em universidades abertas e estando presente nos mais diversos cenários sociais.

Esta transição, contexto e postura atual da velhice requerem de nossa instituição, e principalmente do Programa Trabalho Social com Idosos, reflexões, atenção especial, compromisso e também nos desafia a interpretar e dar respostas ao propor ações que possam valorizá-los, disponibilizando protagonismo, autonomia, acessibilidade e valorização social “com e para” esse público.

Uma Piracicaba cosmopolita devido a sua gente e sotaque, que se tornou um centro irradiador de uma cultura ímpar, possibilitou pensarmos na universalidade e abrangência do tema, lançando um olhar caleidoscópico no debate sobre suas matrizes culturais, já que a cidade é diversa na sua origem e composição étnica, composta de cidadãos do mundo na sua formação: índios, europeus, pretos, árabes e asiáticos.

Um eclético e rico amálgama, com todas as suas ambiguidades, que não são artifícios retóricos, mas algo recorrente na maioria das cidades centenárias, com centros acadêmicos e conhecimentos tecnológicos, enriquecida pela vida estudantil e por profissionais oriundos das mais diferentes partes do planeta, buscando preservar seus valores tradicionais da cultura caipira consolidada no Vale do Médio Tietê, com uma linguagem local peculiar, mas sem fronteiras, e um “olhar” aberto para mundo e o futuro.

A partir desse diagnóstico, buscamos lançar luz sobre personalidades de destaque, cujas obras, produções, contribuições ativas na dinâmica cultural e social refletem na riqueza do material que produziram e ainda produzem ao longo das suas vidas, nas mais diferentes áreas e setores do conhecimento humano: educação, artes visuais, rádio, canto coral, arquitetura, engenharia agrônoma, jornalismo, pesquisa científica, história, religião, música, filosofia, meio ambiente; de comprovada relevância e identidade com a cidade e o mundo, com olhar para o coletivo, e todas acima de 60 anos. Esta conceituação nos deu uma direção: realizar uma pesquisa qualificada para identificar os possíveis homenageados estabelecendo critérios, formatos, períodos e profissionais com vasta produção em suas respectivas áreas de ação.

A ideia foi prestar homenagens em formato de uma entrevista ao vivo, em encontros dinâmicos, complementados por intervenções, mostras dos trabalhos, fotos, livros, publicações, esquetes teatrais, musicais e leituras dramáticas para que nossos convidados sejam instigados a revisitar suas obras, discorrer sobre pensadores que os influenciaram, caminhos trilhados, referências e também abordar o respeito com que lidam com sua longevidade e seu processo de envelhecimento.

Para iniciar o projeto em 2016, convidamos o jornalista e editor Romualdo Cruz Filho, mestre em educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, para realizar as pesquisas e as mediações dos convidados e juntamente com a equipe da unidade definir os nomes, as dinâmicas e as intervenções de cada encontro.

A relevância do projeto, que propõe homenagear a trajetória de grandes personalidades locais, atraiu um parceiro importante, a TV Comunitária e Educativa USP Piracicaba, da Universidade de São Paulo, vinculada à Escola Superior Luiz de Queiroz, que se propôs a gravar e editar as entrevistas. Sua grade de programação permite que até 15% do conteúdo exibido seja produzida localmente, com autonomia para gerir e inserir programas “comunitá- rios” e apoio cultural da cidade. Os programas gravados nas edições de 2016 e 2017 podem ser encontrados no canal www.youtube.com/TV Usp.

Em 2018, última edição até o momento do Projeto Trajetórias, a parceira institucional foi realizada com a TV Comunitária da Universidade Metodista de Piracicaba – Unimep, que disponibilizou os conteúdos gravados no canal www.youtube.com/TVUnimep.

Neste ano, nossa pesquisa levantou cinco no-vas personalidades com trajetórias distintas, que serão retratadas ao longo de 2019. Assim, nossa intenção é continuar refletindo sobre o processo e a cultura do envelhecimento, além de valorizar um pouco da identidade dos personagens e da cidade, e vice-versa.

“O tempo é a minha matéria, o tempo pre- sente, os homens presentes, a vida presente.” Carlos Drummond de Andrade