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Thrash Metal sem limites

Tudo começou com um anúncio em uma revista. Rogener Pavinsk precisava de um baterista, e pensou porque não? Resumindo, deu certo. Ele colocou o anúncio, encontrou o baterista, e deu o primeiro passo a caminho da Tormenta! Pode parecer agressivo, mas a tormenta aqui foi de conquistas, afinal, já são 21 anos de estrada.

A banda, com raízes em Ribeirão Preto tem cativado o público, com seu trash metal em composições autorais. O que move esses caras é o rock, a paixão pelo som pesado. O que eles querem é fazer thrash metal, cantado em português e com muita personalidade. Rogener Pavinski (guitarra), Flávio Santana (guitarra), Fernando Henriques (baixo), e Luis Fregonezi (bateria), estarão em julho, no Festival Pandemia Rock 2019 do Sesc Birigui.

Batemos um papo com o guitarrista, que falou sobre curiosidades da banda e sobre o atual cenário do rock.

Eonline: A banda é conhecida no underground nacional pelo diferencial dos vocais em português, fala pra gente um pouco sobre essa proposta. E para os mais leigos, em que se inspira o conceito Thrash Metal?
O thrash metal é a união do punk rock/hardcore com o heavy metal. Isso criou um estilo onde a agressividade e velocidade se mesclam com arranjos mais elaborados do heavy metal. Nós trazemos todos esses elementos, mas com nossa personalidade na forma de compor. Eu acho que a música tem que contar uma história e isso não só nas letras, mas musicalmente também. Para leigos, é bom esclarecer também que thrash significa “um movimento violento e barulhento de algo batendo repetidamente”, o que é muitas vezes confundido com trash, cujo significado é “lixo”.

Cantamos em português indo na contramão do estilo que sempre preferiu cantar em inglês – algo que nunca concordei. Para mim não faz sentido cantar em outro idioma que o seu público não entende. A língua portuguesa é um idioma riquíssimo e maravilhoso. Infelizmente o brasileiro em geral ainda sofre da síndrome do vira-lata.

Eonline: Quais as principais influências da banda?
Cada músico tem sua gama próprias de influências que vão desde os clássicos como Black Sabbath e Jimi Hendrix, passando pelos grandes do thrash metal como Slayer e Metallica e a brasileira Dorsal Atlântica e inclui ainda outros estilos.

Eonline: Fala pra gente sobre o trabalho de vocês, como foi a caminhada até agora, como foi conquistar o espaço de vocês?
Com muita dedicação e perseverança, que é o título de umas das músicas do nosso novo disco Batismo Da Dor. Para nós, jovens do interior e da periferia, que nunca tivemos verdadeiro apoio da família e sempre tivemos que conciliar estudo e trabalho formal, a música sempre foi uma válvula de escape. Então nossa caminhada foi lenta, mas apesar das dificuldades, nunca desistimos.

Eonline: O trabalho Batismo da Dor, impressionou fãs e a crítica especializada, como foi receber esse feedback?
Foi uma conquista coletiva muito importante para nós. Pois foram 12 anos de intervalo entre o primeiro trabalho e este disco. É a prova que a perseverança valeu a pena. Foi construído com muito cuidado e carinho nesses últimos anos. Vê-lo sendo tão elogiado nos enche de orgulho e de motivação para continuar.

A gravação, mixagem e todo o trabalho de produção do disco levou 1 ano inteiro. Batismo da dor tem 10 faixas, sendo uma delas, versão nossa para a canção Mal Necessário, de Mauro Kwitko, conhecida pela interpretação de Ney Matogrosso lançada no álbum Feitiço de 1978.

Eonline: Teve alguma “tomenta” durante a carreira? Quais dificuldades acabaram alimentando a banda?
Houve muita dificuldade na pré-produção de Batismo da Dor. Uma semana antes do início das gravações, nó decidimos que não poderíamos continuar com o baterista que já estava conosco há 7 anos.

Então eu mandei uma mensagem para o Luis Fregonezi, um rapaz de então 20 anos de idade, que tocava com algumas bandas na noite na cidade, perguntando se ele poderia pelo menos gravar nosso disco, e se quisesse, também claro poderia entrar na banda.

Depois de apenas um mês ele já estava no estúdio gravando as 10 músicas, que não são músicas simples. E há quem diga que ele tirou as músicas batucando no sofá de casa. Felizmente o “Luizin” está conosco até hoje e estará no palco do Pandemia detonando nos tambores.

 

Eonline: E afinal, o nome Tormenta, como surgiu?
Eu estava olhando encartes de discos antigos e verifiquei um agradecimento a uma banda Tormenta. Eu achei esse nome incrível e verifiquei que se tratava de uma banda do ABC paulista que já não existia mais e como eu sou defensor da ecologia, reciclei o nome, em vez de criar um novo (risos). Era o que eu estava procurando, um nome que representasse algo forte, que tivesse um significado implícito.

Eonline: Como vocês enxergam o cenário da música hoje, há mais espaço pro rock? Quais as dificuldades?
Há muitas bandas com ótimo nível artístico, porém o mercado para a música mais pesada, como é o nosso caso, ainda carece de maior profissionalismo, faltam casas de shows, de produtores e de exposição midiática, que é inundada pela música vazia mercantilista. No meu ponto de vista, o fato da maioria das bandas de heavy metal cantarem em inglês também é outro fator que impede que o estilo cresça mais dentro do Brasil.

Contornar essa situação é até bem fácil para nós, pois não vivemos do circuito comercial. Nós estamos no underground onde os fãs sequer sabem quais são os hits do momento que as rádios da moda tocam. É um nicho próprio e peculiar onde as bandas se importam mais com a arte em si do que se encaixar em padrões pré-existentes ou em certos mercados.

O nosso público é apreciador de música, e isso o diferencia do cidadão comum padrão, que é o público-alvo do mercado da música popular. Este geralmente é afinizado ao tipo de música que é imposta pela TV e muitas vezes não se importa em procurar manifestações mais plurais das artes.

Indo mais além na sua pergunta, o que também muito nos preocupa no momento, além da falta de espaço, é o aumento de vozes que se levantam contra a liberdade de expressão. Isso vem crescendo na sociedade atualmente, geralmente impulsionado pelo fanatismo religioso. Felizmente existem ainda muitos festivais, que assim como o Pandemia, levam a proposta musical e artística do rock para o público em geral.

 

Serviço

A banda se apresenta no Festival Pandemia, no dia 20 de julho, a partir das 18h, na Praça João Pessoa em Araçatuba, grátis.